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Bolsa recua 18% mesmo com grau de investimento
Cenário externo desfavorável impede que mercado se beneficie de "promoção'
A exemplo de outros países,
ativos se apreciaram nos
meses pré-"investment
grade", mas logo perderam
fôlego com piora da crise
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Passada a euforia decorrente
da conquista do almejado grau
de investimento pelo Brasil, a
Bovespa se depreciou de forma
rápida e considerável. Desde
seu pico histórico alcançado
em 20 de maio, de 73.516 pontos, a Bolsa de Valores de São
Paulo sofreu um tombo de
18,2% -fechou a 60.148 pontos
na sexta-feira. O mesmo ocorreu com o risco-país, que bateu
em 179 pontos em 5 de junho e
agora voltou aos 241 pontos.
O cenário internacional desfavorável não permitiu que o
mercado brasileiro se mantivesse em rota de ganhos. Além
disso, analistas lembram que
investidores costumam se antecipar a notícias esperadas, como a do grau de investimento,
para depois realizarem lucros
previamente acumulados.
O índice internacional MSCI
mostra que os ativos brasileiros
tiveram boa apreciação nos três
meses que antecederam o grau
de investimento, para perder
fôlego nos meses seguintes. Curiosamente, esse movimento
foi presenciado por muitos países que passaram a ser considerados grau de investimento.
No caso do Brasil, houve valorização de 8,4% nos três meses anteriores ao recebimento
da primeira elevação da nota de
risco e queda de 8,1% no período posterior (até o último dia
10), segundo o MSCI.
O índice MSCI é calculado
pela MSCI Barra -que tem na
instituição financeira norte-americana Morgan Stanley seu
acionista majoritário- e considera a oscilação de ativos
(ações e outros títulos) dolarizados dos mercados de capitais
de vários países.
No caso da Rússia, que foi alçada a "investment grade" em
novembro de 2003, houve valorização dos ativos de 10,7% nos
três meses anteriores à promoção e queda de 19,2% nos três
meses seguintes. Para o México, que atingiu o "investment
grade" em março de 2000, o resultado foi de alta de 8% antes e
de baixa de 11,6% depois.
"É comum verificarmos o
mercado financeiro antecipar o
"investment grade", e, depois
que a elevação é finalmente
concedida, o desempenho [dos
ativos] acaba por ser igual ou
mesmo pior que antes [da concessão da nota]", afirma o economista Luis Fernando Lopes,
do Pátria Investimentos.
O Brasil recebeu pela primeira vez o "investment grade"
(grau de investimento), concedido pela agência de classificação de risco Standard & Poor's,
no último dia 30 de abril. Menos de um mês depois, seria a
vez da agência Fitch Ratings tomar a mesma decisão.
Quando um país é classificado como grau de investimento,
significa que se tornou um local
mais seguro para os investidores internacionais aplicarem.
Em outras palavras, os riscos de
o país dar calote diminuíram
consideravelmente. Dessa forma, esperava-se que o mercado
brasileiro recebesse um fluxo
expressivo de capital externo
após conquistar o grau de investimento, o que acabou por
ainda não ocorrer.
"Se o cenário internacional
estivesse menos tenso, poderíamos ter sentido um fluxo
mais favorável de recursos externos para o mercado brasileiro. Demos um pouco de azar,
pois, com dois selos de "investment grade" entramos no radar
de fundos de pensão pelo mundo que só podem aplicar em
mercados com essa característica", afirma Fábio Susteras,
economista do Private Bank do
banco Real.
"No caso do México, no período que recebeu o "investment grade", houve realmente
realização [de lucro] mais forte
após a conquista do selo."
Além da queda da Bolsa e da
saída de capital externo do pregão brasileiro, o desempenho
do risco-país aponta para a liquidação dos ativos nacionais.
O risco-país, medido pelo
banco JP Morgan Chase, é calculado a partir de uma cesta de
títulos da dívida negociados no
mercado internacional. Quando os investidores estão interessados e compram esses títulos, a pontuação do risco diminui. E vice-versa.
E o que tem se visto nas últimas semanas é o risco-país em
alta -ou seja, os investidores
estão se desfazendo dos títulos
brasileiros no exterior.
O risco atingiu sua menor
pontuação do ano no começo
de junho, quando ficou abaixo
de 180 pontos -indicativo de
que os papéis brasileiros estavam sendo bem procurados no
exterior. Mas o movimento se
inverteu, e o risco voltou a subir
e superar os 240 pontos.
"Com o atual cenário de crise, os gestores estão rebalanceando suas carteiras. A facilidade de alocação global favorece esses movimentos. O investidor vê que o setor bancário se
desvalorizou muito nos EUA,
por exemplo, e acaba vendendo
ações de bancos aqui para comprar de instituições financeiras
americanas", diz José Augusto
Miranda, chefe da mesa de operações da HSBC Corretora.
Calmaria no câmbio
Um fator interessante nesse
período crítico, bastante diferente de outros momentos de
volatilidade no mercado financeiro, é o desempenho do mercado de câmbio.
Apesar de toda a atual turbulência, o dólar não tem se apreciado diante do real. Na sexta-feira, a moeda norte-americana
encerrou vendida a R$ 1,602,
com depreciação acumulada de
9,85% em 2008.
No mês passado, o dólar desceu à faixa de R$ 1,59, em seu
mais baixo patamar desde janeiro de 1999, quando o governo, encurralado pela crise cambial, viu-se obrigado a liberar as
cotações da moeda.
Em 2002, quando o mercado
enfrentou um período de fortes
turbulências, motivadas pelas
incertezas dos investidores em
relação ao futuro do país, que
passava pelas eleições presidenciais que marcaram o fim
do governo FHC, o dólar disparou e encostou em R$ 4.
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