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Acionistas da Petrobras criticam mudanças
Temor é que intenção do governo federal de criar uma nova estatal para gerir campos do pré-sal prejudique a empresa
Minoritários ameaçam ir
à Justiça contra possíveis mudanças no setor que afetem o patrimônio e
os ganhos da Petrobras
DA SUCURSAL DO RIO
Acionistas minoritários da
Petrobras manifestaram sua
preocupação com a criação de
uma nova estatal para administrar as reservas do pré-sal e
ameaçaram até entrar com
ações na Justiça, caso o governo tome tal decisão.
Eles temem a desvalorização
dos papéis. Acionistas e analistas participaram ontem de reunião da Apimec (Associação
dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de
Capitais) para apresentação do
balanço da Petrobras.
"Infelizmente, a nova estatal
deverá ser aprovada, mesmo
contra o voto corajoso de Gabrielli", disse Gilberto Esmeraldo, que se classifica com um
dos mais antigos acionistas da
companhia.
Ele conclamou a estatal e a
Apimec a ser rebelarem contra
a possível decisão em estudo
pelo governo Lula -da qual o
presidente da Petrobras, José
Sérgio Gabrielli, já se manifestou publicamente contra.
O presidente da Apimec, Luiz
Fernando Lopes Filho, não
descartou a possibilidade de a
questão parar na Justiça. "Pode
ir para o Supremo [Tribunal
Federal] e se alongar durante
muito tempo, sim."
A Apimec reúne principalmente analistas de mercado,
mas suas reuniões com empresas são abertas ao investidores.
Ainda assim, o superintendente da Amec (Associação dos
Investidores no Mercado de
Capitais), Edson Garcia, foi
cauteloso. Disse apenas que está "acompanhando" a discussão, mas que não pensa em uma
ação imediata na Justiça. A entidade é a principal representante de acionistas minoritários no país.
"Estamos atentos a essa discussão. É um ativo importante
da Petrobras. Não vejo razão
para, na hora de gerar lucro, o
negócio ser transferido", afirmou ele.
Presente à reunião para detalhar o balanço da companhia, o
diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, afirmou
apenas que só falará de eventuais mudanças no marco regulatório para as áreas do pré-sal
após serem apresentadas as alternativas pela comissão interministerial constituída para estudar o assunto.
Nova estatal
No governo, ganha força a
idéia de criar uma nova estatal,
100% controlada pela União,
para gerir as reservas do pré-sal. Inicialmente, a nova empresa cuidará apenas dos campos que ainda não foram licitados -as descobertas já feitas ficariam com a Petrobras.
A Folha revelou no domingo
que o governo já decidiu que a
Petrobras não terá exclusividade na exploração do pré-sal.
Uma nova estatal, segundo
avalia o governo, teria o papel
de gestora dos contratos de
partilha de produção da área. A
operação dos campos ficaria
com a Petrobras e empresas
privadas.
O governo estuda ainda deixar de fora da próxima licitação
de blocos da ANP as franjas do
pré-sal, ou seja, áreas próximas
da nova província exploratória.
Para Álvaro Teixeira, secretário-executivo do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo),
"não faz sentido" colocar esses
blocos em leilão no momento
em que se discute mudanças no
marco regulatório. "Isso é normal, mas o importante é não
paralisar o processo de licitações de novas áreas, mesmo
distantes do pré-sal."
David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP no governo
FHC, afirma que já era previsto
que as áreas próximas ao pré-sal ficassem de fora das rodadas até que as novas regras sejam definidas. Ele se diz contrário, porém, à criação da nova
estatal. "Basta aumentar a participação especial [royalty incidente em campos de alta produtividade] por meio de decreto presidencial, o que já deveria
ter sido feito."
Já o consultor John Forman,
ex-diretor da ANP, diz que a
discussão sobre mudanças no
marco regulatório e o "esvaziamento" dos leilões para licitação de áreas comprometem os
investimentos já realizados. "É
no mínimo um desestímulo.
Afeta não apenas as grandes
operadoras, mas também toda
a cadeia do "offshore", como
empresas especializadas em levantamentos sísmicos."
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