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TCU vai investigar propaganda com Skaf
Para tribunal, recursos públicos não podem ser gastos com campanhas de promoção pessoal; Fiesp nega intenção
Fiesp diz que quer mostrar a importância do Sesi e do Senai e que as duas instituições são bancadas com recursos das indústrias
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O TCU (Tribunal de Contas
da União) vai investigar se o
presidente da Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo), Paulo Skaf, utiliza recursos públicos do Sesi e do Senai para se promover ao participar de campanha publicitária
dessas duas instituições.
Criada pela agência Ogilvy &
Mather Brasil, a campanha custou R$ 5,2 milhões (Sesi e Senai
dividiram o custo) e está no ar
nas principais emissoras de TV
aberta desde maio. Em uma segunda fase, a propaganda será
estendida para mídia impressa,
rádio e espaços publicitários
em ônibus e metrô.
Com a propaganda, a Fiesp
diz que quer informar a população a quem pertencem o Sesi e
o Senai, mantidos com recursos
das indústrias, e a importância
dessas instituições para os trabalhadores e para a população.
Segundo a federação, pesquisa de opinião pública constatou
que a população desconhece
que as duas instituições são
mantidas e administradas pelas indústrias e que há desconhecimento em relação ao trabalho realizado pelo Sesi e pelo
Senai.
A Folha procurou o TCU para saber se a campanha protagonizada por Skaf poderia ser
feita com recursos das instituições. O tribunal afirmou em tese que entidades públicas têm a
função de divulgar seus trabalhos por meio de campanhas
institucionais. Depois de assistir à propaganda, o TCU decidiu abrir investigação porque
avaliou que, no caso da campanha do Sesi e do Senai, há indícios de que possa haver promoção pessoal do presidente da
Fiesp. No meio empresarial,
comenta-se que Skaf tem pretensões políticas. Ele nega.
"A origem pública do dinheiro, o expressivo valor dos contratos de publicidade envolvidos e a possibilidade de descumprimento dos princípios
contidos no artigo 37 da Constituição Federal em especial os
da legalidade, impessoalidade e
moralidade, bem como a proibição de promoção pessoal prevista no parágrafo 1º do artigo
37 motivaram a abertura de um
processo de investigação por
parte do Tribunal de Contas da
União, que já está realizando as
diligências necessárias para a
apuração de todos os detalhes
relativos aos mencionados
contratos", afirma Marcos
Bemquerer Costa, ministro do
TCU, órgão que fiscaliza o uso
de recursos públicos.
A iniciativa de usar a imagem
de Skaf na propaganda veiculada na TV, segundo a Fiesp, partiu da agência de publicidade. A
federação afirma que a execução da campanha publicitária
foi aprovada nos conselhos
consultivos do Sesi e do Senai
em São Paulo -formados por
representantes dos empresários, dos trabalhadores e do governo- e que foi feita uma licitação com 12 agências de publicidade, com a Ogilvy sendo escolhida.
É a primeira vez que o presidente da Fiesp aparece em
campanha dessa forma para
defender o Sesi e o Senai.
"No passado, não havia motivos como os de agora para que
se fizesse algum tipo de publicidade [como a que está sendo
veiculada na TV]", afirma a
Fiesp por meio de sua assessoria de imprensa.
Defesa
Além de falar sobre quem administra o Sesi e o Senai, a campanha tem a função de defender as duas instituições de possíveis mudanças, diz a Fiesp.
Recentemente, o governo federal cogitou a possibilidade de
destinar parte dos recursos do
Sistema S ao ensino público.
A Ogilvy afirma que, além
dessa campanha, faz outros trabalhos para o Sesi e para o Senai e também para campanhas
da Fiesp.
A agência diz ainda que outras campanhas das duas instituições estão programadas,
mas não está prevista a participação de Skaf.
"A nossa equipe de criação
decidiu convidar o presidente
da Fiesp para dar relevância e
credibilidade às informações
que queríamos transmitir",
afirmou a Ogilvy por meio de
sua assessoria de imprensa.
Humberto Barbato, presidente da Abinee (indústria eletroeletrônica), afirma que a
campanha é legítima e importante "para mostrar para as
pessoas o que a indústria faz
pelo país, quem está por trás
dos milhões de atendimentos
gratuitos e de toda a qualidade
das escolas do Senai e do Sesi".
Sobre a questão política, afirma que, "mesmo se ele [Skaf] tivesse pretensões políticas, a
campanha seria válida". "O empresariado tem direito de ocupar determinada posição [no
cenário político]", afirma.
Ricardo Patah, presidente da
central sindical UGT, diz que
"os recursos do Sesi e do Senai
têm de ser usados para qualificação profissional, educação e
cultura, nunca com intenção
eleitoreira."
Na sua avaliação, se ficar
comprovado que houve intenção política na campanha do
Sesi e do Senai, deve haver punição às instituições.
Skaf ganhou projeção política durante o debate sobre a renovação da CPMF no final do
ano passado. A Fiesp, liderada
por ele, foi uma das principais
articuladoras e reuniu assinaturas contra o imposto do cheque, que acabou sendo derrubado no Senado.
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