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BC vai restringir empréstimos com recurso das reservas
Empresas brasileiras que tiverem dívidas com as matrizes no exterior não deverão ter acesso aos US$ 20 bilhões
Na avaliação do banco, se
financiasse empréstimos
entre matriz e filiais no país,
governo estaria dando crédito
a empresas estrangeiras
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As empresas brasileiras que
tiverem dívidas vencendo de
setembro do ano passado até
dezembro de 2009 com as matrizes no exterior não deverão
ter acesso aos US$ 20 bilhões
de dólares das reservas internacionais que o Banco Central
emprestará para compensar a
queda nos financiamentos oferecidos no mercado externo.
Segundo a Folha apurou,
uma das principais dificuldades em regulamentar essa nova
linha de financiamento é como
operar com bancos estrangeiros que não atuam no Brasil.
Nesses casos, a instituição financeira que receberá o dinheiro do BC não está sujeita à
legislação ou às regras de supervisão brasileiras.
Dessa forma, não há segurança de que o repasse será
realmente usado para refinanciar a dívida de uma companhia nacional nem que, no caso
de quebra da instituição financeira, o governo brasileiro não
terá prejuízos. O BC procura
contornar o problema com
cláusulas contratuais rígidas.
Esse problema não ocorrerá
quando o tomador dos dólares
for um banco brasileiro, mas o
BC considera impossível limitar a oferta para instituições
nacionais. Como o valor dos
empréstimos é elevado, o risco
dessas operações precisa ser
diluído entre várias instituições, o que torna inviável a
operação da linha só no Brasil.
"O compromisso do governo
é no sentido de repor aquela
parcela do crédito internacional que foi cortada para todos
os países, inclusive para o Brasil (...), como efeito da crise financeira", disse o presidente
do BC, Henrique Meirelles,
após encontro com empresários e representantes do setor
financeiro em Nova York. Segundo ele, os gastos das reservas podem superar US$ 20 bilhões se a demanda for maior.
Na avaliação do BC obtida
pela Folha, se financiasse os
empréstimos entre matriz no
exterior e filiais no Brasil, o governo estaria, na realidade, fazendo um empréstimo a empresas estrangeiras. É que o dinheiro repassado à filial no
Brasil tem origem numa operação entre a matriz e uma instituição financeira, e não numa
dívida contraída diretamente
pela companhia no Brasil.
Além disso, não haveria como
garantir que a companhia no
país teria seu empréstimo renovado com a matriz nas mesmas condições feitas pelo BC.
O estoque dos chamados empréstimos intercompanhias
tem subido nos últimos anos.
Segundo dados do BC, o estoque em novembro era de US$
64,8 bilhões. Em dezembro de
2007, era de US$ 47,3 bilhões.
Já as condições de financiamento das empresas no exterior pioraram muito desde setembro, quando a crise internacional se tornou mais aguda.
Em agosto, por exemplo, os setores público e privado conseguiram rolar 144% da dívida
-ou seja, tudo o que venceu e
ainda tomar novos empréstimos. Isso foi antes do auge da
crise financeira internacional,
que ocorreu em setembro, com
a quebra do quarto maior banco de investimento dos EUA, o
Lehman Brothers. Em novembro, apenas 22% dos vencimentos foram refinanciados.
Meirelles disse ontem que a
oferta de crédito doméstico já
retornou aos níveis anteriores
à crise no que se refere ao montante, mas que os custos continuam altos devido à queda da
oferta de crédito internacional.
"À medida que isso for completado [com a oferta de dólares
da reserva para as empresas],
vamos normalizar a oferta de
crédito geral e poderemos ver
onde irão se estabilizar os
"spreads" [diferença entre o
custo de captação do dinheiro e
o juro cobrado dos clientes], levando em conta as novas condições do mercado mundial."
Colaborou ANDREA MURTA, de Nova York
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