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RETOMADA/FUTURO
Para especialistas, desenvolvimento dependerá de infra-estrutura
País terá de investir para obter ganhos concretos da expansão
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A forte expansão do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro
semestre não garante ao país o
passaporte para o crescimento
sustentado. Tampouco ao desenvolvimento, entendido como o
resgate da imensa dívida social
acumulada nas últimas décadas.
A taxa de investimento, estimada em 18% do PIB, é insuficiente
para manter o ritmo atual da expansão da produção no longo
prazo. Economistas de diferentes
correntes, empresários e cientistas políticos ouvidos pela Folha
dizem que o crescimento sustentado demandará um processo de
cinco anos de aportes pesados do
Estado e das empresas na ampliação da infra-estrutura e da capacidade produtiva.
A trilha do desenvolvimento,
então, está ainda mais longe no
horizonte. Para escapar "do abraço do cadáver", como diz o cientista político Fábio Wanderley
Reis, 66, serão necessários dez
anos de investimentos maciços
em educação, saúde e pesquisa e
desenvolvimento tecnológico para aumentar a produtividade das
empresas. Governo, empresas, setor financeiro, todos têm um papel a cumprir nesse processo. E
todos eles estão atrasados.
O economista Gesner Oliveira,
professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que a taxa de
crescimento do "PIB potencial",
isto é, a capacidade de produção
da economia, é 3% ao ano. "Para
o PIB potencial passar para 4%, a
taxa de investimento teria de crescer quatro pontos percentuais,
chegando a 22% do PIB", diz ele.
Mas, segundo Oliveira, para isso o
país precisará ter uma estrutura
tributária mais racional.
"O crescimento sustentado exige mudanças estruturais e uma
postura menos provinciana dos
empresários, para que as empresas locais se internacionalizem
não apenas via exportações", diz
Edson Vaz Musa, dono da Caloi.
Segundo Musa, cerca de 30 empresas, apenas, têm filiais fora do
Brasil. "A internacionalização é a
melhor locomotiva para a inovação tecnológica, que é o que garantirá o futuro da empresa", diz.
Corte de gastos
Taxas maiores de investimento
vão exigir, também, um esforço
mobilizador do governo. E aí as
opiniões divergem. Para Gabriel
Jorge Ferreira, presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, "o governo precisa aprofundar o controle das
despesas correntes", para sobrar
recursos para investimentos.
Nessa conta estão incluídos os
gastos com pessoal, Previdência,
assistência social e saúde. "É preciso tratar com mais realismo essas despesas, que representam
90% dos gastos do governo", diz
Ferreira. Os cortes permitiriam,
segundo ele, uma "blindagem"
para evitar os altos e baixos do
crescimento econômico.
Mas o crescimento recalcitrante
é uma característica da economia
brasileira, segundo o economista
Fernando Cardim, professor da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro). "E a política macroeconômica do governo não
ajudava e continua não ajudando", diz o professor.
A manutenção de taxas de juros
altas e a meta de superávit primário fixada em 4,25% do PIB constituem impedimentos ao crescimento sustentado, afirma.
A "blindagem" que Cardim sugere para dar sustentação ao crescimento é polêmica. "A retomada
dos investimentos públicos, no
curto prazo, passa por algum tipo
de renegociação da dívida interna", afirma. Segundo o professor,
se o governo reduzisse o superávit
primário -usado para pagar juros da dívida- para 3,5% do PIB,
liberaria R$ 15 bilhões para investimentos. O valor é o triplo do que
o governo investirá neste ano.
Segundo Cardim, o governo
tem de tomar a iniciativa e não
pode ficar esperando que o setor
privado invista só com a adoção
de medidas pontuais como a recente desoneração tributária dos
bens de capital.
"A médio prazo, é preciso criar
formas de financiamento privado, pois os bancos não financiam
as empresas, e, sim, o governo."
Um caminho seria o da securitização de dívidas do setor privado,
com a colocação de novos tipos de
títulos no mercado, que pagariam
juros menores que os dos bancos.
Produtividade
Se o caminho para o crescimento sustentado é polêmico, os rumos do desenvolvimento são um
consenso entre os analistas. "Não
temos como escapar da herança
escravista que sufoca o país e que
tem sua tradução na desigualdade
social, se não houver um investimento maciço e dramático na
educação", afirma o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
A forte correlação entre o conhecimento e o crescimento econômico tem sido subvalorizada
no país, segundo o físico Carlos
Henrique Brito Cruz, reitor da
Unicamp.
Ele diz que é a tecnologia que
permitirá ao país avançar. "Quando se decompõe a taxa de crescimento anual de uma economia,
verifica-se que um terço dela deriva de produtividade, ou seja, de
tecnologia e do conhecimento",
diz. O restante vem do capital e da
mão-de-obra.
O problema é que o Brasil investe apenas 1,05% do PIB em pesquisa e desenvolvimento -e o
Estado responde por 70% desse
total. Nos países desenvolvidos e
na Ásia, o investimento é de 2,5%
ou 3% do PIB, e a proporção é
exatamente inversa.
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