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MARÉ BAIXA
Para centro de pesquisa britânico, preços das commodities ficarão estagnados; impacto na economia brasileira é incerto
Comércio esfria em 2005 e ameaça emergente
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O preço das commodities no
mercado internacional deve encerrar 2004 com uma alta acumulada de 14%. Mas, em 2005, a cotação desses produtos deve permanecer estagnada.
As projeções são da EIU (Economist Intelligence Unit), braço
de pesquisas econômicas do grupo britânico que edita a revista
"The Economist". Os cálculos excluem o petróleo.
Há outro prognóstico também
que não é lá muito alentador para
os países emergentes, sobretudo
aqueles que tiveram o crescimento da economia sustentado pelas
exportações.
O recuo dos preços das commodities será acompanhado de um
declínio do ritmo de expansão do
comércio global. Neste ano, espera uma taxa de crescimento de
8,6%. Em 2005, 7,4%.
Segundo Emily Morris, economista-sênior para a América Latina da EIU, os efeitos de um desempenho neutro do mercado internacional de commodities ainda não são claros. "Não sabemos
ainda que impacto isso poderia
ter para o Brasil. A cesta de exportações brasileiras é muito complexa e diversificada", avaliou.
Para este ano, a EIU calcula que
o país acumulará um superávit na
balança comercial de US$ 26,4 bilhões. Confirmada a previsão, o
resultado colocará o Brasil na
quarta colocação entre os países
emergentes com maior saldo de
exportações.
O levantamento, feito a pedido
da Folha, mostra que Arábia Saudita, Rússia e China ficam, respectivamente, nas três primeiras posições. Os dois primeiros países
contam com um grande volume
de vendas externas de petróleo
por trás do desempenho positivo.
A previsão do centro britânico
de pesquisas é mais conservadora
que as estimativas do ministro do
Desenvolvimento brasileiro, Luiz
Fernando Furlan. Na última sexta-feira, Furlan elevou a meta de
exportação do ano de US$ 88 bilhões para US$ 90 bilhões. A do
superávit passou de US$ 28 bilhões para US$ 30 bilhões.
"O desempenho do saldo do
Brasil é impressionante, mas o
país se beneficiaria de um aumento das importações", diz Morris.
Neste ano, o Brasil deve importar
US$ 58,3 bilhões. Em 2005, US$
63,1 bilhões. O ímpeto importador brasileiro ainda não deve
comprometer o saldo comercial.
No próximo ano, o superávit deve
atingir US$ 26,6 bilhões, ainda segundo a EIU.
Menor vulnerabilidade
A dinâmica das exportações
brasileiras tem ajudado o Brasil a
superar a sua vulnerabilidade externa. Na avaliação de Morris, a
blindagem contra choques externos está mais reforçada, mas a relação entre a dívida externa do
país e as vendas externas ainda
não vai tão bem.
De acordo com a EIU, essa relação está se estreitando, mas ainda
é alta em comparação com os demais emergentes. Em 2004, a dívida externa líquida deverá ficar em
torno de duas vezes as exportações brasileiras de bens e serviços.
"A economia brasileira ainda não
é muito aberta em relação aos outros países emergentes, mas ela
tem potencial para um incremento dessa abertura", diz.
Sobre o impacto da dívida na
cotação do real, a economista argumenta que: "Esse peso da dívida tem feito a moeda brasileira
subvalorizada. (...) Isso, em parte,
explica a competitividade das exportações do Brasil".
Se o caminho do crescimento
do PIB (Produto Interno Bruto)
do Brasil poderá ser atrapalhado
por um cenário externo menos favorável, a boa notícia, diz a economista, é que o setor doméstico vai
consolidar a retomada. Isso, explica Morris, sustenta a previsão
de aumento das importações.
Mesmo com o aspecto doméstico positivo, a previsão de menor
dinamismo do comércio mundial
afeta a estimativa de crescimento
do PIB. Para este ano, a EIU projeta 4%. No próximo ano, 3,1%.
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