|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Hidrogênio é candidato a combustível do futuro
WOLFGANG REITZLE
DO "FINANCIAL TIMES"
O aquecimento global e o declínio das reservas de combustível
fóssil estão erodindo um dos pilares do desenvolvimento econômico -o consumo de energia. As
necessidades energéticas de populações e economias em crescimento não podem mais ser supridas por um abastecimento incerto de petróleo.
Recentemente, EUA, Japão,
China e União Européia se voltaram para a tecnologia de hidrogênio como o mais provável alicerce
do desenvolvimento continuado.
O hidrogênio, o elemento mais
abundante no universo, tem excelentes propriedades tanto como
combustível quanto como transmissor de energia.
Quando combinado com uma
célula de combustível, o hidrogênio oferece uma produção de eletricidade silenciosa e de alta eficácia. Mais significativo é que se poderia abrir o caminho para uma
energia sem emissões em toda
parte, de casas até carros. Nenhuma tecnologia isolada oferece
oportunidades tão amplas.
A conclusão fundamental de
um relatório de 500 páginas da
Academia Nacional de Ciências
dos EUA foi que "o hidrogênio
tem o potencial para substituir essencialmente toda a gasolina e eliminar quase todo o CO das emissões de veículos nos próximos 50
anos" e que um programa de pesquisa com esse objetivo é "importante" para o país.
Ele acrescentou que o hidrogênio deveria fazer parte de um
"portfólio equilibrado de iniciativas de P&D" (pesquisa e desenvolvimento), incorporando mais
pesquisas em veículos totalmente
elétricos, combustíveis híbridos e
sintéticos. Essa é uma conclusão
justa e válida. Todas as novas tecnologias terão uma parte a desempenhar quando deixarmos
para trás a bomba de gasolina.
Aposta
O investimento substancial feito
pelos fabricantes de automóveis,
companhias de gás, o setor de
energia e os governos melhorou o
desempenho dos veículos com células de combustível de hidrogênio. Depois do sucesso de tentativas na Europa, serviços de ônibus
com células de combustível começarão a funcionar em Pequim
no próximo ano. Mesmo com o
conhecimento existente, qualquer frota comercial poderá ser
movida a hidrogênio em curto
prazo. Aviões, trens, barcos, caminhões e empilhadeiras movidos a célula de combustível estão
em desenvolvimento. Em abril, o
estaleiro HDW lançou o primeiro
de uma nova série de submarinos
movido parcialmente por células
de combustível.
Onde isso deixa os 500 milhões
de carros do mundo? Em muitos
países, os maiores aumentos nas
emissões de CO vêm de veículos
leves. O número de carros deverá
aumentar para mais de 2 bilhões
até 2030, principalmente devido
ao crescimento na Ásia. Nos EUA
e no Japão, as vendas iniciais de
carros híbridos demonstraram
que já existe uma demanda do
consumidor por tecnologias verdes. Os governos estão certos ao
considerar o hidrogênio um substituto potencial para o combustível dos veículos.
Os críticos afirmam que o armazenamento e a produção de hidrogênio não estão suficientemente desenvolvidos para que os
veículos com célula de combustível sejam adotados e para que essas tecnologias sejam economicamente viáveis.
Enquanto o hidrogênio terá um
papel na segunda metade do século, dizem os críticos, desafios
significativos precisam ser superados. É verdade, especialmente
para os carros. Mas levantar objeções de custos a uma tecnologia
que ainda está em desenvolvimento faz pouco sentido enquanto o preço do petróleo sobe.
Apesar das interrupções de
abastecimento, se a produção de
petróleo chegar ao pico antes de
2010 -conforme prevê o Centro
de Análises do Esgotamento de
Petróleo, um instituto independente do Reino Unido-, as pressões de abastecimento aumentarão exponencialmente.
A aquisição febril dos estoques
remanescentes poderá desligar o
motor que movimenta a economia mundial. No ritmo em que
estamos consumindo, o barril
não está cheio pela metade -está
vazio pela metade. Se deixarmos
as decisões sobre uma alternativa
para a segunda metade do século,
será tarde demais.
Custos
Os críticos podem reagir aos
custos estimados de uma infra-estrutura de hidrogênio -US$ 12
bilhões para abastecer 70% da população americana, segundo a
General Motors-, mas considere
que, no mês passado, a Câmara de
Deputados dos EUA propôs um
orçamento de US$ 275 bilhões para melhorar as estradas nos próximos seis anos.
A infra-estrutura inicial de hidrogênio exigiria de 20 a 30 anos
de investimentos. A do petróleo
-de equipamentos de perfuração a postos de gasolina- pode
ter nos servido nos últimos 80
anos, mas terá custado ao mundo
trilhões de dólares. O resultado
dos primeiros poucos bilhões de
dólares em pesquisa, uma fração
dessa soma, nos permitirá planejar o caminho a seguir. Cada dólar
gasto em hidrogênio nos poupará
muitos mais quando começar a
corrida final do petróleo.
Wolfgang Reitzle é executivo-chefe
da Linde, cuja divisão de gás está envolvida na produção, armazenamento e
distribuição de hidrogênio.
Tradução de Luiz Roberto Mendes
Gonçalves
Texto Anterior: Barril de pólvora: Impotente, Opep vê recordes do petróleo Próximo Texto: Decoração: Entrega do IR de isentos começa amanhã Índice
|