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FINANÇAS
Retorno sobre o patrimônio passa de 6% a 37% em 2001 para 22% a 56% neste ano; alta do dólar é o principal fator
Banco estrangeiro triplica rentabilidade
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Beneficiados principalmente
pela alta do dólar, os principais
bancos estrangeiros conseguiram, em média, triplicar o retorno
do patrimônio que têm investido
no Brasil neste ano.
A chamada rentabilidade sobre
o patrimônio líquido (PL) das instituições internacionais com
maior porte no país tem variado
entre 22% e 56% neste ano, segundo levantamento feito pela
ABM Consulting a pedido da Folha (em 2001, esse indicador oscilou entre 6% e 37%).
Isso significa que, para cada R$
100 investidos no país, esses bancos tiveram retornos entre R$ 22 e
R$ 56.
Salto
O enorme salto é explicado
principalmente, segundo analistas, pelos altos ganhos que os bancos estrangeiros conseguiram
com a desvalorização do real neste ano, que chega a 61,6%.
"Isso é consequência da estratégia da tesouraria desses bancos de
apostar na desvalorização do real
e também de proteger seu patrimônio", afirma João Augusto Salles, analista do setor bancário da
consultoria Lopes Filho.
Ganhos com a compra de títulos
públicos, remunerados por juros
altos, e maiores receitas com serviços bancários -cujas tarifas
dispararam neste ano- também
contribuíram para a rentabilidade
maior dos bancos estrangeiros.
"As receitas crescentes com serviços também têm contribuído
para a melhora na rentabilidade",
afirma Erivelto Rodrigues, sócio
da Austin Asis.
Provisões
Aparentemente, os principais
bancos nacionais estiveram na
contramão dessa tendência. Os
dados dos balanços de setembro,
anualizados, mostram que Bradesco, Itaú e Unibanco têm conseguido, neste ano, rentabilidade
menor ou igual em relação a 2001.
No entanto, segundo analistas,
não fossem as enormes provisões
feitas por essas instituições, sua
rentabilidade também estaria nas
alturas neste ano.
O objetivo era se proteger contra possíveis perdas caso os ganhos que obtiveram com a alta do
dólar se transformassem em prejuízo num eventual cenário de valorização do real no último trimestre.
Como isso não ocorreu, provavelmente essas provisões serão revertidas. E tanto os lucros como a
rentabilidade dos bancos nacionais tendem a aumentar consideravelmente.
"Os bancos nacionais fizeram
provisões altas para se prevenir
contra uma possível valorização
do real. Trabalharam com a hipótese de o câmbio voltar para R$
2,80. Mas a cotação continua acima de R$ 3,70", diz Salles.
Para Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira das Associações de
Bancos), a melhor rentabilidade
dos bancos estrangeiros neste ano
é explicada pela maior margem
de manobra que têm para proteger seu patrimônio.
"Os bancos estrangeiros têm,
por uma questão de necessidade,
um limite maior para fazer operações de hedge (proteção) cambial
do seu patrimônio", afirma.
Troster faz a ressalva de que,
apesar da melhora da rentabilidade dos bancos estrangeiros até setembro, não há garantia de que
essa tendência seja mantida nos
balanços definitivos do ano.
A maioria dos analistas, no entanto, aposta que os bancos estrangeiros encerrarão o ano com
rentabilidade alta. E mais: que o
resultado dos bancos nacionais
também tende a melhorar.
A maturação de investimentos
feitos pelas instituições estrangeiras para aumentar a eficiência dos
bancos que compraram no Brasil
também é citada como motivo
para a rentabilidade crescente.
"Os bancos estrangeiros investiram muito em tecnologia desde
que entraram no país. Isso começa a se traduzir em maior eficiência e melhor rentabilidade", diz
Salles.
Exterior
Mas é a combinação entre câmbio desvalorizado e juros altos
que faz com que os bancos estrangeiros sejam mais rentáveis no
Brasil do que no resto do mundo.
Dados da ABM Consulting
mostram que a rentabilidade sobre o PL das instituições estrangeiras no mundo é bem menor do
que a alcançada no Brasil.
O Citigroup, por exemplo, estava com retorno sobre o PL de 21%
até setembro, percentual bem inferior ao atingido pelo Citibank
no Brasil, de 50%. No caso do
Santander Banespa, o indicador
de rentabilidade aponta 56% para
o resultado no Brasil contra 12%
no mundo.
"Os bancos precisam de menos
capital investido para ter retornos
altos no Brasil porque ganham
emprestando a taxas de juros
muito altas", diz Alberto Borges
Matias, sócio da ABM Consulting.
Procurados pela Folha na última sexta-feira, Santander, ABN-Amro, Citibank e HSBC informaram que não tinham disponibilidade para conceder entrevista sobre esse assunto naquele dia.
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