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ECONOMIA BOMBARDEADA
Moeda dos EUA perdeu valor perante a da UE e pode deixar de ser referência nesse tipo de negócio
Euro pode tirar "dolarização" do petróleo
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A possibilidade de uma nova intervenção militar dos Estados
Unidos no Oriente Médio e o fortalecimento do euro em relação à
moeda norte-americana reavivaram as especulações sobre uma
possível substituição, no futuro,
do dólar pela moeda européia como referência para negociações
com petróleo.
A discussão não é nova. Seus ingredientes é que mudaram.
Nos últimos 12 meses, o dólar
perdeu 25% de seu valor em relação ao euro. Ao mesmo tempo,
países produtores de gás e petróleo do mundo árabe têm alcançado volumes crescentes de comércio com a União Européia.
A adoção do euro como referência, nesses casos, eliminaria
eventuais prejuízos com a flutuação do dólar e o pagamento de taxas para a conversão de divisas.
""A valorização do euro pode,
efetivamente, mudar as regras do
jogo", disse à Folha Youssef Ibrahim, da Energy Intelligence, órgão dos EUA especializado em
publicações e análises na área de
petróleo desde a década de 50.
""Para países que vendem gás e
petróleo para a Europa e compram a maior parte de seus produtos da região, certamente a negociação em euro começa a fazer
sentido", diz Ibrahim. Segundo
ele, Irã, Rússia e Argélia se enquadram nesse perfil.
O Irã, colocado pelos EUA no
"eixo do mal" junto de Iraque e
Coréia do Norte, já ensaiou por
duas vezes trocar o dólar pelo euro nas negociações de seu óleo.
Cerca de 35% das vendas de petróleo do país são para a Europa.
A Rússia, atualmente o maior
produtor de óleo do mundo, já
iniciou tratativas para negociar
em euros com a Alemanha em
operações no mercado futuro.
Em discurso proferido na Espanha em abril do ano passado, Javad Yarjani, chefe do departamento de análises da Organização
dos Países Produtores de Petróleo
(Opep), disse que sua organização "não descartaria a possibilidade" de adotar o euro como
moeda no futuro.
À época, Yarjani ressaltou que a
hipótese dependeria, em boa medida, da "valorização e da estabilidade" do euro.
Em entrevista à "Folha de Viena", Áustria, na semana passada,
Yarjani afirmou que a decisão de
fazer a transição do dólar para o
euro depende, em boa medida,
"dos países que produzem e vendem petróleo e do seu volume de
negócios com países europeus".
Cerca de 45% das importações
de bens e produtos dos países-membros da Opep provêm hoje
da União Européia -que, por
sua vez, compra a maior parte de
seu óleo dos sócios do cartel.
Yarjani afirma que uma eventual mudança teria de abranger
também as várias Bolsas do mundo que negociam petróleo denominado em dólares. ""Não é uma
tarefa fácil, pois trata-se de uma
questão histórica", diz.
A hipótese de substituição do
dólar pelo euro nesse ramo equivaleria ao pior pesadelo econômico possível para os EUA.
A dolarização do petróleo é uma
das chaves para o sucesso econômico americano. Países que importam petróleo normalmente
são obrigados a manter grandes
reservas de dólares. E os que exportam tendem a investir os dólares que ganham nas vendas diretamente nos EUA.
O volume de dólares circulando
na economia mundial, algo em
torno de US$ 3 trilhões, permite
aos Estados Unidos manterem
déficits comerciais permanentes.
Se a transição para o euro ocorresse, a moeda comum européia
tenderia a se valorizar mais, já que
mais países a comprariam para
pagar pelo óleo. Consequentemente, o dólar viria abaixo.
Atualmente, um único país vende petróleo em euros, o Iraque
-daí também boa parte das especulações de que os EUA planejam a invasão por causa do óleo.
Mas o fato é que o Iraque só recebe o valor de suas vendas em euros. A cotação ainda é denominada em dólares.
Segundo Yarjani, dois outros fatores poderiam impulsionar a
troca do dólar pelo euro: se os
dois maiores produtores de petróleo da Europa, Reino Unido e
Noruega, adotassem o euro; e se
boa parte dos bancos centrais
mundiais substituísse reservas
em dólares por euros.
A valorização da moeda européia, no entanto, pode gerar o
efeito inverso. "Há dois anos, o
óleo estava caro para os europeus.
Agora eles levam uma enorme
vantagem ao pagar em dólares",
diz Yarjani.
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