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JOGO DE NÚMEROS
Resultados contraditórios e falta de pesquisas no interior criam dúvidas sobre rumos do mercado de trabalho
Apagão estatístico distorce dados de emprego
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Metodologias diferentes e um
apagão estatístico no interior do
país distorcem os dados sobre desemprego no Brasil e transformam esses números em instrumento de uso político.
O governo federal anuncia, mês
a mês, o crescimento de empregos
formais no país -principalmente no interior-, com base em dados do Caged (Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados).
Já o IBGE, a Fundação Seade e o
Dieese ressaltam o crescimento
do desemprego, a partir de pesquisas feitas em regiões metropolitanas com base em entrevistas
na casa dos trabalhadores.
A seis meses das eleições municipais, a falta de sintonia desses
indicadores leva governo e oposição a utilizarem os resultados de
cada uma dessas pesquisas de
acordo com seus interesses. O governo ressalta o aumento do emprego. A oposição, a falta deles.
O principal foco dessa confusão
deve-se ao fato de que não há pesquisas mensais que mostrem
quantas pessoas trabalham, procuram por vagas e perdem o emprego fora das metrópoles.
O Caged, único indicador mensal que cobre o interior, não se
presta a essa função por estar restrito ao setor privado formal e ser
apenas um cadastro de dados, e
não uma pesquisa.
Todas as empresas são obrigadas a informar mensalmente ao
Caged o volume de admissões e
demissões. O problema é que elas
geralmente atrasam a entrega de
dados, ou deixam de informá-los.
"Hoje, o Caged é um registro
administrativo", diz Claudio Dedecca, professor e pesquisador do
Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho),
da Unicamp. "Para fazer do Caged um indicador de emprego, o
governo teria de definir uma
amostra de empresas. Como o
número de estabelecimentos que
enviam os dados varia de mês a
mês, não dá para saber se o número de vagas criadas ou eliminadas
foi de fato o divulgado."
Na década de 80, Dedecca colaborou para a criação do Caged.
Entre 1985 e 1989, trabalhou na
Fundação Seade.
À falta de números confiáveis
sobre o interior, sobram opiniões.
"As regiões do interior do Brasil
geraram o dobro de vagas das regiões metropolitanas, onde o problema do desemprego está concentrado", disse o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, ao
participar em abril do encontro
anual do FMI (Fundo Monetário
Internacional), em Washington.
Para o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, isso é
"conversa fiada". "Não há oferta
de emprego nem no interior nem
na região metropolitana. O desemprego é generalizado." O sindicalista é pré-candidato pelo
PDT à Prefeitura de São Paulo.
Mas não é só a falta de dados sobre o emprego no interior que
distorce o retrato do mercado de
trabalho no Brasil: indicadores
apontam resultados contraditórios também em algumas regiões
metropolitanas.
A divergência entre os índices
fica mais evidente no primeiro trimestre deste ano, quando se analisa o emprego na indústria de
transformação da região metropolitana de São Paulo.
De acordo com a PED (Pesquisa
de Emprego e Desemprego), da
Fundação Seade e Dieese, foram
cortadas 37 mil vagas; segundo o
Caged, foram criadas 13.541 vagas. No Estado, a Fiesp constatou
a abertura de 13.381 empregos
formais -número semelhante ao
verificado pelo Caged apenas na
Grande São Paulo.
A bagunça de números foi tamanha que o Ministério do Trabalho já prepara uma nota técnica
para explicar que as diferenças
nas metodologias provocam números discrepantes.
A Folha apurou que a principal
preocupação do governo federal é
que as empresas freiem ainda
mais seus investimentos devido à
contradição de indicadores.
Para Paula Montagner, gerente
da Fundação Seade, a diferença
dos números pode estar dentro da
margem de erro da PED. "O nosso número de vagas fechadas [37
mil] está dentro da margem de erro, que é de 2,5% em um universo
de cerca de 1 milhão de ocupados
na indústria da região metropolitana de São Paulo."
Para a Fiesp, a explicação são os
universos diferentes. "Nossos dados são referentes a 47 sindicatos
do Estado", diz Claudio Vaz.
O secretário do Trabalho da
Prefeitura de São Paulo, Marcio
Pochmann, admite que o desemprego se tornou um tema político.
"Os índices viraram uma medida
de avaliação do governo."
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