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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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Bancos tiram US$ 523 mi do país com venda de filiais e remessas

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No primeiro semestre deste ano, os bancos estrangeiros retiraram US$ 523 milhões que estavam investidos no país, segundo dados do Banco Central. O valor se refere às multinacionais que venderam suas filiais brasileiras e mandaram o dinheiro de volta às suas matrizes.
Desde o final do ano passado já se notava uma forte desaceleração no ingresso de investimento estrangeiro direto no país. Entre os principais setores da economia, porém, os bancos foram os únicos que, neste ano, não só investiram menos no Brasil como também pegaram de volta parte do dinheiro que haviam investido.
Mesmo em setores que sofrem com a falta de investimentos, como o de infra-estrutura, a entrada de recursos ficou positiva. No semestre, foram investidos US$ 226 milhões em energia, contra US$ 883 milhões nos primeiros seis meses do ano passado. No caso da telefonia, os investimentos caíram de US$ 2,8 bilhões para US$ 306 milhões.
No caso dos bancos, porém, o ingresso de US$ 648 milhões registrado no ano passado se transformou numa fuga de US$ 523 milhões neste ano.
De acordo com o último levantamento feito pelo BC sobre o assunto, em 2000 os estrangeiros possuíam US$ 14 bilhões investidos no setor bancário do país.
Só neste ano, já deixaram o Brasil o BBV (Espanha), Banco Fiat (Itália) e o Mizuo Corporate Bank (Japão), que, desde os anos 80, era acionista do Unibanco.
Para Alberto Borges Matias, sócio-diretor da ABM Consulting e professor da USP, a forte concorrência do mercado nacional é um dos fatores que explicam a saída.
No Brasil, as maiores redes de agências estão nas mãos dos bancos nacionais, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco e Itaú. "Às vezes na Europa inteira um estrangeiro não tem uma rede como a que o Banco do Brasil tem aqui", diz Matias.
Além disso, as perdas dos bancos com as crises enfrentadas por outros países emergentes, como a Argentina, acabaram espantando os estrangeiros da América Latina e, consequentemente, do Brasil. "O Brasil acaba pagando pelos pecados dos outros", afirma.
Ainda que não estejam mais investindo na abertura de agências ou na aquisição de bancos nacionais, os estrangeiros continuam operando de maneira constante no mercado financeiro.
Segundo dados do BC e do Tesouro Nacional, os estrangeiros compraram cerca de 25% do total de títulos emitidos pelo governo no primeiro semestre do ano. É praticamente a mesma proporção registrada entre janeiro e junho de 2002.
As operações com títulos da dívida pública são bastante rentáveis devido aos elevados juros praticados no Brasil. Grande parte dos papéis em circulação no mercado é remunerada pela taxa Selic, hoje em 24,5% ao ano.
Para Matias, porém, as altas taxas de juros não são suficientes para, no longo prazo, manter o interesse dos bancos estrangeiros no país. "Lá fora, os bancos estão acostumados a se concentrar nas operações de crédito. No Brasil, a prioridade são os títulos públicos", afirma.
Segundo ele, as aplicações em papéis do governo são percebidas como bastante arriscadas, pois, no longo prazo, nada garante que os juros continuarão em patamares elevados. E o cenário de longo prazo é um dos mais importantes quando uma empresa decide (ou não) fazer um investimento direto no país.


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