|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bancos tiram US$ 523 mi do país com venda de filiais e remessas
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No primeiro semestre deste
ano, os bancos estrangeiros retiraram US$ 523 milhões que estavam investidos no país, segundo
dados do Banco Central. O valor
se refere às multinacionais que
venderam suas filiais brasileiras e
mandaram o dinheiro de volta às
suas matrizes.
Desde o final do ano passado já
se notava uma forte desaceleração
no ingresso de investimento estrangeiro direto no país. Entre os
principais setores da economia,
porém, os bancos foram os únicos
que, neste ano, não só investiram
menos no Brasil como também
pegaram de volta parte do dinheiro que haviam investido.
Mesmo em setores que sofrem
com a falta de investimentos, como o de infra-estrutura, a entrada
de recursos ficou positiva. No semestre, foram investidos US$ 226
milhões em energia, contra
US$ 883 milhões nos primeiros
seis meses do ano passado. No caso da telefonia, os investimentos
caíram de US$ 2,8 bilhões para
US$ 306 milhões.
No caso dos bancos, porém, o
ingresso de US$ 648 milhões registrado no ano passado se transformou numa fuga de US$ 523
milhões neste ano.
De acordo com o último levantamento feito pelo BC sobre o assunto, em 2000 os estrangeiros
possuíam US$ 14 bilhões investidos no setor bancário do país.
Só neste ano, já deixaram o Brasil o BBV (Espanha), Banco Fiat
(Itália) e o Mizuo Corporate Bank
(Japão), que, desde os anos 80, era
acionista do Unibanco.
Para Alberto Borges Matias, sócio-diretor da ABM Consulting e
professor da USP, a forte concorrência do mercado nacional é um
dos fatores que explicam a saída.
No Brasil, as maiores redes de
agências estão nas mãos dos bancos nacionais, como Banco do
Brasil, Caixa Econômica Federal,
Bradesco e Itaú. "Às vezes na Europa inteira um estrangeiro não
tem uma rede como a que o Banco do Brasil tem aqui", diz Matias.
Além disso, as perdas dos bancos com as crises enfrentadas por
outros países emergentes, como a
Argentina, acabaram espantando
os estrangeiros da América Latina
e, consequentemente, do Brasil.
"O Brasil acaba pagando pelos pecados dos outros", afirma.
Ainda que não estejam mais investindo na abertura de agências
ou na aquisição de bancos nacionais, os estrangeiros continuam
operando de maneira constante
no mercado financeiro.
Segundo dados do BC e do Tesouro Nacional, os estrangeiros
compraram cerca de 25% do total
de títulos emitidos pelo governo
no primeiro semestre do ano. É
praticamente a mesma proporção
registrada entre janeiro e junho
de 2002.
As operações com títulos da dívida pública são bastante rentáveis devido aos elevados juros
praticados no Brasil. Grande parte dos papéis em circulação no
mercado é remunerada pela taxa
Selic, hoje em 24,5% ao ano.
Para Matias, porém, as altas taxas de juros não são suficientes
para, no longo prazo, manter o interesse dos bancos estrangeiros
no país. "Lá fora, os bancos estão
acostumados a se concentrar nas
operações de crédito. No Brasil, a
prioridade são os títulos públicos", afirma.
Segundo ele, as aplicações em
papéis do governo são percebidas
como bastante arriscadas, pois,
no longo prazo, nada garante que
os juros continuarão em patamares elevados. E o cenário de longo
prazo é um dos mais importantes
quando uma empresa decide (ou
não) fazer um investimento direto no país.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|