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LUÍS NASSIF
A UE e as estratégias comerciais
Discussão de acordos comerciais não é desafio banal. Pode determinar a conquista ou a perda do futuro de economias nacionais. No século 18,
Portugal sacrificou seu futuro
por conta de um acordo comercial malfeito, que permitiu à Inglaterra se transformar na
maior potência de sua época. A
Inglaterra propôs a Portugal reduzir tarifas de importação de
produtos ingleses (que tinham
sido consideravelmente aumentadas), equiparando-as novamente às dos demais países. Em
troca, abriu o mercado inglês aos
vinhos portugueses, por alíquotas inferiores às dos concorrentes
franceses.
Na prática, as manufaturas inglesas invadiram Portugal, arrasando a indústria manufatureira local. Com o ouro recebido em
pagamento, a Inglaterra comprou tecidos da Índia, mas não
para consumo interno -porque
prejudicaria sua própria indústria, menos competitiva que a
indiana. Utilizou-os para trocar
por matérias-primas de outros
países europeus. A matéria-prima, industrializada, permitiu o
sucesso do modelo inglês.
Foi necessário historiadores
para estabelecerem relações de
causalidade entre o apogeu do
Império Britânico e o acordo comercial com Portugal. Os cabeças de planilha da época apregoavam que o governo inglês tinha atropelado a nova ciência
econômica, ao substituir uma
operação simples (adquirir vinhos de Portugal) por uma
triangulação complexa.
O grande problema do Brasil é
que o mundo atual é imensamente mais complexo. E há pouquíssimos especialistas do setor
privado ajudando a pensar as
estratégias.
Um deles é Pedro de Camargo
Neto, responsável pelos primeiros painéis abertos no âmbito da
OMC (Organização Mundial do
Comércio) contra subsídios agrícolas de países desenvolvidos.
Em sua opinião, há duas lutas
em curso contra o protecionismo: acesso a mercados e combate aos subsídios agrícolas. Para
ele, o Ministério das Relações
Exteriores deveria rever a estratégia de priorizar o confronto
com a União Européia no campo
do acesso a mercado. Deveria
deixar essa discussão para o âmbito do acordo bilateral do Mercosul.
A UE é a principal cliente de
agricultura brasileira. As disputas levam a um desgaste nas relações comerciais, em um quadro de vulnerabilidade sanitária
do Brasil. Além disso, deverão
produzir poucos resultados na
rodada de Hong Kong. Pior, jogam para segundo plano as distorções provocadas por subsídios
agrícolas. Eliminando os subsídios, o acesso aos mercados seria
decorrência, uma vez que os
mercados agrícolas em crescimento são justamente os dos
países em desenvolvimento.
Entrando por esse caminho,
caso não ocorram avanços significativos em Hong Kong, haveria
a vantagem de incentivar a criação de contenciosos (denúncias
na OMC contra subsídios). Justamente pelo fato de a questão
dos subsídios ter ficado em segundo plano, até hoje os EUA
não reduziram os subsídios de
apoio interno, nem mesmo para
o algodão -setor em que já foram condenados na OMC.
Para Camargo, o confronto em
subsídios reforçaria o G-20 (o
grupo dos 20 países emergentes
liderado pelo Brasil). O confronto no acesso a mercados fragiliza.
E-mail- Luisnassif@uol.com.br
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