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XADREZ COMERCIAL
Argentina e Uruguai culpavam resistência brasileira pela lentidão nas negociações com a União Européia
Acordo de blocos pode atenuar atrito regional
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O avanço das negociações com
a União Européia poderá fortalecer o Mercosul num momento de
grave crise interna.
O acordo de livre comércio com
os europeus é considerado uma
oportunidade única pelos governos do Uruguai e da Argentina.
Os dois países vinham responsabilizando o Brasil por dificuldades nas negociações, devido às resistências do governo brasileiro
em fazer concessões nas áreas de
investimentos, de compras governamentais e de serviços.
O assunto ainda é tratado com
discrição pelos argentinos e uruguaios, que esperam avanços nas
conversas com a Europa na próxima semana. O prazo para fechar o
acordo é outubro.
Insatisfação
Na reunião de cúpula do Mercosul, no início do mês, em Puerto
Iguazú, o presidente argentino,
Néstor Kirchner, mostrou, pela
primeira vez em público, sua insatisfação com os avanços das negociações com a União Européia.
Apesar de não citar o Brasil, disse
que, devido a resistências de um
sócio, as conversas com a Europa
não avançaram.
A coesão do Mercosul nos fóruns internacionais é um dos
mais caros objetivos brasileiros
no processo de integração. O país
vê o bloco como uma forma de
aumentar a inserção brasileira em
organismos internacionais.
Para a Argentina e o Uruguai,
mais importantes do que esse aspecto político da integração são os
benefícios comerciais.
Para o Uruguai, a falta de um
acordo de livre comércio com a
Europa vai levar a reflexões sobre
o próprio arranjo institucional do
bloco. Os uruguaios consideram a
tarifa externa comum do Mercosul um entrave para políticas independentes de desenvolvimento
econômico. Aceitam a amarra,
pois acreditam que é mais fácil o
Uruguai conseguir acordos comerciais com terceiros países por
meio do Mercosul.
As medidas argentinas para restringir a importação de máquinas
de lavar, televisores, geladeiras e
fogões do Brasil não são apenas
para proteger a indústria local. O
ritmo de crescimento acelerado
das importações já afeta o resultado da balança comercial e preocupa as autoridades do vizinho brasileiro. O saldo comercial é hoje a
única fonte de divisas na Argentina, que decretou moratória e não
tem acesso a crédito externo.
De janeiro a maio deste ano, o
vizinho brasileiro obteve um saldo de US$ 5,616 bilhões com o
mundo -um valor considerável.
O problema é que o resultado do
mesmo período do ano passado
foi de US$ 7,105 bilhões -26,5%
a mais do que em 2004.
"Visto como uma trajetória, a
situação preocupa", afirma o diretor da Cepal no Brasil, Renato
Baumann.
A queda no saldo comercial é
resultado do dinamismo das importações. De janeiro a maio deste
ano, a Argentina comprou do exterior US$ 8,044 bilhões, um crescimento de 71%, quando se compara com igual período de 2003.
Nos primeiros cinco meses do
ano passado, a Argentina havia
importado US$ 4,697 bilhões.
As exportações, por outro lado,
cresceram apenas 16% no mesmo
período. Foram de US$ 11,802 bilhões entre janeiro e maio de 2003
para US$ 13,660 bilhões neste ano.
Além de apresentar um ritmo
de crescimento menor do que o
das importações, a principal razão para a expansão das vendas
foi o aumento de preços de commodities vendidas pela argentina,
como a soja. O volume das exportações cresceu apenas 3%.
(AS)
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