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EM TRANSE
Alta do dólar e tensão eleitoral levam bancos, consultorias e empresários a refazer para baixo estimativas do PIB
Projeções minguam e país deve crescer só 1%
FÁTIMA FERNANDES
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As projeções de crescimento da
economia brasileira mais uma vez
são revistas para baixo. Bancos,
consultorias econômicas e empresários refizeram seus cálculos
na última semana e consideram
agora que o país tem chance de
crescer algo perto de 1% neste
ano, 2,5 pontos percentuais menos do que o mercado previu para
2002 logo no início do ano.
A situação está tão nebulosa que
há instituições, como o Unibanco,
que nem sequer arriscam novos
números agora. Preferem aguardar os dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) que saem no dia 30 deste mês.
O que levou os economistas a
rever o número que mede o ritmo
de atividade do Brasil é o movimento de alta do dólar somado à
ansiedade criada no mercado em
relação à condução da política
econômica pelo novo governo,
subida da inflação, demanda contraída e expectativa de que a economia internacional vai continuar travada -ruim, portanto,
para as exportações.
Bancos e consultorias ouvidos
pela Folha estão mais pessimistas
por causa do sufoco financeiro
pelo qual passam as empresas, especialmente as que têm dívidas
em dólar e/ou são dependentes de
matérias-primas importadas.
Apenas nos últimos 30 dias
-de 18 de julho até agora-, o
real perdeu 9,5% de seu valor. O
que torna mais caro os insumos
cotados em dólar. O crédito também está mais escasso -o corte
para as empresas, em média, é da
ordem de 20%- e as taxas de juros estão mais altas -mais um
inibidor de produção, consumo e
investimentos.
Se as empresas ficam com as finanças espremidas, elas produzem menos. Se o ritmo da fábrica
diminui, a possibilidade de demissões aumenta. Sem emprego,
o consumidor não compra e, portanto, a economia não cresce. "Estamos bem no olho do furacão. A
previsão para este semestre não é
animadora", diz Fábio Silveira,
economista da MB Associados.
A MB Associados prevê agora
crescimento de 1,3% para o PIB
(Produto Interno Bruto) brasileiro. Duas semanas atrás projetava
1,8%. O grupo de conjuntura da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) considera algo
perto de 1% e não mais 1,3%, como na previsão anterior.
Há instituições um pouco mais
otimistas. O Citibank reduziu de
2,3% para 1,8%. O Lloyds reviu
para 1,5% e o BBV, para 1,7% -a
projeção anterior dos dois era 2%.
"Esse ainda é um dado preliminar. Estamos esperando os números do IBGE neste final de mês para finalizarmos nossa estimativa",
diz Octávio de Barros, economista-chefe do BBV. O IBGE divulgará dados sobre o volume do PIB
no segundo trimestre.
O relatório Focus do Banco
Central de julho reviu para baixo
o crescimento do PIB para este
ano. A projeção média, que estava
acima de 2%, mudou para 1,8%.
Esse número é resultado da média
das projeções de cinco instituições financeiras que mais acertaram nas projeções anteriores.
Incertezas
"A alta do dólar é a manifestação de incerteza que vive o país.
Significa que os bancos e os investidores estrangeiros estão tirando
dinheiro do Brasil. Sem financiamento externo, teremos de fazer
um ajuste mais rigoroso, mais duro. Isso significa que a produção
neste semestre deve ser menor do
que a do primeiro, o que é atípico", diz Francisco Eduardo Pires
de Souza, coordenador do grupo
de conjuntura da UFRJ.
Souza reforça a questão da produção porque é um termômetro
de peso na formação do PIB de
um país. Dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostram que
a ociosidade das indústrias ainda
é elevada -está em 20,4%; um
ano atrás, no auge da crise energética, a taxa era menor (19,1%).
Uma entre cada três companhias no país informou, em julho,
que o nível de demanda estava
fraco. Em abril, duas entre cada
dez afirmavam a mesma coisa.
Esses dados fazem parte de levantamento da fundação feito com
1.220 empresas em julho.
A produção é mais elevada no
caso dos setores exportadores, como siderúrgico, máquinas e alimentos. "O setor agrícola exportador deve sair ileso dessa crise",
afirma Silveira.
A situação mais confortável para os exportadores de soja, suco
de laranja e açúcar, que têm quase
um mercado cativo lá fora, entretanto, não contribui para substancial elevação do PIB. Isso porque houve queda no preço de vários produtos exportados e, mesmo que exista crescimento no volume enviado para fora, nem
sempre há elevação na receita obtida com a exportação.
"O desempenho está melhor do
que o esperado para alguns setores exportadores, mas isso está
longe de garantir crescimento
econômico", diz Odair Abate,
economista-chefe do Lloyds.
Queda das importações
Até a terceira semana de julho, a
balança comercial acumulava um
superávit de US$ 3,509 bilhões,
segundo dados do Ministério do
Desenvolvimento. "O resultado
foi alcançado, basicamente, mais
por causa de uma queda nas importações do que por uma elevação nas exportações. E isso não é
nada saudável", diz Barros.
Há outro agravante. O país perdeu espaço em alguns de seus
mercados exportadores principais e tenta achar novos destinos.
No primeiro semestre, houve redução nas vendas para os principais mercados externos, em especial para a Argentina, de 66%, e
para a União Européia, de 18,5%.
Isso porque a demanda naqueles
países também se retraiu.
A perspectiva das empresas para os próximos seis meses não é
das melhores. Em abril, 44% das
empresas consultadas pela FGV
acreditavam que o cenário seria
mais positivo. Em julho, esse percentual caiu para 18%. "Diante
dessa evidência, a retomada da
produção, anteriormente esperada para o segundo semestre, está
agora em xeque", conclui relatório da FGV.
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