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Antes das guerras, país era parceiro comercial do Brasil
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Iraque foi um grande parceiro comercial do Brasil entre o final dos anos 70 e início da primeira Guerra do Golfo, em 1991. A
construtora Mendes Júnior, por
exemplo, construiu estradas de
ferro e uma estação de bombeamento de águas naquele país de
1978 a 1990.
Com as guerras e dificuldades
econômicas que acometeram o
país, o governo de Saddam Hussein ficou devendo US$ 671,6 milhões à empresa. A Mendes Júnior
afirma que o governo brasileiro
aceitou pagar o passivo, via Banco
do Brasil, mas que o valor não foi
quitado.
"No final dos anos 70, cerca de
70% do petróleo que o Brasil importava vinha do Iraque. Eram
por volta de 300 mil barris por
dia", afirma Gleiber de Faria, 47,
executivo responsável pela comunicação empresarial da Mendes
Júnior. Ele morou no Iraque de
1984 a 1990.
O Iraque permitia ao Brasil garantir um maior equilíbrio da balança comercial, pois aquele país
aceitava comprar produtos e contratava serviços brasileiros. Nos
anos 80, o Iraque era um dos poucos países que não exigia garantia
de crédito de bancos estrangeiros
para contratos firmados com o
Brasil.
O Itamaraty intermediou as negociações dos contratos da Mendes Júnior com o Iraque. "Depois
de uma concorrência, ganhamos
um contrato de US$ 1,3 bilhão para construir a ferrovia Bagdá-Akashat, de 553 quilômetros",
afirmou Faria.
Obras
Cerca de 10 mil trabalhadores
brasileiros da construtora foram
para o Iraque. Escolas, dois hospitais, consultórios dentários, supermercados, clubes e cantinas
foram construídos no deserto.
A Mendes Júnior assinou novo
contrato de US$ 333 milhões em
1981 para a construção de 128 quilômetros da Expressway, ferrovia
que vinha da fronteira com a Jordânia até a do Kuait. O Iraque, porém, começou a atrasar os pagamentos, por ter passado a concentrar seu orçamento na guerra contra o vizinho Irã.
"O então presidente João Figueiredo escreveu uma carta a
Saddam Hussein pleiteando a solução das pendências", afirma Faria. A situação se agravou em
1987. A construtora suspendeu as
obras e deu início ao processo de
cobrança na Corte Internacional
de Comércio, em Paris.
Saddam irritou-se. Exigiu que a
Mendes Júnior retomasse as
obras, ameaçando cortar o petróleo para o Brasil. "O governo brasileiro, via Banco do Brasil, assumiu então os créditos da Mendes
Júnior com o Iraque", diz Faria.
Ou seja, o país receberia petróleo do Iraque, que descontaria os
valores devidos do passivo a pagar ao Banco do Brasil. Mas Faria
afirma que a construtora ainda
não recebeu os cerca de US$ 421,6
milhões que tem a receber do
Banco do Brasil.
Com a Guerra do Golfo, em
1991, a Mendes Júnior retirou todos seus funcionários do Iraque.
Vida feliz
Apesar das atribulações, Faria
afirma ter sido feliz no Iraque. "Os
iraquianos nos recebiam muito
bem nas suas casas. Sempre havia
um pôster do Zico ou do Pelé em
uma loja."
O executivo diz que a Mendes
Júnior aceitaria voltar a trabalhar
no Iraque, após a invasão dos Estados Unidos. Isso, entretanto,
parece difícil, pois os americanos
já estão anunciando contratos firmados com construtoras de seu
próprio país.
Faria nunca se encontrou com
Saddam, mas manteve contato
com o ministro do Comércio daquele país, Mohamad Saleh. "Ele
visitou o estande da Mendes Júnior na Feira Internacional de
Bagdá, em 1988."
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