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MOTOR ASIÁTICO
Delta do rio Yangtze atrai 34% dos investimentos estrangeiros no país e produz um terço das exportações
Região de Xangai lidera expansão chinesa
CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL AO DELTA DO YANGTZE
Se a China é a fábrica do mundo,
sua linha de produção mais nobre
está montada no delta do rio
Yangtze, região que atraiu no ano
passado 34% do investimento estrangeiro direto destinado ao
país, contribui com quase um
quinto do PIB e produziu um terço das exportações.
Liderada pela cidade de Xangai,
o delta apresenta os maiores índices de expansão econômica da
China e um PIB (Produto Interno
Bruto) per capita de US$ 3.000, o
triplo da média do país.
Só em 2003, as 15 cidades que
integram a região receberam US$
18,4 bilhões em investimentos estrangeiros diretos, o dobro do que
foi destinado ao Brasil.
O ritmo de crescimento é vertiginoso: enquanto o PIB chinês
cresceu 9,1% em 2003, o de Xangai deu um salto de 11,8%. O índice foi ainda maior nas duas outras
Províncias que integram o delta,
Jiangsu e Zhejiang, que cresceram
18% e 15,4%, respectivamente.
O volume do comércio internacional só perde para o do delta do
rio das Pérolas, no Cantão, Província do sul da China que foi a
primeira a se abrir ao capital estrangeiro, há 26 anos.
No ano passado, a região do
Yangtze exportou US$ 92,4 bilhões, o equivalente a quase 30%
das vendas externas chinesas e
US$ 19,4 bilhões a mais que as exportações brasileiras. No delta do
rio das Pérolas, a participação nas
exportações foi de 34%
Mas a tendência é que a área liderada por Xangai se transforme
também no principal pólo do comércio exterior do país. Entre janeiro e março, as exportações da
região cresceram 56,1% e representaram 34,7% do total.
Seguindo o caminho das grandes multinacionais, é nessa área
que a maior parte das empresas
brasileiras que vão para a China
prefere se instalar. Neste ano,
quatro novas companhias do Brasil abriram ou abrirão suas portas
em Xangai: Banco do Brasil,
BM&F (Bolsa de Mercadorias &
Futuros), Banco Santos e M. Cassab. Elas vão se juntar a outras que
já estão na região, como a Vale do
Rio Doce.
A indústria e o setor de serviços
são a base da economia do delta.
Há cerca de 100 parques industriais em Xangai e na parcela das
Províncias de Jiangsu e Zhejiang
que integram o delta.
O segredo do desenvolvimento
da região é o rio Yangtze, em que
trafegam milhares de navios de
carga por dia. No Huangpu, o
afluente do Yangtze que banha
Xangai, está o maior porto do
país. A possibilidade de utilização
de transporte marítimo é crucial
para a competitividade das empresas da região. A maior siderúrgica da China, a Baosteel, tem
quatro portos particulares em sua
fábrica de Xangai, onde descarrega matéria-prima e carrega navios
com produto final.
A Shagang, maior siderúrgica
da China de capital privado, também tem seu próprio porto no rio
Yangtze, com cerca de seis quilômetros de extensão. Nesses portos é descarregado o minério de
ferro que as duas empresas importam do Brasil, por meio da Vale do Rio Doce.
"Nós usamos o rio para o transporte de toda a matéria-prima
que precisamos. É muito mais barato, eficiente e permite uma escala bem maior que a de outros tipos de transporte", afirma Clement Ko, consultor da Shagang.
Durante este ano, a empresa vai
produzir 8 milhões de toneladas
de aço, quase um terço de toda a
produção brasileira.
A Shagang vai comprar 1 milhão de toneladas de minério de
ferro da Vale do Rio Doce em
2004, o que representa 12,5% de
suas necessidades de matéria-prima. Mas, se o Brasil tivesse condições de fornecer mais, o volume
de compra seria maior. "O minério de ferro brasileiro é de muito
boa qualidade. A Austrália é nosso maior fornecedor, mas talvez
no futuro esse lugar seja ocupado
pelo Brasil", afirma Shen Wen
Ming, 54, vice-presidente e fundador da Shagang.
O problema é que as mineradoras brasileiras não têm produção
suficiente para atender à crescente demanda chinesa. Segundo Ko,
só haverá aumento de produção
expressivo em 2007, quando os
projetos atuais de expansão estiverem concluídos.
O grupo estatal Baosteel, que
produz 20 milhões de toneladas
ao ano, é o principal cliente da Vale na China. A maior parte de sua
produção, 11,5 milhões de toneladas, vem da subsidiária Baoshan
Iron & Steel, localizada às margens do rio Yangtze.
A fábrica ocupa uma área de 19
km 2, onde trabalham 16 mil empregados. Em seus quatro portos,
a empresa faz embarque e desembarque de matérias-primas, produtos químicos e bens acabados.
Além do aço, os setores que têm
peso no parque industrial do delta
são automobilístico, construção
naval, petroquímico, telecomunicações, equipamentos de geração
de energia e eletrodomésticos.
Para o governo e analistas, está
claro que a região é o centro do
milagre econômico chinês. "Dada
a centralização dos investimentos
estrangeiros na região, o delta do
Yangzte será o principal motor do
desenvolvimento econômico e
social do nosso país", diz estudo
da Academia Chinesa de Ciências
Sociais.
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