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Com dólar fraco, EUA "exportam"
inflação, afirmam economistas
Enxurrada de moeda americana fez emergentes comprarem mais commodities
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os países ricos responsabilizam os emergentes -em particular a China, que coloca 200
milhões de pessoas ao ano no
mercado consumidor- pela escalada no preços dos alimentos
e de commodities em geral. O
consumo chinês, no caso, seria
o grande "exportador" de inflação ao restante do mundo.
Para alguns economistas, como Jeffrey Frankel, especialista em commodities da Universidade Harvard, a China só está
repatriando agora uma inflação
exportada pelo menos desde os
anos 80 pelos EUA, por meio da
desvalorização do dólar -que
reequilibra seu déficit comercial- e pela política de juros
baixos -que controla o déficit
fiscal, agravado nos anos George W. Bush pela guerra no Afeganistão e depois no Iraque.
"Os EUA exportaram inflação para o restante do mundo,
levando os preços em dólares
das commodities a decolarem.
Há um ano, as expectativas de
crescimento do mundo, incluindo na China, se desaceleram, mas os preços do petróleo
e de outras commodities subiram ainda mais. A demanda
não explica sozinha os aumentos de preços", disse Frankel.
Exportando inflação
Pela teoria monetarista, os
governos e os seus Bancos Centrais, quando querem controlar
a inflação, costumam subir os
juros e retirar dinheiro de circulação por meio da colocação
de títulos de sua dívida. O custo
é aumentar o endividamento.
A equação só não é totalmente verdadeira para os EUA, donos da máquina que imprime
dólares, aceitos em todo o
mundo. Ante a necessidade de
reduzir a liquidez no país, em
vez de subir juros e emitir títulos, os EUA podem liberar a importação. Com isso, conseguem
ajustar a oferta do mercado
com a demanda e ainda mandam dólares para o exterior, retirando dinheiro de circulação.
"À medida que os EUA ejetam moeda para fora, também
reduzem a liquidez interna. Você ajusta não só o lado da oferta
como cria a redução da demanda. Essa prática do governo
americano é o que chamamos
de "exportar inflação". A inflação deles. Qual o problema que
ele cria? Aumenta a liquidez de
dólar nos mercados mundiais",
disse o economista Otto Nogami, do Ibmec-SP.
Para o ex-ministro Delfim
Netto, esse aumento de dólares
nos emergentes, resultado do
chamado duplo déficit americano -comercial e fiscal-, explica parte da inflação atual.
"Os BCs estão numa situação
curiosa. Eles causaram uma
parte dessa confusão porque
mantiveram as taxas de juros
muito baixas, permitiram patifaria no sistema financeiro e
aumentaram a liquidez de maneira assustadora. Na verdade,
eles financiaram essa elevação
de preços", disse.
Desvalorização
Delfim lembra que o dólar
perdeu 40% de seu poder de
compra em relação ao euro só
nos últimos quatro anos, e as
commodities assumiram um
papel de "hedge" [proteção]
contra essa desvalorização.
"O maior efeito dos EUA sobre essa elevação dos preços é a
desvalorização do dólar. Ela deve explicar uns 40% do aumento do preço dos alimentos. O
árabe quer vender o petróleo
com correção monetária. Ele
quer que o barril de petróleo
compre a mesma coisa que
comprava antes em dólares.
Como o dólar está caindo, eles
têm de subir o preço. É tão simples quanto isso", disse.
Para Italo Lombardi, economista da consultoria americana
RGE Monitor, a discussão sobre quem exporta inflação para
quem perdeu sua relevância na
atualidade. Ele afirma que não
há consenso se o petróleo sobe
porque o dólar se desvaloriza
ou se acontece o contrário.
"Esse assunto vem e volta
com bastante freqüência aqui
nos EUA. Muita gente apostava
na recuperação do dólar, pelo
menos, até o último discurso do
Ben Bernanke [presidente do
Fed]. O Fed deu indicações de
que não deve elevar juros, o que
enfraquece o dólar. E tinha motivos para o dólar voltar a subir,
como um crescimento maior
nos EUA do que na Europa."
"Como ajustar? Com juro
maior também nos EUA. A taxa
maior faz com que o excedente
de dólares flua novamente em
direção aos EUA. Isso aumenta
a liquidez do mercado americano", afirma Nogami.
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