|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONJUNTURA
Deterioração do cenário causa divergência entre economistas, que já prevêem recessão e inflação de dois dígitos
Dólar e juros elevam pessimismo para 2003
ÉRICA FRAGA
FÁTIMA FERNANDES
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Prever o desempenho da economia brasileira para 2003 é tão arriscado quanto dar um tiro no escuro. Não é à toa que os economistas mais tarimbados em fazer
projeções macroeconômicas quebram a cabeça neste momento
para traçar um cenário para o país
no ano que vem. Ainda assim, não
chegam a um consenso. As previsões para a inflação variam de 5%
a 15%. As estimativas para o PIB
(Produto Interno Bruto) vão de
queda de 1,5% a alta de 2,6%.
Levantamento feito pela Folha
com 15 importantes consultorias,
bancos e universidades do país revela que as previsões para o futuro
da economia são cada vez mais
pessimistas e discrepantes. De
forma geral, as estimativas para o
PIB minguaram, enquanto as previsões para a inflação subiram, especialmente nas últimas semanas,
por conta da alta do dólar e da recente elevação da taxa de juros.
Há um único evento sobre o
qual as previsões convergem: o
mercado tem quase certeza de
que Luiz Inácio Lula da Silva será
o novo presidente do Brasil. E as
preocupações sobre o comportamento de um governo petista servem de pretexto para que um
mesmo banco trabalhe com três
cenários possíveis para 2003.
As incertezas quanto ao futuro
da economia brasileira são tantas
que há casos de projeções de crescimento econômico que se transformaram em expectativa de recessão no período de um mês. O
banco JP Morgan, por exemplo,
mudou sua previsão de crescimento para o PIB de 2% para uma
queda de 1,5% em 2003.
"A deterioração da economia
mundial, somada à maior probabilidade de que o PT ganhe as eleições, nos levou a mudar nosso cenário", diz Fábio Akira, economista do banco norte-americano.
O mesmo acontece com algumas projeções para a inflação, que
dispararam nas últimas semanas.
O Instituto de Economia da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro) trabalhava recentemente
com projeção de 6% de inflação
para 2003, medida pelo IPCA.
Agora, já fala em 10%.
"Os preços estão subindo muito
por causa da alta do dólar, por isso refizemos nossa projeção",
afirma Francisco Eduardo Pires
de Souza, coordenador do Grupo
de Conjuntura do Instituto de
Economia da UFRJ.
Foram duas as razões principais
para a deterioração das perspectivas econômicas para o próximo
ano. Com a piora da expectativa
de recuperação da economia internacional, cresceu o pessimismo em relação ao fluxo de investimentos para países emergentes,
como o Brasil, em 2003. Nos últimos seis meses, o que já se viu foi
a migração de recursos desses
países para ativos considerados
de risco zero, como os títulos públicos dos Estados Unidos.
A proximidade da sucessão presidencial tornou também o mercado financeiro mais apreensivo.
Se Lula ganhar, na análise dos
economistas ouvidos pela Folha,
o país vai levar um tempo para se
acalmar, pelo menos até que o novo governo anuncie a sua equipe
econômica e deixe claro os rumos
que dará para a economia. Isso já
contribuiu para uma forte restrição ao acesso de empresas brasileiras a financiamentos externos e
para a explosão do dólar.
Inflação e dívida
A desvalorização do real gerou
grande preocupação no mercado,
principalmente em relação a dois
importantes indicadores da economia: inflação e relação entre a
dívida pública brasileira e o PIB.
Além de pressionar os preços,
principalmente as tarifas administradas, a alta do dólar fez aumentar de forma significativa a
parcela da dívida pública que é
corrigida pela moeda norte-americana. Surgiram temores até de
calote da dívida brasileira, o que
causou piora ainda maior nas expectativas.
Para tentar solucionar parte do
problema -a inflação-, o Banco Central anunciou na segunda-feira, em reunião extraordinária,
a elevação da taxa de juros de 18%
para 21% ao ano.
A medida causou polêmica.
Economistas acreditam que a alta
dos juros ajudará a conter as pressões inflacionárias, embora apostem que é inevitável algum repasse para os preços em 2003 por
conta da desvalorização cambial
dos últimos meses.
Mais aperto
Juros mais altos significam também aumento da dívida pública. E
novamente um abismo separa algumas estimativas. Tome-se um
caso: o Bank of América prevê
que, com os atuais níveis do dólar
(R$ 3,90) e dos juros básicos, para
deter a escalada da dívida pública
o governo teria de gerar superávit
primário (parcela destinada ao
pagamento de juros) de 5% do
PIB em 2003 -1,25 ponto percentual acima do acertado com o
Fundo Monetário Internacional.
A maioria dos analistas consultados pela Folha prevê ser possível manter estabilizada a relação
dívida/PIB com superávit primário de 3,75%. Mas com uma ressalva: que o dólar recue.
Para piorar os cenários, a recente elevação dos juros aumentou o
temor de enfraquecimento da
economia em 2003. O crescimento potencial do país, para Celso
Toledo, economista da MCM, é
de 2,6% em 2003. Essa taxa será
possível de ser alcançada, diz ele,
se o novo governo adotar políticas
fiscal e monetária coerentes com a
política de preços.
Texto Anterior: Trechos Próximo Texto: Frases Índice
|