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GANÂNCIA INFECCIOSA
Psicanalistas se especializam em tratar de investidores traumatizados pelas perdas no mercado acionário
Crise nas Bolsas cria distúrbio psicológico
DE NOVA YORK
Um de seus clientes não conseguia abrir mãos das ações já adquiridas. O corretor o aconselhava a vender na alta e embolsar os
lucros, ele recusava e ficava agarrado aos papéis, até que perdessem o valor. Diagnóstico? "É um
anal-retentivo. E retenção anal é
péssimo para quem aposta na
Bolsa de Valores."
Quem faz a análise é Richard
Geist, professor de psiquiatria da
renomada Harvard Medical
School e fundador-presidente do
Instituto de Psicologia e Investimentos, baseado em Newton,
Massachusetts. Ele se define como psicoterapeuta e conselheiro
financeiro.
"Estudo a influência da psicologia na maneira como as pessoas
realizam seus investimentos em
condições de risco", diz Geist à
Folha. Segundo o acadêmico, a
maior parte de seus pacientes está
preocupada com os erros que cometeu no mercado de ações.
"Mas também há pessoas que se
sentem ansiosas ou deprimidas
com as perdas na Bolsa ou querendo entender melhor qual fenômeno psicológico está interferindo com o fato de elas atingirem ou
não sucesso no mercado", afirma.
Geist não está sozinho: sua especialidade é uma das que mais
cresce nos EUA.
Nação de investidores
Quase 70 milhões de norte-americanos, ou um quarto da população do país, têm na Bolsa sua
principal aplicação financeira.
Com os ventos de baixa que atingem Wall Street nas últimas semanas, é natural que parte dessa
multidão esteja ansiosa. Entram
em cena os dublês de psicoterapeutas e analistas financeiros.
Nos últimos tempos, a entidade
fundada por Richard Geist ganhou novo concorrente, um entre
vários que estão surgindo. Trata-se do Instituto de Psicologia e
Mercados, baseado em Jersey
City, a menos de 20 quilômetros
de Wall Street.
Quadro grave
Os negócios vão bem lá também, segundo Karen Friedman,
diretora de comunicações do instituto. Tão bem que o órgão já
lançou seu periódico, "The Journal of Psychology and Financial
Markets", atualmente na primeiro edição do terceiro volume.
Na pauta da publicação há temas como "A Natureza Mutante
da Oferta Inicial Pública de
Ações" e "Imagens e o Julgamento Financeiro".
E quais seriam os principais
problemas psicológico-financeiros dos investidores que procuram profissionais como Richard
Geist e seus colegas?
"São cinco", responde o médico. E enumera:
"1) Usar o mercado para validar
a própria auto-estima; 2) Não perceber as mudanças no discernimento que ocorrem quando eles
estão ansiosos ao investir; 3) A
tendência muito humana de seguir o comportamento da manada na hora de manter ou retirar o
dinheiro investido; 4) Tomar decisões baseadas nas manchetes do
caderno de economia; 5) Cometer
erros quando estão se sentindo
deprimidos e querem sair de um
mercado que está caindo há muito tempo."
Regressão psíquica
E o que o analista responde aos
pacientes?
"Ajo como em qualquer terapia
tradicional", diz ele. "Induzo o
paciente a lembrar a ocasião em
que ele fez tudo certo no mercado
e o resultado foi positivo. Então,
peço para ele repetir o padrão. Assim, se ele pesquisou a história de
uma empresa antes de investir,
peço que faça o mesmo agora e assim por diante."
Se a sede da Bolsa de Valores de
Nova York, o prédio centenário
na esquina da rua Wall, em Nova
York, fosse uma pessoa e o doutor
Geist a pudesse colocar num divã,
qual seria o diagnóstico? "Essa é
uma questão que vale US$ 64 milhões", hesita. "Mas vamos lá."
"Primeiro", diz ele, "é preciso
entender que três dinâmicas básicas influenciam o mercado, que
são o nível de valorização, a política monetária e a psicologia do
mercado". O.k. "As duas primeiras estão em expansão, mas a terceira está em recessão."
Assim, afirma ele, é a psicologia
do mercado que está empurrando
as Bolsas para baixo.
"O sentimento dos investidores
da sociedade norte-americana está recessivo, então você tem a psicologia do mercado empurrando
para baixo, apesar dos outros dois
fatores estarem para cima."
Isso, em conjunção com fatores
externos como a desconfiança nas
corporação americanas e a ameaça do terrorismo, justificam a baixa. "Mas, em pouco tempo teremos, uma recuperação positiva
do paciente, algo em torno de 6 a
12 meses", conclui o analista.
Entendeu?
(SÉRGIO DÁVILA)
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