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Relatório do TCU condena "clonagem" de plataformas
Segundo técnicos do tribunal, Petrobras deve fazer licitações para novas unidades
Para a estatal, a adoção
do mesmo projeto, já usado na construção de outra plataforma, dispensaria
a realização de licitação
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
Os ministros do Tribunal de
Contas da União vão receber,
nos próximos dias, um relatório do corpo técnico do órgão
condenando a "clonagem" de
plataformas sem licitação -estratégia utilizada pela Petrobras na construção da P-56 e
que a estatal cogita adotar também na P-62.
Os técnicos do TCU rejeitaram o argumento da Petrobras:
o de que a adoção de um mesmo
projeto de engenharia, já utilizado na construção de outra
plataforma, dispensaria a estatal de realizar licitação pública.
O contrato para a construção
da P-56 foi assinado em outubro do ano passado com o consórcio FSTP, formado pelas
empresas Keppel Fels (Cingapura) e Technip (França). O valor: US$ 1,2 bilhão.
A dispensa da licitação se deve ao fato de que a P-56 será
uma cópia da P-51, construída
pelo mesmo consórcio.
Prevista para entrar em operação no primeiro semestre, a
P-51 ainda está num estaleiro
de Angra dos Reis, no litoral do
Estado do Rio de Janeiro. Segundo a Petrobras, a plataforma deve entrar em operação
ainda neste ano.
O relatório do TCU sobre a
P-56 sustenta que "não há a caracterização de inviabilidade
fática de competição (exigência
legal para contratação por inexigibilidade de licitação)". Ou
seja, a Petrobras não pode dispensar o processo licitatório.
O relatório do corpo técnico
do TCU só não recomendará a
suspensão do contrato da P-56
porque isso representaria expressivo custo adicional para a
Petrobras.
Por meio de nota, a Petrobras
declarou que "parte significativa dos questionamentos apontados pelo TCU nas obras da
Petrobras nos últimos anos refere-se à discussão jurídica sobre a aplicação da Lei das Licitações (nº 8.666/93), ou do procedimento licitatório simplificado (decreto nº 2.745/98) nas
contratações feitas pela companhia. Ao contrário do que defende o TCU, a Petrobras obedece ao decreto nº 2.745, procedimento já referendado por
seis liminares no Supremo Tribunal Federal".
Águas profundas
Caso o entendimento dos ministros do TCU seja o mesmo
do corpo técnico do tribunal, a
proposta de fazer a plataforma
P-62 idêntica à P-54 -defendida por parte da diretoria da Petrobras- estaria ameaçada.
A proposta está em discussão
há meses. Técnicos ligados à
área de exploração e produção,
dirigida pelo geólogo Guilherme Estrella, defendem a convocação de licitação internacional.
Outros diretores defendem a
clonagem da P-54, projeto desenvolvido pelo consórcio
Mauá-Jurong. Eles têm o apoio
dos sindicatos de metalúrgicos
do Rio, de Niterói e de Angra
dos Reis -que alegam perda de
postos de trabalho, já que a
P-62 seria construída no Rio.
O projeto da P-62, com custo
estimado em US$ 1,5 bilhão,
enfrenta ainda resistências de
outra ordem: as investigações
que resultaram na operação
Águas Profundas, da Polícia Federal, realizada em julho do ano
passado, alcançaram diretores
do estaleiro Mauá.
Um deles responde a processo na Justiça Federal -ao lado
de outras 27 pessoas, incluindo
funcionários e ex-funcionários
da Petrobras. Todos são acusados de fraude em licitações e de
corrupção ativa e passiva.
A investigação, que durou
dois anos, descobriu irregularidades nas licitações para reparos em plataformas -arquitetadas pela empresa Angra Porto, que teria repassado os contratos a outros estaleiros, entre
eles o Mauá.
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