São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tesouro resgata títulos para fugir de juros

Com sobra de caixa e Selic mais alta, governo prefere evitar emissão de papéis, e dívida pública recua 3,4% em julho

Endividamento cai para R$ 1,3 tri, sob influência do resgate de títulos prefixados, os mais afetados pelas turbulências no mercado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para fugir dos juros altos, o Tesouro Nacional tem evitado a emissão de títulos públicos, estratégia que, combinada com a grande concentração de vencimentos de papéis ocorrida no mês passado, fez a dívida do governo federal registrar uma redução entre junho e julho.
De acordo com dados do Tesouro, o endividamento do governo federal somava R$ 1,298 trilhão ao final do mês passado, uma redução de 3,4% em relação ao saldo de junho. Neste ano, a queda é de 2,7%.
O recuo ocorrido especificamente no mês passado se explica pelo maior volume de vencimentos de títulos prefixados que costuma ocorrer no começo de cada trimestre. Apenas esse resgate somou R$ 74,8 bilhões, respondendo por toda a redução ocorrida em julho.
Olhando para um horizonte mais longo, porém, é possível notar que, independentemente de fatores sazonais, o Tesouro tem optado por vender uma quantidade menor de títulos públicos no mercado. Entre janeiro e julho deste ano, o governo tirou de circulação R$ 110 bilhões em papéis, contra apenas R$ 6,5 bilhões no mesmo período do ano passado.
De acordo com Guilherme Pedras, responsável pelas operações da dívida pública no Tesouro Nacional, o aumento nos resgates foi uma forma encontrada de escapar da alta que tem se observado nos juros pagos pelos títulos do governo, reflexo da elevação da taxa básica de juros (Selic) promovida pelo Banco Central.
"O fato de a gente estar com um superávit primário robusto dá mais flexibilidade na administração da dívida", diz Pedras. Ou seja, com uma sobra maior no caixa, o governo opta por recomprar títulos que estão em circulação no mercado, reduzindo o endividamento.

Selic
O motivo dessa escolha é o aumento nos juros praticados no mercado, que acompanham a alta da Selic. De abril para cá, o BC elevou a taxa básica da economia de 11,25% ao ano para os atuais 13%, e a expectativa é que novos aumentos ocorram nos próximos meses.
Isso encarece a rolagem da dívida pública, pois os juros pagos pelos papéis do Tesouro costumam acompanhar a Selic. No mês passado, os gastos do governo federal com encargos de seu endividamento somaram R$ 13,824 bilhões, valor 38% maior do que o observado em julho do ano passado.
A maior parte dos papéis resgatados pelo Tesouro é de prefixados, que são mais afetados pelas turbulências dos mercados. Títulos desse tipo chegaram a ser negociados a uma taxa de mais de 15% ao ano, acima da Selic, por causa de dúvidas dos investidores sobre até onde o aperto monetário promovido pelo Banco Central poderia chegar.
No mês passado, os títulos prefixados representavam 30,9% da dívida total do governo. Desde julho de 2006 essa participação não atingia nível tão baixo.


Texto Anterior: Crise 2: Crescimento da OCDE é o menor desde 2001
Próximo Texto: Fluxo de dólares fica positivo após dois meses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.