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CONTA SALGADA
Serviços de bancos subiram 14,5% de fevereiro de 2003 a janeiro de 2004; IPC no período foi de 6,54%
Tarifas bancárias sobem mais que inflação
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bancos promoveram reajustes médios de 14,52% nas tarifas
que cobram dos clientes, em um
período de 12 meses encerrado
em janeiro passado. Conseguiram, com isso, acompanhar de
perto ou até ultrapassar os aumentos dos preços administrados, considerados os maiores vilões da inflação. E excederam com
folga o aumento de 6,54% do IPC
(Índice de Preços ao Consumidor), no mesmo período.
Os dados são da Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas) e se referem a movimentos de
preços ocorridos na cidade de São
Paulo. Mostram que, neste momento, em que as receitas com
serviços ganham peso no resultado dos bancos,
as instituições têm aproveitado
para reajustar suas tarifas e começar a cobrar por serviços, até então, gratuitos. Em 2003, os lucros
das instituições financeiras foram
bilionários -as sete maiores registraram resultado positivo conjunto de R$ 13,4 bilhões.
Paulo Picchetti, coordenador-geral do IPC da Fipe, explica que
os reajustes dos chamados serviços bancários não chegam a pressionar a inflação porque têm peso
muito pequeno no índice.
Mas diz que aumentos de tarifas
bancárias pesam no bolso dos
brasileiros que utilizam serviços
das instituições financeiras: "As
tarifas bancárias têm peso pequeno no índice porque representam
um percentual muito baixo dos
gastos das famílias que ganham
até 20 salários mínimos (usadas
como base para a pesquisa). Mas
a magnitude desses reajustes chama a atenção".
Administrados
Os serviços de utilidade pública,
por exemplo, aumentaram
14,44%, menos que os 14,52% de
alta das tarifas bancárias nos 12
meses encerrados em janeiro passado. Por trás dessa categoria, há
desde subitens como luz, que subiu 16,98%, a gás de botijão, cujos
preços caíram 6,27% no período.
Já os serviços de comunicações
sofreram reajuste médio de
13,96% entre fevereiro de 2003 e o
mês passado. Também por trás
desse item, há subitens como telefone fixo, que teve alta de 17,72%,
e provedor para internet, que registrou deflação de 14,8%.
Essas tarifas fazem parte do chamado grupo de preços administrados -que têm fórmulas de
reajustes, geralmente, estipuladas
pelo governo- e são consideradas pelos analistas uma das principais fontes de pressão sobre a
inflação nos últimos anos. Ao
contrário dos serviços bancários,
esses itens têm peso grande nos
índices de preços ao consumidor.
Ainda assim, chama a atenção
de analistas que os bancos tenham conseguido realizar reajustes em suas tarifas próximos aos
registrados pelos preços administrados, principalmente em um
período em que a renda do brasileiro tem estado deprimida.
"O sistema bancário é muito
concentrado e o grau de mobilidade dos clientes é baixo. Isso deixa as instituições numa posição
confortável. Ainda assim, chama
a atenção o fato de os bancos conseguirem promover grandes reajustes num momento em que o
brasileiro está com a renda tão deprimida", diz Vinícius Zwarg,
chefe de gabinete do Procon-SP.
O movimento de reajustes das
tarifas bancárias ao longo dos últimos meses foi irregular. Depois
de forte alta de 17,79% em 2002,
contra um IPC de 9,9% no período, os preços desses serviços ficaram estáveis entre janeiro e abril
de 2003, segundo dados da Fipe.
A partir de maio, começou a
tendência de alta. Houve meses,
de fortes picos. Foi o caso de junho do ano passado, quando os
serviços bancários subiram
3,08%, contra uma deflação de
0,16% do IPC. Em novembro passado, as tarifas dos bancos aumentaram 2,64%. Já o IPC teve alta de 0,27%.
Procurados pela Folha, a maior
parte dos bancos não concedeu
entrevista sobre o assunto. Foram
os casos de Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal, ABN Amro,
Santander, Unibanco e Itaú. As
exceções foram HSBC e Bradesco.
Segundo Márcio Cypriano, presidente do Bradesco, a instituição
não promoveu fortes reajustes de
tarifas nos últimos meses. No entanto, explica ele, passou a cobrar
por serviços, até então, gratuitos.
Desde dezembro, o Bradesco
cobra por operações feitas em caixas automáticos e por telefone
que ultrapassem limite de dez por
mês. Quem extrapola esse limite
paga, agora, R$ 0,9 por transação
excedente. "Não houve reajustes,
mas ajustes de tarifas. Fizemos isso porque há pessoas que abusam. Vão ao banco cinco vezes
por dia ver saldo. Por isso, colocamos limitadores", diz Cypriano.
Segundo Glen Valente, diretor
de marketing e produtos do
HSBC, 95% dos clientes da instituição estão enquadrados em pacotes de tarifas que, praticamente,
não sofreram reajustes nos últimos 13 meses.
Em relação às tarifas cobradas
fora desses pacotes, Valente afirma que a maior parte subiu menos que a inflação. Há exceções
que, segundo ele, têm causas específicas. É o caso do uso da rede
de Banco 24 horas, cuja tarifa subiu 25% em 2003, de R$ 1,60 para
R$ 2: "Nesse caso, o Banco 24 horas reajustou os preços e nós tivemos de repassar os custos".
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