São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008 |
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Consumidor tenta escapar de "armadilha" do crédito
Dinheiro fácil pode acabar em pesadelo para quem contrai várias prestações
PAULO DE ARAUJO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A expansão do crédito estimula a economia, mas ao mesmo tempo leva os consumidores a um beco sem saída. Após a gastança incentivada pelo crédito farto, muitos se vêem atolados em dívidas e acabam vivendo um pesadelo. A pressão das empresas de cobrança, a baixa auto-estima e até mal-estar físico fazem parte do relato dos endividados. É o caso do analista de sistemas Gilberto Lima, 33. Há aproximadamente dois anos, ele vivia em plena euforia. Os bancos pareceram mais generosos e ampliaram o limite do cheque especial. O dinheiro disponível chegava a mais de dez vezes o seu salário. O carro zero dava para pagar em 60 meses. E assim ele passou a consumir "mais e mais". A felicidade durou pouco e custou caro. Hoje, Lima acumula uma dívida de cerca de R$ 40 mil, mais de 15 vezes a sua renda mensal. Deve para dois bancos, uma financeira e uma rede de eletrodomésticos. Lima diz que acabou iludido pelo dinheiro fácil e, quando parou para pensar, já estava "enrolado". Para ele, trata-se de um sistema "perverso". "Eu sempre fui bom pagador. Mas eles te dão um monte de facilidades. É uma coisa que vicia. Você compra um carro legal, isso dá status. E a auto-estima vai lá para cima", diz. Quando chegou a hora da verdade e veio a vez de pagar a conta, a situação toda se inverteu. Segundo Lima, o carro, um Corsa adquirido em 60 parcelas, foi sua primeira perda. Teve de entregá-lo após ficar devendo três prestações. Ele afirma que já tinha pago R$ 10 mil. Depois, começou o assédio das empresas de cobrança, com "toda a pressão psicológica". Lima afirma que ainda levará cinco anos para conseguir se livrar da dívida. Até lá, terá de viver como tem vivido: "Não sei mais o que é me divertir. Minha vida agora é trabalho, casa e casa, trabalho", afirma. Dorabela Miranda, 47, tem uma história parecida. Entrou na ciranda do crédito e aproveitou para comprar casa, carro, móveis para decoração e TV de 29 polegadas. Para pagar uma prestação, contraía dívida com o banco. E depois tomava mais dinheiro emprestado para cobrir o rombo na conta. Hoje, 60% do seu salário está comprometido. "Crédito é uma armadilha, deixa a gente deslumbrada. Agora, estou numa gelada. A pressão é tanta que às vezes me sinto até meio doente", conta. Miranda teve de cortar muitas das coisas de que gostava : TV a cabo, curso de graduação em gestão de negócios, academia. Despesas, agora, só com o estritamente necessário. Em comum, Lima e Miranda têm, além de suas dívidas, as visitas freqüentes ao site www.endividado.com.br, que trata do direito do consumidor. Portas abertas Mesmo com uma renda familiar mensal de R$ 13 mil, a jornalista e artista plástica brasiliense Gabriela de Souza assumiu cinco financiamentos diferentes: imobiliário, de veículo, crédito consignado e duas linhas de crédito pessoal. Com o que ganha, ela consegue pagar todas as dívidas e faz questão de mantê-las em dia. Mas fica no vermelho com freqüência. Na semana passada, o saldo de duas contas estava negativo em R$ 7.000, pelos quais pagará juros de 152% ao ano. Mesmo com tantos financiamentos, ela acredita que as portas dos bancos e financeiras de lojas continuam abertas. "Se eu quiser comprar uma TV de plasma, vou à Casas Bahia com meu contracheque. Tenho certeza que consigo", afirmou. Ojeriza ao crédito Na contramão da onda consumista está o administrador de empresas Douglas Benteo, 54. Tinha crédito farto quando era empresário do ramo de alimentos e bebidas. Mas a empresa acabou falindo, e os bancos lhe viraram as costas. Hoje, ele compra tudo à vista. "Eu não me iludo com esse consumo louco, isso desestrutura as famílias. Esse sorriso todo, com máquina fotográfica, TV digital, celular, tudo a prazo, vai provocar uma quebradeira geral. Vamos ver o reverso da medalha", afirma. Colaborou a Sucursal de Brasília Texto Anterior: Rubens Ricupero: Quem é o inimigo do Brasil? Próximo Texto: Frases Índice |
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