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FÁBRICA DE LUCRO
Juro alto e "spread" fazem instituições do país terem rentabilidade de 23%; no México, taxa é de 17%
Bancos brasileiros são os mais rentáveis
GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bancos brasileiros são, pelo
segundo ano consecutivo, os mais
rentáveis em comparação aos de
outros países, como México,
EUA, Itália, Espanha, Inglaterra e
Canadá. Em 2002, a rentabilidade
média dos seis maiores bancos
brasileiros foi de 23%, enquanto
no México, por exemplo, foi de
17% e, na Itália, de 9%.
Os juros altos obtidos com os títulos públicos e o "spread" bancário -a diferença entre a taxa de
captação dos bancos e o valor cobrado para emprestar os recursos
aos clientes- são os principais
fatores que fazem a rentabilidade
ser maior no Brasil.
Esse é o resultado de levantamento feito pela ABM Consulting, a pedido da Folha, mostrando a evolução da rentabilidade
dos seis maiores bancos de cada
país nos últimos três anos.
O principal indicador considerado no estudo foi a rentabilidade
sobre o patrimônio líquido, que
significa, percentualmente, quanto cada unidade monetária do patrimônio foi capaz de gerar de lucro. Ou seja, em média, para cada
R$ 100 de patrimônio líquido, um
banco canadense tem R$ 8 de lucro líquido, enquanto no Brasil
esse valor sobe para R$ 23.
"A margem é muito alta porque
as taxas reais dos juros são altas
no Brasil. Os investidores estrangeiros se questionam quando os
bancos brasileiros terão margens
iguais às dos outros países da
América Latina", diz Fabiana
Arana, analista do setor de bancos
da Schroder Brasil.
Segundo ela, à medida que o
Brasil tiver uma diminuição do
"spread", os bancos terão de buscar uma estrutura operacional
mais adequada e competitiva.
Alan Marinovic, economista da
ABM Consulting, ressalta que a
principal forma de os bancos internacionais ganharem dinheiro
em um ambiente de juros baixos é
com o volume de crédito concedido. "Com a diminuição dos juros,
os bancos brasileiros teriam de
passar por grandes ajustes."
Mas Arana diz que, no atual patamar dos juros básicos (Selic em
26,5% ao ano), o estímulo para
um banco aumentar seu volume
de recursos emprestados é pequeno. "Para que se esforçar se eles
podem aplicar em títulos públicos, ganhar juros altos do governo
e ainda não correr riscos de inadimplência?", diz Arana.
Uma das principais justificativas dos bancos para não diminuir
o "spread" bancário é o elevado
grau de inadimplência. "E com a
dificuldade em recuperar os bens,
os bancos se sentem fragilizados e
acabam aumentando o "spread'",
diz Gustavo Hungria, analista do
banco Pactual.
Mas apesar de haver atraso nos
pagamentos e renegociação de dívidas, o indicador de insolvência
da AMB, divulgado pela Folha em
dezembro do ano passado, indica
que apenas 5,82% do total de empréstimos não são pagos.
Especificidades
Alguns analistas dizem que a
pesquisa não contempla algumas
especificidades. "Cada banco tem
um mix de negócios muito diferente, como a administração de
recursos de terceiros, que quase
não exige patrimônio e gera rentabilidade", diz Bruno Pereira,
analista do UBS Warburg.
O analista Philip Harrison, do
banco ING em Londres, afirma
que é preciso tomar cuidado ao
comparar bancos de diferentes
países devido a eventuais formas
de contabilizar os resultados.
Entretanto, bancos como o Itaú,
Unibanco e Bradesco possuem
ações na Bolsa de Nova York e,
portanto, são obrigados a divulgar seus balanços segundo as exigências norte-americanas.
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