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É o fim da "Era de Ouro" da alimentação
DE WASHINGTON
Um dia, olharemos para as
gôndolas dos atuais supermercados das grandes cidades ocidentais com nostalgia.
Nunca mais o mundo terá
tanta variedade na oferta de
alimentos como hoje. Vivemos o que Paul Roberts chama de a "Era de Ouro" da alimentação. "Damos como
certo que tudo será melhor a
cada ano, com mais variedade, melhor qualidade, preços
mais baixos, que vinha sendo
a dinâmica até agora", diz o
autor. "Nada mais errado."
Para ele, a equação atual se
sustentava enquanto apenas
a parte mais rica do mundo
tinha acesso. Com a ascensão
à classe média de largas fatias da população de países
como China, Índia e Brasil,
não haverá qualidade e
quantidade que chegue para
tanta gente. "É o fim do morango 12 meses por ano", decreta. Como assim?
"Vivo no Estado de Washington, onde só dá morango
em uma época do ano", conta. "Acontece que meu filho
foi criado de maneira a querer comer morango todos os
meses, e a ter esse desejo satisfeito. Assim, para atender
a mim e a milhares de outros
pais, meu supermercado
compra morangos de outros
lugares, que chegam aqui a
um custo ambiental e econômico elevadíssimo, gastando
combustível de avião."
Isso deve acabar, diz. No
lugar, Roberts acredita que
será valorizada a produção
local, com custo de distribuição menor, e produtos exóticos serão um luxo para poucos. Também os produtos industrializados terão queda.
"Imagino que, na era em que
estamos entrando, cozinharemos mais, em vez de comprar pronto, porque processar alimento e distribuí-lo
vai ficar cada vez mais caro."
"Hoje em dia, a indústria
alimentícia faz tudo por você, menos mastigar a comida
-isso porque ainda não
acharam um jeito", brinca
Roberts. "Eu vejo a crise levando as pessoas a retomar o
controle da cadeia alimentar,
pelo menos mais do que hoje.
Vejo as pessoas comendo
menos carne. E repensando
a distribuição."
Não é o caso de romantizar
o passado, defende-se. "Há
muito do que aconteceu no
passado que deve ficar lá,
mas a alimentação sazonal,
baseada no que é da época ou
não, fazia muito sentido. Se
não é época de morangos,
que se espere."
(SD)
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