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COMÉRCIO INTERNACIONAL
País reclama de yuan desvalorizado, mas vê exportações para o vizinho crescerem 27,8%
Japão pega carona no crescimento chinês
JAMES BROOKE
DO "NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO
O Japão e os Estados Unidos se
queixam de que a moeda da China está desvalorizada. Mas, enquanto os norte-americanos
vêem seu déficit comercial com o
país inflar em ritmo recorde, o Japão anunciou na quinta-feira que
suas exportações para o mercado
chinês aumentaram 27,8%.
O déficit mensal no comércio japonês com a China caiu 21% em
outubro, para pouco menos de
US$ 2 bilhões. E, quando incluímos no cálculo o comércio com
Hong Kong, o déficit na prática se
transforma em um superávit de
US$ 778 milhões no mês.
"As queixas sobre o valor baixo
do yuan se aquietaram bastante
porque as exportações seguem
nos trilhos", disse Peter J. Morgan, economista-chefe do banco
HSBC, sobre as reclamações ouvidas no Japão, um mês atrás, da taxa de câmbio chinesa, cujo valor
não se altera há muito tempo.
Com China e Hong Kong adquirindo aço, peças para celulares, componentes para aparelhos
de videogame e telas de cristal líquido japoneses em grande volume, as vendas para os mercados
chinês e de Hong Kong responderam por 63% do crescimento das
exportações japonesas no mês
passado. Em contraste, as exportações japonesas aos Estados Unidos caíram 6,2%, o décimo mês
consecutivo de queda.
Dependência
As exportações japonesas ao
mercado norte-americano caíram, em parte, porque as montadoras de automóveis do país cada
vez mais produzem seus veículos
em fábricas nos EUA -em lugar
de enviá-los de navio para o outro
lado do oceano Pacífico. Além
disso, o iene se valorizou 10% em
relação ao dólar, de julho para cá,
e fechou na quinta-feira cotado a
107,50 ienes por dólar.
"A China continua a ser a fonte
da maior parte do crescimento
nas exportações", escreveu Richard Jerram, economista da ING
Financial Markets. Com a China
se tornando o maior exportador
mundial para o Japão, escreveu
ele, "a dependência japonesa em
relação aos Estados Unidos foi
substituída por uma dependência
ainda maior ante a China e os Estados Unidos ao mesmo tempo".
O Japão, que nos últimos anos
avançou relativamente pouco rumo às reformas econômicas, agora se vê arrastado para uma alta
devido ao vigoroso crescimento
de seus dois maiores parceiros comerciais. A economia dos EUA
cresceu a um ritmo anualizado de
7,2% no terceiro trimestre, enquanto a China atingiu um ritmo
de crescimento anualizado de
9,1%. Preso entre os dois, o Japão
conseguiu registrar crescimento
anualizado de 2,2% no período.
"A economia está se recuperando", disse a assessoria do gabinete
japonês ao anunciar formalmente
uma melhora em sua avaliação da
situação econômica do país, que
registrou sete trimestres sucessivos de crescimento.
"Nós adotamos uma avaliação
mais positiva, já que os investimentos e os lucros das empresas
avançaram, e a produção industrial do país se recuperou", disse
Heizo Takenaka, ministro da Economia, em entrevista coletiva
concedida na quinta-feira.
O Instituto Daiwa de Pesquisa,
um dos mais importantes órgãos
japoneses de levantamento econômico, previu que a economia
do Japão cresceria 2,7% no ano
fiscal que se encerra em 31 de
março de 2004 e que o ritmo de
crescimento atingiria os 2,8% no
ano seguinte.
Sinais
A Kobe Steel informou na quinta que seus lucros semestrais haviam subido 72% ante o mesmo
período de 2002, uma alta atribuída em parte às robustas vendas de
aço e derivados à China.
Embora a China continue a ser o
propulsor mais forte da economia
japonesa, a recuperação está acarretando o pagamento de gratificações de fim de ano mais elevadas,
que devem estimular o consumo,
fonte de metade da atividade econômica japonesa.
As boas notícias econômicas fizeram o índice médio Nikkei da
Bolsa de Valores de Tóquio subir
2,6% na quinta-feira, quase eliminando a queda registrada durante
a semana, que o levou abaixo da
marca dos 10 mil pontos, uma
barreira psicologicamente importante. O índice fechou em 9.865
pontos. Nas últimas três semanas,
investidores estrangeiros compraram mais ações do que venderam nas bolsas japonesas, segundo informou na quinta-feira a
Bolsa de Tóquio.
Com os economistas de Tóquio
prevendo índices de crescimento
da ordem dos 9% para a China
neste ano e no ano que vem, todos
os setores da economia japonesa
estão tentando se redirecionar. As
linhas aéreas vêm aumentando o
número de vôos para a China, as
companhias de turismo estão tentando atrair mais turistas chineses, e as empresas estão construindo mais fábricas na China ou
vendendo bens de capital para
que empresários locais construam fábricas próprias.
"O Japão é um grande exportador de bens de capital, e existe um
forte boom de investimento em
bens de capital em curso na China", disse Morgan.
Por enquanto, as duas maiores
economias asiáticas são razoavelmente complementares. A China
se especializa em produtos que requerem uso intensivo de mão-de-obra, e o Japão tem seu melhor
desempenho nos bens de alta tecnologia, que requerem capital e
talento de design.
Até o momento, cerca de um
quarto das exportações japonesas
concorrem diretamente com produtos chineses, estimou Graham
Hutchings, analista de assuntos
chineses na Oxford Analytica, em
palestra nesta semana. Capturando o tom do momento atual, o título da palestra de Hutchings era
"A Ascensão da China: O Japão
Precisa Ter Medo?"
Embora as respostas oferecidas
por ele não sejam conclusivas,
muitas das lideranças empresariais japonesas parecem encarar a
China mais como oportunidade
do que como ameaça. A China
não segue o modelo protecionista
adotado pelo Japão no pós-guerra. Neste ano, as importações chinesas aumentaram 40%.
Os líderes empresariais japoneses continuam a escrever artigos
de opinião para os jornais lastimando a cotação deslealmente
baixa da moeda chinesa. Mas, no
mês passado, eles conseguiram
enviar ao mercado chinês o recorde de US$ 5,7 bilhões em exportações -e isso excluídas as vendas
para Hong Kong.
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