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Desigualdade só muda de patamar em 2016
Para Ipea, só em 8 anos Brasil deixará de ser um país "primitivo" na desconcentração de renda do mercado de trabalho
País deixará de ter a realidade "primitiva" quando índice de
Gini ficar abaixo de 0,45, diz
Marcio Pochmann; hoje,
indicador está em 0,505
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mantidos os atuais ritmos de
crescimento da economia, de
recuperação do salário mínimo
e ações de transferência de renda, somente em 2016 o Brasil
deixará de ser um país "primitivo" na distribuição de renda do
mercado de trabalho.
Na prática, em oito anos, diminuirá a diferença (hoje em
23,5 vezes) entre a média salarial dos mais pobres e dos mais
ricos, segundo projeção feita a
pedido da Folha pelo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann.
A estimativa de Pochmann
tem como base o índice de Gini,
que mede a concentração de
renda do trabalho nas seis
principais regiões metropolitanas do país (Recife, Salvador,
São Paulo, Porto Alegre, Belo
Horizonte e Rio de Janeiro).
De acordo com estudo do
Ipea, divulgado ontem e feito
com base em dados do IBGE, o
índice passou de 0,541 no primeiro trimestre de 2003 para
0,505 no mesmo período de
2008, o que representa uma
desconcentração de renda de
6,65%.
Usado para medir a desigualdade, o índice varia de zero a
um. No caso, quanto mais perto
de um, maior a desigualdade, e,
quanto mais perto de zero, menor será a desigualdade.
Segundo Pochmann, um país
deixa de ter a realidade "selvagem" e "primitiva" quando esse
índice fica abaixo de 0,45. Ele
disse à Folha que esse nível pode ser atingido em 2016, contando com um cenário de baixa
inflação e de estabilidade nas
taxas de crescimento.
O índice tem como base a
renda dos ocupados, que inclui
os salários, mas também aposentadorias e benefícios de
programas de transferência de
renda. Juros, lucros e renda da
terra, por exemplo, não entram
nessa conta.
Apesar de recentes quedas
anuais, nos últimos dois trimestres avançou o índice que
mede a concentração de renda.
Passou de 0,502 no terceiro trimestre de 2007 para 0,505 no
primeiro trimestre deste ano.
Segundo Pochmann, novos investimentos, que exigem a contratação de trabalhadores mais
qualificados, ou seja, com salários mais altos, ajudam a explicar o avanço da concentração
de renda -também registrada
em alguns trimestres dos anos
anteriores.
Segundo o estudo, o que também chama a atenção é a forte
recuperação de renda nas camadas mais pobres da população. Entre 2003 e 2007, a renda
dos 20% mais pobres cresceu
25,9%, contra 5,6% dos 20%
mais ricos.
Impulsionada pelo crescimento do PIB e pela redução
do desemprego, a diferença é
ainda maior se comparados
apenas os dois extremos. No
mesmo intervalo, os 10% mais
pobres tiveram ganho de renda
de 22%, ante 4,9% dos 10%
mais ricos, diferença de 448%.
Carga tributária
Para o professor Jorge Pinho,
do Departamento de Administração da UnB (Universidade
de Brasília), a elevada carga tributária trava a desconcentração da renda. "O país virou uma
república fiscal. Essa voracidade tributária não faz bem nem
para a empresa, nem à pessoa
física, nem à massa salarial. O
governo não faz nada para impedir", afirma.
Segundo ele, a tendência é
que as pessoas de baixa renda,
por conta da baixa formação,
continuem nessa mesma escala. "Hoje tem mais gente recebendo [salário ou benefícios],
mas também mais gente recebendo menos. A tendência é
que essas pessoas continuem
recebendo menos."
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