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BC age "tempestivamente" e eleva aperto
Após aumento das previsões do mercado para inflação, BC intensifica alta dos juros e sobe Selic em 0,75 ponto, para 13%
Decisão do Copom foi unânime; Meirelles já havia sinalizado que banco faria o que julgasse ser "necessário" para combater inflação
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central acelerou o
ritmo do aperto monetário iniciado em abril e elevou ontem
os juros básicos da economia
em 0,75 ponto percentual. Com
o aumento, a taxa Selic passou
de 12,25% ao ano para 13%,
mesmo nível observado em
março do ano passado.
A decisão foi tomada por
unanimidade pelo Copom (Comitê de Política Monetária do
BC), que, por meio de nota, informou que o objetivo da medida é "promover tempestivamente a convergência da inflação para a trajetória de metas".
Nas duas reuniões anteriores, a
alta foi de 0,5 ponto percentual.
No mercado financeiro, a
maior parte dos analistas apostava em mais uma elevação de
0,5 ponto, embora alguns não
descartassem a possibilidade
de uma alta de 0,75 ponto devido às pressões que ainda se observam sobre a inflação, notadamente nos preços do atacado, que ainda podem ser transmitidos ao varejo.
A decisão do BC indica que a
série de altas pode se encerrar
mais cedo do que se imaginava
-o Copom pode optar por fazer
um aumento maior mais rapidamente do que fazer ajustes
graduais por um período mais
longo. Até ontem, a expectativa
era que a taxa Selic continuasse
subindo até janeiro do ano que
vem, mas agora essas projeções
devem ser revistas.
Outra indicação é a de que,
apesar de sinais isolados de que
a alta dos preços pode estar
perdendo força, o BC ainda está
bastante preocupado com o ritmo vigoroso do crescimento
econômico.
No setor privado, o pessimismo já vem aumentando há algum tempo: pesquisa feita pelo
próprio BC todas as sextas com
bancos e consultorias mostra
que, há 17 semanas, a projeção
do mercado financeiro para a
inflação (IPCA) tem subido seguidamente, chegando a 6,53%
no levantamento mais recente
-acima, portanto, dos 6,50%
estabelecidos pelo teto da meta
de inflação do governo, de 4,5%
com dois pontos de tolerância.
No acumulado dos últimos 12
meses, está em 6,06%.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, vinha sinalizando em discursos recentes sua
maior preocupação principalmente com as expectativas para o IPCA em 2009, cuja meta é
igual à deste ano. Na semana
passada, Meirelles disse que o
BC "fará o que for necessário,
enquanto for necessário" para
levar a inflação para a meta.
Desde março, quando a série
de elevação dos juros teve início, o BC se diz preocupado
com o nível de atividade, principalmente em relação ao consumo interno, que tem sido estimulado pela expansão do crédito e da renda da população. O
risco seria o de o consumo crescer mais do que a capacidade
das empresas de produzir, o
que aumenta a possibilidade de
reajustes de preços.
Esse problema teria se agravado, na visão do BC, com o aumento registrado por alguns
produtos no mercado internacional, como alimentos e petróleo. A saída seria, então, colocar
um freio na economia para reduzir o espaço que esses reajustes teriam para se disseminar
para outros preços.
De lá para cá, porém, não há
sinais de que a economia esteja
desacelerando. As vendas no
varejo, por exemplo, continuaram em alta em maio, crescendo 10,5% em relação ao resultado de maio de 2007. A utilização da capacidade instalada da
indústria medida pela CNI
(Confederação Nacional da Indústria) ainda se mantém em
níveis historicamente altos.
Já a inflação propriamente
dita, por outro lado, começa a
apontar para uma certa estabilidade. No mês passado, o IPCA
subiu 0,74%, acima do 0,28%
de junho de 2007, mas ligeiramente menor que o 0,79% de
maio. O problema é que ainda
não se sabe se o resultado de junho foi um caso isolado ou o
início de uma trajetória real de
queda da inflação. Como a economia pode levar mais de um
ano para sentir, por completo, a
alta dos juros, o BC aumenta a
Selic hoje pensando no impacto dessa decisão no futuro.
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