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Taxa menor fará país crescer, diz analista
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O economista Paulo Guedes, 53,
presidente do Ibmec Educacional,
um instituto privado de educação, acha que o Brasil tem grande
possibilidade de recuperação do
crescimento a partir da queda dos
juros. "Com os juros mais baixos,
o país terá mais investimento e
mais consumo", diz ele.
Guedes faz uma ressalva, no entanto. Segundo ele, o país ainda é
vítima do que a social democracia
fez na Europa. Enquanto nos Estados Unidos, que adotam a liberal democracia, foi criado 1,7 milhão de empregos por ano nos últimos 20 anos, na Europa não foram criados empregos.
A seguir, os principais trechos
da entrevista.
Folha - O sr. acredita na retomada
do crescimento?
Paulo Guedes - Existe uma possibilidade rósea de uma recuperação cíclica. Em primeiro lugar,
porque estamos trabalhando agora com uma trajetória fortemente
declinante de juros, já que a inflação está indo para um dígito.
Também estamos trabalhando
com taxas de câmbio levemente
ascendentes. Na medida em que o
juro vai caindo, o câmbio vai subindo. Com juros mais baixos,
você teria mais investimento e
mais consumo, e com o câmbio
mais alto você teria mais substituição de importação e mais promoção de exportações. São quatro fontes de pressão de demanda
empurrando a economia para
melhor. Esse é o lado bom.
Folha - E o lado ruim?
Guedes - A economia brasileira
está em contração. Nos últimos
cinco anos, o país cresce a taxas de
1% ao ano. O Brasil trincou por
excesso de peso. É o FMI que entra para ficar um ou dois anos e fica 21. É uma política monetária
que, pela estabilidade, em vez de
precisar de juro alto por um ou
dois anos, fica quase duas décadas. A mãe de todo esse desastre é
o excesso de gasto do governo.
Folha - O governo está atacando
os problemas?
Guedes - Foi uma surpresa espetacular a indicação do [Antonio]
Palocci [Filho, ministro da Fazenda], que tem se revelado uma pessoa de muito bom senso. Ele ancorou bem a área econômica.
Agora, acho que estamos sendo
vítimas do que a social democracia fez na Europa. No regime
americano, da liberal democracia,
acredita-se que a economia de
mercado é o fator preponderante
de criação de riqueza para o país.
Na Europa, já é diferente. O impacto do socialismo e da social democracia foi muito maior. A consequência disso é que, nos últimos 20 anos, a Europa não criou
empregos. Enquanto isso, nos Estados Unidos, foi criado 1,7 milhão de empregos por ano.
Folha - O que é preciso ser feito?
Guedes - O primeiro passo é tentar se aproximar da fronteira da
produção. Não é nem investir,
mas aumentar a eficiência de alocação dos recursos que já existem.
O país precisa de uma reforma na
Justiça trabalhista. Os encargos
trabalhistas são muito altos. Lanço um desafio: o governo poderia
fazer uma experiência e baixar os
encargos em 20% para ver se a arrecadação sobe ou não. No Plano
Real, o déficit público campeou
solto no primeiro mandato de
FHC. No segundo mandato, flutuamos o câmbio e adotamos o
regime de metas de inflação. Finalmente, quando tivemos o braço torcido pelo FMI, corrigimos o
déficit fiscal. No ano passado, todos correram para o dólar com
medo do Lula, a dívida interna subiu para 60% do PIB e os bancos
lá fora decidiram cortar o crédito.
Se existisse o Banco Central independente, não teria ocorrido todo
esse frisson.
Folha - Estamos na direção certa?
Guedes - Chegamos ao aperfeiçoamento evolutivo e descobrimos que os preços e os salários
devem ficar livres, desindexados,
e que a política monetária é para
ser usada com meta inflacionária.
Há pouco tempo, voltou um zum-zum de inércia. Foi só o Banco
Central mostrar suas armas [aumentar os juros], que sumiu a
inércia. O problema é que o BC
não pode ficar com o juro alto o
tempo inteiro. Quero elogiar o
PT. O PT aprendeu em seis meses
o que os tucanos levaram quase
duas décadas. Quando falo em tucanos, incluo os economistas tucanos, que estão há duas décadas
no poder. Tudo o que é plano foi
feito com inspiração dessa turma.
Folha - O que falta?
Guedes - Primeiro, a autonomia
do Banco Central, para não termos outro susto ali na frente. A
outra coisa é a política cambial.
Existem vários regimes de câmbio
livre. Existe o câmbio flexível com
US$ 500 bilhões de reserva, que é
o caso do Japão. Tem o russo, com
US$ 70 bilhões de reserva, e tem o
câmbio flexível brasileiro, que é o
"peladão", sem reserva. O Banco
Central tem de admitir que, ao
brincar de câmbio flexível, isso
não significa ausência de intervenção. O Banco Central deveria
adotar um sistema de meta de reservas, a exemplo do regime de
metas de inflação. O Banco Central não é o proprietário das reservas cambiais, é o fiel depositário.
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