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ANTICORPOS
País precisa manter atual política macroeconômica para se proteger do contágio de um desaquecimento global
Fazenda procura vacina contra turbulência
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para proteger o Brasil de um
maior contágio do desaquecimento econômico global o governo precisa manter "a atual linha
macroeconômica" e "não tergiversar na aprovação das reformas" da Previdência e tributária,
disse à Folha o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto.
"O importante é que nós criemos os anticorpos, é fortalecer o
organismo diante dos riscos. A
grande geração de anticorpos é
uma boa resposta em política monetária e a aprovação das reformas [...] Essa é a grande vacina",
afirmou.
Ele diz que a desvalorização do
dólar em relação ao euro pode até
beneficiar as exportações brasileiras, mas desde que a Europa não
desabe. Leia a seguir a entrevista
que Canuto concedeu à Folha no
começo da semana passada.
Folha - Qual o efeito sobre a economia da desvalorização do dólar
em relação às outras moedas?
Otaviano Canuto - Há dois cenários. No primeiro, haveria desvalorização gradual e não muito intensa [do dólar]. Esse seria o cenário mais benigno, pois daria tempo aos agentes econômicos para
se adaptar ao novo quadro. O outro cenário, pessimista e preocupante, poderá se dar caso o realinhamento cambial entre dólar,
euro e iene ocorra de forma mais
abrupta e profunda. Toda a vez
em que há movimento [cambial]
intenso você gera turbulência [no
mercado financeiro].
Folha - O fortalecimento do euro
em relação ao dólar não prejudicará a União Européia?
Canuto - Pelo lado das exportações, sim. Mas isso [o enfraquecimento do dólar] abre uma janela
para o afrouxamento da política
monetária européia. Porque a valorização do euro derruba a inflação [os produtos importados ficam mais baratos no mercado doméstico europeu], o que permite
a redução da taxa de juros. A economia européia seria reativada
pelo lado interno, não externo.
Folha - Muitos analistas dizem
que o Brasil pode ser beneficiado
por conta da queda do dólar.
Canuto - A valorização do euro
aumenta a nossa competitividade
na Europa, dado que nossa moeda flutua em torno do dólar [o real
acompanha a depreciação do dólar em relação ao euro e às demais
moedas fortes].
Folha - Esse é o lado positivo da
desvalorização do dólar. E o lado
negativo?
Canuto - O Brasil tem sido destaque positivo entre os emergentes.
Mas isso não impede que os fluxos e refluxos de dinheiro [o capital estrangeiro volátil que deixa os
países a qualquer sinal de risco]
para economias emergentes afete
o Brasil.
O bom desempenho da economia brasileira serve como espécie
de atenuante dessa tendência [de
volatilidade dos capitais internacionais]. Mas é claro que, se a economia mundial desabar, aí ficamos todos iguais.
Folha - Vocês temem então uma
retração no fluxo de capitais para
mercados emergentes?
Canuto - Isso depende muito da
resposta da política monetária
dos países desenvolvidos e também da aversão ao risco dos investidores estrangeiros. O importante é que nós criemos os anticorpos, é fortalecer o organismo
diante dos riscos. A grande geração de anticorpos é uma boa resposta em política monetária e a
aprovação das reformas.
É continuar mostrando que domesticamente estamos fazendo
aquilo que é necessário para reforçar a saúde da economia. Essa
é a grande vacina com a qual o
país se prepara para enfrentar toda e qualquer turbulência.
Folha - Com que cenário a Fazenda trabalha para o desempenho da
economia mundial?
Canuto - Trabalhamos com
perspectivas de acomodação do
crescimento mundial num patamar mais baixo do que nos últimos anos, pelo menos neste ano.
Folha - Ainda assim a economia
brasileira cresceria 3,5% no ano
que vem, como prevê o governo?
Canuto - Esse quadro de acomodação da economia mundial na
margem, que não é um cenário
catastrófico, já estava embutido
nas nossas projeções quando avaliamos o crescimento da economia em 3,5% no ano que vem.
Mas isso pressupõe que a economia européia não desabe. Se a
economia européia desabar, as
exportações americanas caem, e o
retorno do crescimento econômico mundial fica mais difícil.
Folha - Diante de um fraco desempenho econômico mundial, os
investimentos diretos na economia
brasileira não cairiam ainda mais?
Canuto - O investimento direto
vai depender da nossa capacidade
de crescimento sustentado. A cada dia em que o compromisso
com o programa que nós nos propusemos fica mais sólido, mais
um passo nós estamos dando na
direção de fortalecer essas decisões [de investimento no país].
O segundo semestre deste ano
será um período essencial. Os
agentes econômicos terão os parâmetros para tomar as decisões
sobre os investimentos que irão
fazer no país.
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