|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dilma admite reuniões com Roberto Teixeira na Casa Civil
Encontros não estão registrados na agenda pública da ministra, o que contraria decreto
Titular da Casa Civil afirma que leilões da Varig
foram tema de reuniões
e que denúncias são
"escandalização do nada"
Sergio Lima/Folha Imagem
|
|
A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, durante entrevista
LETÍCIA SANDER
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ministra Dilma Rousseff
admitiu ontem que o advogado
Roberto Teixeira, compadre do
presidente Lula, foi recebido
pelo menos duas vezes na Casa
Civil em encontros omitidos de
sua agenda pública e anteriormente negados por sua assessoria. Teixeira é acusado de influir na venda da VarigLog para
o fundo Matlin Patterson, para
quem advoga.
A omissão desses encontros
fere o decreto 4.334, de agosto
de 2002, que determina que audiências de autoridades públicas com representantes de interesse privado devem ser registradas e acompanhadas por
outro servidor.
Em entrevista no Planalto,
Dilma admitiu que em um dos
encontros estava presente uma
das filhas de Teixeira, Valeska,
que é afilhada de Lula e também advoga para a VarigLog. As
reuniões, segundo ela, trataram
de "questões relativas aos leilões da Varig", comprada pela
VarigLog.
Questionada se advogados de
outras companhias interessadas no negócio receberam
atenção semelhante, Dilma reconheceu que não. Segundo ela,
os presidentes da Gol e da TAM
foram recebidos, mas não advogados das empresas.
Ontem, a Folha revelou que
Teixeira esteve pelo menos seis
vezes no Palácio do Planalto
com Lula desde 2006, em encontros que também não foram registrados na agenda pública do presidente. Em duas ocasiões (15 de dezembro de
2006 e 28 de março de 2007), a
ministra estava presente, conforme já se sabia.
Duas horas depois da entrevista de Dilma, a assessoria de
imprensa da Casa Civil informou que os dois encontros que
ela teve com Teixeira aconteceram nessas datas, as mesmas
em que o advogado esteve com
Lula. Mas a explicação da ministra gerou uma contradição,
já que os leilões da Varig aconteceram antes, em junho e julho de 2006.
A assessoria também informou que a ministra não tem a
lembrança precisa dos locais
dos encontros. Na entrevista,
Dilma já se confundira sobre os
locais, dizendo inicialmente
que eles aconteceram em seu
gabinete e depois na sala de
reuniões da Casa Civil.
Dilma é acusada pela ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) Denise
Abreu de interferir em favor do
fundo norte-americano Matlin
Patterson, suspeito de ferir a
lei que limita em 20% a participação de estrangeiro no capital
de companhias aéreas. A ministra nega.
Com base no decreto 4.334,
assinado pelo ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, a
Comissão de Ética Pública, vinculada à Presidência da República, recomenda que os registros desse tipo de agenda (com
representante do setor privado) devem permanecer disponíveis para consulta pública,
exceto nos casos em que se justifique sigilo.
Caso o comportamento da
ministra seja analisado e venha
a ser considerado inadequado
pela Comissão de Ética, há três
tipos previstos de sanção: advertência, censura ou uma sugestão de demissão, a ser encaminhada ao presidente da República.
Sobre o decreto, a Casa Civil
informou que ele trata apenas
de audiências formais e que,
nesse caso, tratou-se de encontro informal.
O empresário Marco Antonio Audi, um dos sócios brasileiros da VarigLog, afirmou que
a influência de Teixeira foi
"100% decisiva" para a venda
da empresa de cargas para o
Matlin e os brasileiros. Já nas
mãos do grupo, a VarigLog adquiriu a Varig e, depois, revendeu-a à Gol.
Nesta semana, Teixeira reconheceu que pode ter recebido
até US$ 5 milhões da empresa
aérea, entre honorários, custas
judiciais e outras despesas.
Na entrevista, Dilma reclamou das perguntas sobre o tema e disse que há uma "escandalização do nada", repetindo
expressão usada por ela durante o episódio do dossiê elaborado na Casa Civil contra políticos tucanos.
Dilma negou que sua agenda
seja "uma ficção pura" e disse
que chega a ter três encontros
na mesma hora. Depois disse
que sua agenda é pública, apesar dos encontros não registrados. Um problema técnico no
site da Casa Civil impede a consulta dos compromissos anteriores a setembro de 2007.
Respondendo à acusação de
que teria interferido em favor
do grupo formado pelo fundo
americano e os sócios brasileiros, a ministra da Casa Civil
afirmou ter participado pouco
do processo da Varig, que, de
acordo com ela, concentrou-se
na Justiça. Mas reconheceu
que "o governo não queria que
a falência da Varig fosse um ato
de inação do governo".
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Ex-diretora relata encontros exclusivos com a ministra Índice
|