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Brasil tenta derrubar na UE "taxa verde" ao álcool
País ameaça ir à OMC contra lei que tenta reduzir vantagem dos biocombustíveis
Brasil mobiliza diplomacia para convencer europeus das vantagens ambientais do álcool, que emite menos gases do que a gasolina
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O Brasil mobilizou sua diplomacia para convencer a União
Européia a não levar adiante
uma lei que reduziria a vantagem ambiental dos biocombustíveis, comprometendo a imagem do álcool e a campanha do
governo Lula para transformar
o produto em commodity internacional. Num encontro
com representantes da UE na
segunda-feira, diplomatas brasileiros deixaram claro que não
descartam recorrer à OMC
contra a iniciativa.
O projeto que está atualmente em estudo no Parlamento
Europeu prevê o corte de 24%
na taxa de redução de emissões
de gases poluentes de cada biocombustível, tornando-os menos atraentes. O álcool brasileiro, que emite 74% menos gases
do que a gasolina, teria essa taxa reduzida para 50%.
A preocupação com os possíveis danos dessa lei a seus interesses levou o Brasil a reunir,
em sua missão em Bruxelas,
membros da CE (Comissão Européia), o braço executivo da
UE, e representantes de nove
países. Embora a reunião tenha
sido de nível técnico, e não político, os interesses comerciais
não puderam ser ignorados.
Elaborado pelo deputado
sueco Anders Wijkman, o projeto cria uma taxa sobre o "uso
da terra", com base numa idéia
polêmica: a de que mesmo os
biocombustíveis mais "verdes"
provocam dano ambiental indireto, pois forçam o deslocamento de plantações e, nos piores casos, causam desmatamento. É exatamente a idéia
que o Brasil tenta combater nos
fóruns internacionais.
Para convencer as autoridades européias das vantagens
ambientais do álcool, o Itamaraty levou a Bruxelas o professor Isaías Macedo, especialista
em biocombustíveis da Unicamp. A UE respondeu convocando seu próprio expert, Robert Edwards. O Brasil mostrou números da eficiência do
álcool de cana, mas não deixou
de lado a ameaça velada de
apresentar uma queixa à OMC.
O conceito de Wijkman,
membro do Comitê de Meio
Ambiente do Parlamento, divide opiniões também dentro da
Comissão Européia. Há uma
queda-de-braço entre os setores de Energia e Transporte,
que são favoráveis aos biocombustíveis, e o de Meio Ambiente, que os vê com desconfiança.
Os ambientalistas não conseguiram fazer a UE rever a meta
de ter, até 2020, 10% do transporte rodoviário movido a biocombustíveis. Mantida a meta,
abre-se um grande mercado
para o biocombustível estrangeiro, principalmente o biodiesel, o mais usado na Europa.
A nova norma, se aprovada,
atingiria outros biocombustíveis com mais força que o álcool, mas o Itamaraty acha que
a imagem do mercado como
um todo sofreria um golpe. "Seria uma pancada" nos biocombustíveis, reconhece um especialista no assunto. O Brasil
também prefere manter um recurso à OMC como uma opção
remota, pois acha que causar
barulho em torno do assunto
pode ferir seus interesses mais
do que uma possível vitória.
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