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CAPITALISMO VERMELHO
Apesar de metade dar prejuízo, governo evita privatizações; meta é criar conglomerados multinacionais
China ainda tem 159 mil empresas estatais
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Vinte e seis anos depois de iniciar a reforma de sua economia, a
China ainda tem 159 mil empresas estatais, que empregam 85 milhões de pessoas e possuem patrimônio de US$ 1,4 trilhão, valor
equivalente ao PIB do país.
Apesar de metade dessas empresas darem prejuízo, a palavra
"privatização" não faz parte do
vocabulário dos líderes do Partido Comunista. Pelo contrário. O
governo está determinado a manter sob seu controle as grandes estatais consideradas estratégicas,
transformando-as em empresas
multinacionais capazes de competir no mercado global.
Para isso, está em marcha um
processo de consolidação das estatais em imensos grupos empresariais, que estão tendo de adotar
as mesmas regras de eficiência do
setor privado. Até agora, a estratégia tem dado resultados.
Na última edição da "Fortune
500", com as 500 maiores companhias do mundo, a China aparece
com o número recorde de 15 empresas -três a mais que no ano
anterior-, das quais 14 são estatais. No conjunto, os ativos desses
grupos somam US$ 358 bilhões.
Há dez anos, a China emplacava
três empresas na lista, cujos ativos
eram de US$ 41 bilhões. Na mesma época, o Brasil estava representado por duas companhias,
com patrimônio de US$ 29 bilhões. Na edição mais recente da
"Fortune 500", o Brasil conseguiu
um avanço bem mais modesto
que o dos chineses: passou de
duas para três empresas, que têm
ativos somados de US$ 61 bilhões.
Os conglomerados estatais chineses se autodefinem com expressões como "jumbo", "mega"
e "ultra", que terminam parecendo acanhadas diante dos números que eles apresentam.
A China National Petroleum,
por exemplo, tem 1 milhão de empregados e ativos de US$ 97,7 bilhões, divididos em 69 institutos
de pesquisa e subsidiárias, das
quais a maior é a PetroChina. A
Petrobras, empresa brasileira
mais bem colocada no ranking da
"Fortune", possui 48,8 mil empregados e ativos de US$ 53 bilhões.
A comparação entre os dois
grupos permite identificar um
dos mais graves problemas que as
estatais chinesas ainda enfrentam: a falta de eficiência. Apesar
de ser menor que a China National Petroleum, a Petrobras teve
em 2003 lucro de US$ 6,6 bilhões,
US$ 200 milhões a mais que o registrado pela estatal chinesa.
Outra característica das empresas é a diversificação de atividades, que pode levar à reunião no
mesmo conglomerado de negócios como construção de navios,
tecnologia da informação e atividades imobiliárias.
Lucros
Dados oficiais indicam que o
número de estatais está diminuindo, ao mesmo tempo em que aumentam seus lucros e ativos. Entre 1997 e 2002, o total de empresas sob controle do Estado passou
de 262 mil para 159 mil. No mesmo período, o percentual das empresas que dão lucro passou de
34,1% para 50,1%. O valor dos ativos também está em alta e atingiu
em 2002 US$ 1,4 trilhão, 8,2% a
mais que no ano anterior.
As que saíram das mãos do Estado foram fechadas, incorporadas a outras estatais ou compradas por gerentes ou empregados.
São processos fechados, nos quais
outros interessados não participam, o que gera críticas de entidades como o Banco Mundial, em
razão do risco de favorecimento e
da falta de transparência.
William Mako, economista do
Banco Mundial em Pequim especializado em estatais e privatizações, observa que a política adotada pela China é bem diferente da
implementada na Rússia. Lá,
houve um processo massivo de
privatização, com a transferência
de 80 mil empresas para mãos
privadas em meados dos anos 90.
"Privatizações massivas são provavelmente a forma menos desejável de privatização".
Na China, o governo criou em
2003 um organismo para consolidar e gerir o patrimônio das estatais com a missão transformá-las
em empresas globais competitivas. Conhecido por Sasac (sigla
em inglês para Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais), o órgão tem um
"portfólio" de 196 empresas, consideradas as mais importantes.
A maior parte das estatais -141
mil das 159 mil- está sob controle dos governos provinciais e municipais. Segundo Mako, será inevitável que elas passem por um
processo de fusões, em razão da
enorme fragmentação da indústria chinesa. Não está claro quantas estatais vão sobreviver, mas
Mako crê que o governo esteja
disposto a manter cerca de 9.000,
que são as grandes empresas.
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