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FINANÇAS
Dificuldade do governo em financiar dívida e aposta errada do mercado afetam mercado futuro e fundos de investimento
Barbeiragem no mercado custou até R$ 7 bi
DA REPORTAGEM LOCAL
Apostas erradas de bancos e
fundos de investimento combinadas a falhas na atuação do Banco
Central eclodiram na semana passada, causando perdas bilionárias
no mercado financeiro. As estimativas apontam para prejuízos
de US$ 1,7 bilhão só no mercado
futuro do chamado cupom cambial. Mas, segundo analistas, considerando perdas em outros segmentos, o valor encosta em US$ 3
bilhões (cerca de R$ 7 bilhões).
As maiores perdas, até agora,
foram amargadas por tesourarias
dos bancos e cotistas dos fundos
de investimento, de acordo com
estimativas feitas pela consultoria
Future Analysis a pedido da Folha. O baque sofrido estourou na
semana passada no mercado futuro em negócios com o cupom
cambial, que é uma projeção da
taxa de juros descontada a expectativa de desvalorização cambial.
Mas, segundo analistas, a origem dos problemas que explodiram na semana está, na verdade,
num passo tomado pelo Banco
Central em setembro de 2001,
quando a crise argentina e os
atentados terroristas nos Estados
Unidos provocaram pânico no
Brasil. Para acalmar o mercado,
que queria se proteger de perdas
com uma possível alta do dólar, o
BC aumentou a venda de títulos
públicos indexados à moeda norte-americana, as chamadas NTN-s cambiais.
Apesar da oferta maciça desses
papéis pelo BC, o mercado também procurou proteção nos contratos de cupom cambial, cujas taxas acabaram caindo devido à
grande demanda.
De acordo com um analista, a
demanda pelo cupom era muito
maior do que a oferta e, com isso,
as suas taxas caíram, deixando de
refletir o alto risco-país.
A partir de dezembro do ano
passado, o BC começou a sofrer
os efeitos da oferta excessiva de
papéis cambiais que fizera. O
mercado passou a cobrar taxas
punitivas para comprar novos papéis indexados ao dólar e, com isso, rolar a dívida cambial.
Sem condições de apenas resgatar tais papéis na data do vencimento, devido à sua alta necessidade de financiamento, o governo
decidiu mudar sua estratégia no
mercado, em janeiro deste ano. O
BC passou a fazer os chamados
leilões "casados" de papéis corrigidos por juros pós-fixados, as
chamadas LFTs, com operações
de "swap" de cupom cambial.
Foi a solução encontrada para,
ao mesmo tempo, continuar suprindo a demanda do mercado
por proteção cambial -com os
"swaps" de cupom- e reduzir
seus custos de financiamento.
Os custos da dívida de fato caíram num primeiro momento,
uma vez que as taxas do "swap"
no mercado eram mais baixas do
que as que o governo vinha pagando, até então, para emitir novos títulos cambiais.
No entanto, os bancos -principais credores da dívida pública-
tinham mais interesse nos
"swaps", por causa da proteção
cambial que oferecem, do que nas
LFTs. Começaram, então, a querer se desfazer desses papéis no
mercado. Com o aumento da
oferta de venda das LFTs, seus valores caíram no mercado, o que
acabou prejudicando os fundos
DIs. E isso acabou levando o BC a
descartar também as vendas "casadas" e a passar a leiloar os
"swaps" só de cupom cambial,
sem LFTs.
Tudo isso acabou provocando
desequilíbrios no mercado, que
foram expostos e estouraram em
grandes perdas nos últimos dias,
agravados pela recente alta do risco-país e do dólar e por ajustes feitos nas carteiras de fundos de investimento (leia mais na pág. B3).
Os contratos de cupom cambial
refletem as apostas dos investidores para a taxa de juros e câmbio.
Assim, o investidor que acredita
em queda dos juros e desvalorização do dólar, por exemplo, vende
esses contratos na BM&F. Se as
taxas acabam subindo no futuro,
esse investidor perde dinheiro
porque estará recebendo um valor menor, acertado previamente,
do que o que esses contratos passam a valer de fato.
Foi o que ocorreu nos últimos
dias, quando, pressionado, o cupom cambial disparou e as taxas
de juros de seus contratos chegaram a dobrar, ocasionando grandes perdas para aqueles investidores que apostaram na queda
das taxas. Segundo o diretor de
um banco, a grande correção nos
preços do cupom ocorreu em
consequência do aumento da
oferta dos contratos de swap pelo
BC. A demanda reprimida que
havia mantido as taxas do cupom
cambial baixas no ano passado foi
atendida com os leilões. Isso abriu
caminho para que o valor desses
contratos subissem, passando a
acompanhar o risco-país.
(ANA PAULA RAGAZZI, ÉRICA FRAGA,
ISABEL CAMPOS e SANDRA BALBI)
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