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CRISE NO VIZINHO
Moeda americana fechou a 3,95 pesos, o mais alto patamar desde o fim da conversibilidade, em janeiro
Dólar chega à maior cotação na Argentina
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O dólar voltou a disparar na Argentina ontem e atingiu a maior
cotação desde o fim do regime de
conversibilidade (equiparação
entre peso e dólar), em janeiro. A
moeda norte-americana fechou
vendida a 3,95 pesos nas casas de
câmbio de Buenos Aires, em alta
de 2,6%.
Pessimista em relação às chances do governo de obter um novo
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), pelo segundo dia consecutivo a população se
aglomerou em filas no centro financeiro da cidade.
Também trouxe nervosismo ao
mercado a nomeação de Aldo
Pignanelli para a presidência do
Banco Central, em substituição a
Mario Blejer. Pignanelli é amigo
do presidente Eduardo Duhalde
e, por isso, a nomeação foi considerada uma decisão mais política
do que técnica.
Para analistas, o BC terá a partir
de agora menos independência
para tomar decisões com o objetivo de tranquilizar o mercado, ficando muito vulnerável à vontade
política do governo.
O valor recorde do dólar aumentou a preocupação em relação à disparada da inflação. Segundo o consultor Orlando Ferreres, os preços atuais refletem um
dólar cotado a 2,70 pesos.
O efeito imediato dessa diferença será um maior desabastecimento de produtos importados.
À medida que os salários começarem a ser corrigidos, a inflação,
que mostrou uma tendência de
baixa em maio e junho, também
voltará a subir.
Para dar andamento às negociações com o FMI, o ministro Roberto Lavagna (Economia) chega
aos Estados Unidos hoje, no mesmo dia em que líderes piqueteiros
convocaram uma nova manifestação nacional contra as exigências do Fundo. Amanhã, Lavagna
se reúne com a vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, e
com o secretário do Tesouro dos
EUA, Paul O'Neill.
O ministro afirmou que ainda
não será possível fechar um acordo com o FMI durante essa viagem. Seu objetivo é garantir o envio de uma missão negociadora à
Argentina na próxima semana
para firmar uma carta de intenções com o Fundo.
Lavagna quer obter a rolagem
da dívida argentina com organismos financeiros internacionais
em 2002 e 2003. A dívida soma
US$ 18 bilhões.
No entanto, o vice-presidente
do Banco Mundial para a América Latina, David de Ferranti, sinalizou ontem que o país não tem
motivos para otimismo. Segundo
ele, as negociações com o FMI serão "lentas" porque o país ainda
tem "problemas muito profundos" para resolver.
A única proposta nova de Lavagna foi divulgada ontem e refere-se à restruturação dos bancos
estatais argentinos, uma exigência do Fundo. O ministro disse estudar a venda pulverizada de participações minoritárias das instituições financeiras.
Para analistas, no entanto, seria
impossível concretizar negócios
desse tipo em um momento de
crise generalizada do sistema financeiro. "A Argentina teria mais
chance de obter sucesso agora
com o envio de uma missão de astronautas à Lua do que tentando
privatizar bancos públicos", disse
o analista Cristian Krossler, da
agência de classificação de risco
Standard & Poor's.
Espanha
O governo da Espanha informou ontem que vai conceder um empréstimo de 100 milhões de euros (US$ 97 milhões) para reduzir os efeitos sociais da crise enfrentada pela Argentina.
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