São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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CRISE NO VIZINHO

Moeda americana fechou a 3,95 pesos, o mais alto patamar desde o fim da conversibilidade, em janeiro

Dólar chega à maior cotação na Argentina

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O dólar voltou a disparar na Argentina ontem e atingiu a maior cotação desde o fim do regime de conversibilidade (equiparação entre peso e dólar), em janeiro. A moeda norte-americana fechou vendida a 3,95 pesos nas casas de câmbio de Buenos Aires, em alta de 2,6%.
Pessimista em relação às chances do governo de obter um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), pelo segundo dia consecutivo a população se aglomerou em filas no centro financeiro da cidade.
Também trouxe nervosismo ao mercado a nomeação de Aldo Pignanelli para a presidência do Banco Central, em substituição a Mario Blejer. Pignanelli é amigo do presidente Eduardo Duhalde e, por isso, a nomeação foi considerada uma decisão mais política do que técnica.
Para analistas, o BC terá a partir de agora menos independência para tomar decisões com o objetivo de tranquilizar o mercado, ficando muito vulnerável à vontade política do governo.
O valor recorde do dólar aumentou a preocupação em relação à disparada da inflação. Segundo o consultor Orlando Ferreres, os preços atuais refletem um dólar cotado a 2,70 pesos.
O efeito imediato dessa diferença será um maior desabastecimento de produtos importados. À medida que os salários começarem a ser corrigidos, a inflação, que mostrou uma tendência de baixa em maio e junho, também voltará a subir.
Para dar andamento às negociações com o FMI, o ministro Roberto Lavagna (Economia) chega aos Estados Unidos hoje, no mesmo dia em que líderes piqueteiros convocaram uma nova manifestação nacional contra as exigências do Fundo. Amanhã, Lavagna se reúne com a vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, e com o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill.
O ministro afirmou que ainda não será possível fechar um acordo com o FMI durante essa viagem. Seu objetivo é garantir o envio de uma missão negociadora à Argentina na próxima semana para firmar uma carta de intenções com o Fundo.
Lavagna quer obter a rolagem da dívida argentina com organismos financeiros internacionais em 2002 e 2003. A dívida soma US$ 18 bilhões.
No entanto, o vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina, David de Ferranti, sinalizou ontem que o país não tem motivos para otimismo. Segundo ele, as negociações com o FMI serão "lentas" porque o país ainda tem "problemas muito profundos" para resolver.
A única proposta nova de Lavagna foi divulgada ontem e refere-se à restruturação dos bancos estatais argentinos, uma exigência do Fundo. O ministro disse estudar a venda pulverizada de participações minoritárias das instituições financeiras.
Para analistas, no entanto, seria impossível concretizar negócios desse tipo em um momento de crise generalizada do sistema financeiro. "A Argentina teria mais chance de obter sucesso agora com o envio de uma missão de astronautas à Lua do que tentando privatizar bancos públicos", disse o analista Cristian Krossler, da agência de classificação de risco Standard & Poor's.

Espanha
O governo da Espanha informou ontem que vai conceder um empréstimo de 100 milhões de euros (US$ 97 milhões) para reduzir os efeitos sociais da crise enfrentada pela Argentina.



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