São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Empresários brasileiros dão apoio à nova proposta

Para a indústria, pré-acordo da OMC protege setores mais sensíveis do país

Fiesp vê chance de "expansão de oportunidades comerciais'; setor agrícola afirma que negociação está aquém do esperado, mas traz avanços

DE GENEBRA

O esboço de acordo apresentado ontem na OMC (Organização Mundial do Comércio) foi bem recebido pelos representantes dos setores agrícola e industrial que acompanham as negociações em Genebra, mas com algumas restrições. Embora esteja aquém da ambição original de abertura de mercados prevista quando a Rodada Doha foi lançada, em 2001, uma posição realista leva à conclusão de que os benefícios justificam o preço a ser pago.
Para Pedro Gabriel Betancourt, da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores), a diplomacia brasileira soube proteger os setores mais sensíveis da indústria. Pela proposta apresentada ontem, o Brasil poderá proteger 14% de sua indústria com cortes tarifários menores que a média. Sendo o setor com a maior tarifa aplicada no Brasil, de 35%, o automotivo seria atingido em cheio se não fosse considerado "produto sensível".
A exigência de europeus e americanos de incluírem acordos setoriais com os países emergentes, com o objetivo de ganhar mercados nos setores que mais lhe interessam, preocupava a indústria. Entre os alvos prioritários, estão as áreas automotiva, química e de eletroeletrônicos.
Betancourt disse que a insistência dos europeus em baixar as tarifas do setor automotivo em países como o Brasil é difícil de entender, já que seus maiores fabricantes estão instalados nos países. "É um tiro no pé", afirma. A pressão européia, puxada pela Alemanha, é "inclemente", acrescenta. No Brasil, o único fabricante alemão de carros ausente é a BMW.
No setor agrícola, há uma avaliação antiga de que o nível de ambição original da Rodada Doha já estava comprometido. Isso permite uma posição realista. Embora a oferta americana de limitar seus subsídios agrícolas a US$ 14,5 bilhões anuais seja considerada insuficiente, pois é um volume duas vezes maior que o concedido hoje, ela foi vista como uma disciplina valiosa para o futuro.
"É importante como um seguro contra o protecionismo no futuro", diz o diretor do Ícone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais), André Nassar. "O acordo ficou aquém da expectativa, mas o preço a ser pago pelo acordo é razoável."

Foco
Luiz Claudio Carmona, do Ministério da Agricultura, lembra que o importante não é o teto geral de subsídios concedidos pelos EUA, mas o limite por produto, que ainda está sendo discutido. O foco está nos produtos que o Brasil mais exporta, arroz, milho, soja e algodão.
Com a queda da ajuda dos EUA, o Brasil poderá ganhar maiores fatias nos cada vez mais importantes mercados da Ásia, pois os produtos dos EUA perderão competitividade.
O diretor de negociações internacionais da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Mário Marconini, lembra as vantagens políticas de um acordo global também não podem ser desconsideradas. "É importante para fortalecer a OMC e consolidar a inserção do Brasil na economia mundial", diz Marconini.
O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, divulgou nota afirmando que, caso o pré-acordo seja ratificado, "a conseqüência, para o Brasil, será uma expansão de oportunidades comerciais".
"Embora alguns segmentos da indústria brasileira possam ser afetados com os cortes das alíquotas, o país e a sociedade serão beneficiados com maior crescimento econômico gerado a partir de novas oportunidades", afirmou Skaf.
De acordo com a entidade, a decisão de ontem "representa uma concessão real de acesso ao mercado". (MARCELO NINIO)


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