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Para Pastore, campanha demonstra
o amadurecimento dos sindicatos
DA REPORTAGEM LOCAL
O quadro geral é de desemprego, mas existem alguns setores
que estão em melhor situação na
economia brasileira. Um exemplo
é as empresas exportadoras, como as automobilísticas e as especializadas em agronegócios.
É aí que estão atuando as centrais sindicais em greve, de acordo
com o professor José Pastore, titular na Faculdade de Economia e
Administração da Universidade
de São Paulo e especialista em relações do trabalho.
Segundo ele, as centrais sindicais estão cada vez mais analisando as condições financeiras das
indústrias para decidir por greves
ou campanhas salariais de emergência: "Isso representa o amadurecimento do sindicalismo".
(MP)
Folha - Como o sr. analisa o movimento grevista dos últimos dias?
José Pastore - Dentro de quadro
geral de desemprego, existem alguns nichos que continuam empregando, que são aqueles voltados para a exportação. O setor automobilístico está exportando
bem, assim como o setor de agrobusiness. Na visão dos sindicalistas, esses setores tem condições
de fornecer uma antecipação ou
reposição salarial nesse momento, já que quem exporta, ganha
em dólar.
Folha - Detalhe os setores que estão lucrando e portanto tem maior
possibilidade de enfrentar greves.
Pastore - O setor químico, por
exemplo, que fornece muita matéria-prima para o agrobusiness, é
um setor com boas margens. A
categoria dos químicos deflagrou
campanha salarial para pedir reposição de perdas por causa da
inflação. Outro caso é o das montadoras, que, além de estarem exportando mais por causa da demanda interna menor, exportaram muitos tratores no ano passado.
A agricultura foi a principal responsável por esses crescimentos,
devido às exportações, responsáveis pelo superávit primário no
ano passado.
No caso dos bancários, que
também estão em campanha salarial de emergência, é a mesma coisa. É só olhar o balanço das instituições financeiras para ver que
estas estão na mesma situação
confortável dos exportadores.
Folha - Por que há tanta divergência nas reivindicações dos sindicatos grevistas da CUT?
Pastore - Por causa da diversidade da situação econômica dos diversos setores. Alguns deles não
podem aguentar a longo prazo incidência de encargos sociais ou
aumento de salários. Outros podem. Por isso essa diferença. Mas
isso não é exclusividade da CUT.
A Força Sindical também tem feito isso: tem procurado onde dá
para buscar aumento e onde dá
para buscar abono. Isso porque
em alguns casos não dá para ter
certeza de que o reajuste salarial
será sustentável.
Folha - Essas centrais sempre tiveram essa postura de analisar as
possibilidades da indústria?
Pastore - Essa busca representa
o amadurecimento do sindicalismo, que hoje analisa os balanços,
as contas, as exportações, enfim, o
mercado. Tudo é muito bem esquadrinhado.
As greves estão acontecendo
nesse momento porque o aumento das exportações e do lucro dos
bancos aconteceu ao longo de
2002, mas a disparada da inflação
teve impactos maiores no final do
ano passado e começo deste ano.
Juntando-se a isso a queda da
renda, é natural que os sindicalistas pensem que essa é a hora para
fazer alguma coisa, mesmo porque o dólar começa a cair e isso
pode fazer desaparecer essa situação melhor dessas indústrias.
Folha - Qual a posição das centrais sindicais nessas greves?
Pastore - Acho que a Força Sindical saiu na frente da CUT neste
ano. Isso dá prestígio político para o Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Mas não vejo nenhuma conotação política nesse movimento, que encaro como exclusivamente econômico.
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