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Não é hora para "gatilho", afirma presidente da CUT
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
João Felício, presidente da CUT
(Central Única dos Trabalhadores), admite divergências dentro
da entidade, mas nega que a central esteja dividida.
Felício discorda da adoção de
"gatilhos" salariais, mas acha normal que setores dentro da CUT o
defendam.
"A orientação da Executiva Nacional da CUT é que cada sindicato deve determinar a melhor forma de reivindicação salarial. O racha existiria se os sindicatos deixassem de reivindicar."
Felício nega que a central tenha
"amolecido" devido a suas ligações com o PT. "Nós não estamos
preocupados em ajudar o governo Lula."
A seguir, os principais trechos
da entrevista.
Folha - A Federação dos Metalúrgicos, ligada à CUT, pede abono para repor a inflação. Bancários e químicos querem antecipação salarial.
A ala radical fala em "gatilho". A
direção da CUT está rachada?
João Felício - Não. A orientação
da Executiva Nacional da CUT é
que cada sindicato deve determinar a melhor forma de reivindicação salarial. Se uma categoria opta
por acordo, e outra, por antecipação salarial, isso não significa que
elas estejam descumprindo uma
determinação nossa. O racha
existiria se os sindicatos deixassem de reivindicar.
Folha - A Força Sindical conseguiu, no caso dos metalúrgicos de
São Paulo, antecipação de 10%. Isso não é melhor do que o abono reivindicado pela federação da CUT?
Felício - Pode ser melhor o trabalhador ter R$ 900 no bolso do
que 10% de antecipação. Os petroleiros da CUT vão assinar um
acordo que dá para cada um R$
8.300 de participação nos lucros e
resultados da Petrobras. Isso é
mais do que tudo que o Paulinho
[Paulo Pereira da Silva, presidente
da Força Sindical" conquistou.
Folha - O que o sr. acha das antecipações obtidas pela Força?
Felício - Acho ótimas. Toda conquista de uma categoria serve de
exemplo para outras.
Folha - A CUT é a favor do "gatilho" salarial, como defende a ala
mais radical da central?
Felício - Não. A não ser que haja
um descontrole total da inflação.
E, nesse caso, o movimento sindical vai ter de debater com periodicidade menor a concessão de reajuste. Se a inflação chegar a 20%,
30%, 40% ou 50% ao ano, uma categoria não pode ter oficialmente
uma só data-base, pois o salário
do trabalhador vai virar pó. É óbvio que, nesse caso, a CUT vai discutir a possibilidade de reajuste
semestral, trimestral ou "gatilho".
Folha - A CUT está mais preocupada neste momento em ajudar as categorias ou o governo Lula?
Felício - Nós não estamos preocupados em ajudar o governo Lula com nossa campanha salarial.
Campanha salarial é uma questão
sagrada na história da CUT. A reivindicação da central é direta aos
empresários, não tem nada a ver
com o governo federal.
Folha - Mas o abono reivindicado
pelos metalúrgicos da central não é
uma forma de proteger o governo?
Felício - Isso é mito. Imagine se a
central vai deixar de fazer campanha salarial. A CUT acha, aliás,
que o funcionalismo público tem
de se organizar para uma campanha salarial e negociar no Orçamento deste ano um bom reajuste
para o ano que vem. Isso vale
também para a iniciativa privada.
Folha - O sr. acha que o momento
é adequado para fazer greve?
Felício - A greve é sempre um
instrumento adequado quando o
trabalhador se sente explorado. O
fato de o governo ser novo não
tem influência na estratégia da
CUT. Supondo que o governo
mantenha a proposta de reforma
da Previdência do jeito que tem
dito, pode ser que o funcionalismo seja contra e opte pela greve.
Folha - Com quais pontos da proposta do governo de reforma da
Previdência a CUT não concorda?
Felício - Não concordamos, por
exemplo, com o estabelecimento
do limite de idade -55 anos ou
60 anos- para a aposentadoria
do servidor público. Se uma enfermeira quiser aposentar-se aos
48 anos, ela terá desconto de 35%
no seu salário, segundo a nova
proposta do governo -isso equivale a um desconto de 5% ao ano
por um período de sete anos.
Folha - Como será a comemoração do 1º de Maio para a CUT?
Felício - O slogan será "participação". Emprego, salário e garantia de direitos farão parte dos discursos dos dirigentes da CUT.
Não vamos sortear apartamentos
porque não ganhamos dinheiro
nem de empresários nem do governo.
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