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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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Não é hora para "gatilho", afirma presidente da CUT

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

João Felício, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), admite divergências dentro da entidade, mas nega que a central esteja dividida.
Felício discorda da adoção de "gatilhos" salariais, mas acha normal que setores dentro da CUT o defendam.
"A orientação da Executiva Nacional da CUT é que cada sindicato deve determinar a melhor forma de reivindicação salarial. O racha existiria se os sindicatos deixassem de reivindicar."
Felício nega que a central tenha "amolecido" devido a suas ligações com o PT. "Nós não estamos preocupados em ajudar o governo Lula."
A seguir, os principais trechos da entrevista.
 

Folha - A Federação dos Metalúrgicos, ligada à CUT, pede abono para repor a inflação. Bancários e químicos querem antecipação salarial. A ala radical fala em "gatilho". A direção da CUT está rachada?
João Felício -
Não. A orientação da Executiva Nacional da CUT é que cada sindicato deve determinar a melhor forma de reivindicação salarial. Se uma categoria opta por acordo, e outra, por antecipação salarial, isso não significa que elas estejam descumprindo uma determinação nossa. O racha existiria se os sindicatos deixassem de reivindicar.

Folha - A Força Sindical conseguiu, no caso dos metalúrgicos de São Paulo, antecipação de 10%. Isso não é melhor do que o abono reivindicado pela federação da CUT?
Felício -
Pode ser melhor o trabalhador ter R$ 900 no bolso do que 10% de antecipação. Os petroleiros da CUT vão assinar um acordo que dá para cada um R$ 8.300 de participação nos lucros e resultados da Petrobras. Isso é mais do que tudo que o Paulinho [Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical" conquistou.

Folha - O que o sr. acha das antecipações obtidas pela Força?
Felício -
Acho ótimas. Toda conquista de uma categoria serve de exemplo para outras.

Folha - A CUT é a favor do "gatilho" salarial, como defende a ala mais radical da central?
Felício -
Não. A não ser que haja um descontrole total da inflação. E, nesse caso, o movimento sindical vai ter de debater com periodicidade menor a concessão de reajuste. Se a inflação chegar a 20%, 30%, 40% ou 50% ao ano, uma categoria não pode ter oficialmente uma só data-base, pois o salário do trabalhador vai virar pó. É óbvio que, nesse caso, a CUT vai discutir a possibilidade de reajuste semestral, trimestral ou "gatilho".

Folha - A CUT está mais preocupada neste momento em ajudar as categorias ou o governo Lula?
Felício -
Nós não estamos preocupados em ajudar o governo Lula com nossa campanha salarial. Campanha salarial é uma questão sagrada na história da CUT. A reivindicação da central é direta aos empresários, não tem nada a ver com o governo federal.

Folha - Mas o abono reivindicado pelos metalúrgicos da central não é uma forma de proteger o governo?
Felício -
Isso é mito. Imagine se a central vai deixar de fazer campanha salarial. A CUT acha, aliás, que o funcionalismo público tem de se organizar para uma campanha salarial e negociar no Orçamento deste ano um bom reajuste para o ano que vem. Isso vale também para a iniciativa privada.

Folha - O sr. acha que o momento é adequado para fazer greve?
Felício -
A greve é sempre um instrumento adequado quando o trabalhador se sente explorado. O fato de o governo ser novo não tem influência na estratégia da CUT. Supondo que o governo mantenha a proposta de reforma da Previdência do jeito que tem dito, pode ser que o funcionalismo seja contra e opte pela greve.

Folha - Com quais pontos da proposta do governo de reforma da Previdência a CUT não concorda?
Felício -
Não concordamos, por exemplo, com o estabelecimento do limite de idade -55 anos ou 60 anos- para a aposentadoria do servidor público. Se uma enfermeira quiser aposentar-se aos 48 anos, ela terá desconto de 35% no seu salário, segundo a nova proposta do governo -isso equivale a um desconto de 5% ao ano por um período de sete anos.

Folha - Como será a comemoração do 1º de Maio para a CUT?
Felício -
O slogan será "participação". Emprego, salário e garantia de direitos farão parte dos discursos dos dirigentes da CUT. Não vamos sortear apartamentos porque não ganhamos dinheiro nem de empresários nem do governo.


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