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Produtos líderes perdem espaço no mercado
Explosão de consumo verificada no início da nova moeda não se manteve, devido à redução da renda do trabalhador brasileiro
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Apoiado no bom humor do início do Plano Real, o brasileiro
comprou requeijão, amaciante de
roupas e cremes e loções -produtos até então restritos aos mais
ricos. Mas a curva mudou de direção: nos últimos cinco anos, houve uma forte inversão na tendência de expansão na demanda.
As perdas se espalharam por diversas categorias de produtos.
Dados da consultoria LatinPanel
mostram que 52% dos produtos
líderes de mercado no país perderam espaço na segunda metade
dos anos de real.
Em 1995, o consumo de 95% das
categorias de produtos, como sabão em pó e geléia, por exemplo,
aumentava mais de 3% ao ano.
Em 2003, apenas 28% deles repetiam o resultado e 40% registravam queda nas vendas, de acordo
com estudo da AC Nielsen.
Três anos após o lançamento do
real, 44% das donas-de-casa compravam sorvete, e 72%, achocolatados, segundo a consultoria Ipsos-Marplan. Já em 2002, a taxa
caiu para 35% e 65%, respectivamente.
A explicação para as mudanças
na lista de compras do consumidor estava na redução da renda e
na piora dos indicadores sociais.
A renda do brasileiro em 1997, segundo a Ipsos-Marplan, corrigida
pelo IPCA, estava em R$ 2.272.
Em 2003, caiu para R$ 1.540.
Inflação
As variações da inflação também prejudicaram o desempenho. Em 1999, a disparada do
câmbio pressionou a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de
Preços do Mercado) para o maior
patamar em cinco anos. Em 2000,
a taxa ficou em 4,6%, mas voltou a
subir em 2002 e 2003.
"Nós caímos na real e percebemos que os ganhos passados
eram ilusórios. E o problema foi
que mantivemos a moeda valorizada artificialmente e, quando
não foi mais possível sustentar
aquele câmbio, ficamos pobres",
afirma Nelson Barrizelli, professor de economia da USP (Universidade de São Paulo).
Recuperação
Apenas nos primeiros meses de
2004 as grandes fabricantes do
país começaram a sentir uma melhora mais forte na demanda por
suas mercadorias.
Informações obtidas pela Folha
mostram que, no primeiro quadrimestre de 2004, 4% mais domicílios entraram na lista de famílias em consumo ativo em relação a igual período do ano passado. No caso das classes de renda
mais baixa, essa alta foi de 7%. Os
dados são da LatinPanel, que faz a
pesquisa nas casas das famílias.
Na avaliação de Maria Andrea
Murati, analista da LatinPanel,
"os ganhos obtidos, com a inclusão de uma nova massa de consumidores no mercado, não serão
facilmente perdidos", afirmou.
"O tombo na demanda após
1997 reduziu drasticamente o poder de consumo, mas não "apagou" os avanços obtidos naquele
movimento de inclusão social",
declara a analista.
Entre as mercadorias que ampliaram a participação nas vendas
estão os refrigerados "petit suisse" (pequenos iogurtes), com aumento de 362% no volume comercializado de 1992 a 2001. A expansão se concentrou em três
anos -de 1995 a 1998. No caso
dos amaciantes, a alta foi de 374%
-vedete do plano econômico, segundo relatório da LatinPanel,
que verifica os hábitos de compra
de 6.000 famílias no país.
A demanda por itens como o
frango, carne símbolo do programa econômico, aumentou 20%
em 1994. O quilo do produto chegou a custar R$ 1.
Segundo Fernanda Della Rosa,
diretora da assessoria econômica
da Fecomercio SP, houve aumentos pontuais nas vendas de algumas mercadorias.
Della Rosa diz que o crescimento médio do faturamento real do
comércio em São Paulo foi tímido
nos dez anos do plano.
"Pelas nossas contas, a expansão foi de 1,75% ao ano apenas",
afirma.
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