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EM TRANSE
Em 2001, empresas rolavam 96,5% dos débitos; de janeiro a maio, rolagem foi a 58%; problema infla dólar e dívidas
Crise faz empresas renovarem só 22% da dívida externa
FABRICIO VIEIRA
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado externo fechou as
portas para o Brasil. No mês de junho, as empresas brasileiras conseguiram renovar somente 22%
das dívidas que venceram no exterior, segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco
Central, Altamir Lopes. De janeiro a maio, quando as empresas já
encontravam dificuldades para
renovar compromissos externos,
o percentual de renovação de dívidas havia sido de 58%.
Naquele período, dos US$ 9,16
bilhões em vencimentos, foram
renegociados US$ 5,32 bilhões.
Em junho, os vencimentos chegariam a US$ 1,7 bilhão. Ou seja, não
mais que US$ 370 milhões foram
renovados. O restante deveria ter
sido quitado pelas empresas.
O cenário no ano passado era
bastante diferente: dos US$ 25,4
bilhões em créditos que venceram
ao longo de 2001, as empresas renovaram US$ 24,5 bilhões.
As razões para a escassez de recursos são duas: primeiro o aumento da aversão ao Brasil. Situação provocada pelas dúvidas sobre o programa econômico a ser
adotado pelo próximo governo
-e potencializada, segundo analistas, pela perspectiva de que
FHC não eleja seu sucessor. Na
sexta, o risco-país do Brasil fechou em 1.991 pontos. O índice reflete a desconfiança dos investidores em relação à capacidade de
o país honrar seus vencimentos.
O segundo fator tem natureza
externa. Com a série de escândalos contábeis em empresas dos
EUA, aumenta o temor de investidores de se exporem nos chamados emergentes, como o Brasil.
""Não há rolagem no mercado
externo para empresas brasileiras. Nem se elas aceitarem juros
mais altos", diz Sérgio Blanc, vice-diretor de tesouraria do banco
Brascan. ""As únicas possíveis são
com securitização", completa, em
referência a operações em que as
empresas dão como garantia créditos que terão a receber no futuro -recurso normalmente usado
por exportadores ou bancos.
O Banco do Brasil confirmou na
quinta-feira que fará uma captação de US$ 200 milhões no exterior, com a securitização de ordens de pagamentos de clientes.
Tentará captar recursos justamente para aumentar a linha de
crédito no mercado interno.
Entre as empresas mais afetadas
pelo fechamento das portas no
mercado externo está a Eletropaulo. A distribuidora de energia
confirmou que negocia com seus
credores forma de refinanciar sua
dívida de curto prazo. Dos US$
700 milhões com vencimento no
semestre, US$ 400 milhões se concentram em agosto.
""Ao longo do primeiro semestre
tentamos captações de diversas
formas e não conseguimos. A alta
volatilidade no mercado interno e
a situação externa são fatores que
nos atrapalham", disse Andrea
Ruschmann, vice-presidente da
Eletropaulo.
No mercado, a versão era que a
Petrobras fizera sondagens para
uma nova emissão de títulos
-parte dos recursos deveria ser
usado para quitar os US$ 754,6
milhões que deverá pagar à vista
pela compra do braço petrolífero
do grupo Perez Companc. Detalhe: a gigante estatal adiara o lançamento de bônus em junho por
conta das incertezas sobre o quadro da dívida pública e político.
O presidente da estatal, Francisco Gros, disse da segunda, que a
Petrobras tem ""diferentes opções" de honrar o compromisso.
A restrição para renovar dívida
no exterior ou realizar novas captações obriga as empresas a buscarem financiamento no mercado interno. ""Com isso, os bancos
aproveitaram para jogar as taxas
na lua", diz Fernando Ferreira, diretor da Global Invest.
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