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EM TRANSE
Presidente afirma que conversas com o organismo são permanentes, mas nega que haja negociações formais
FHC decide nesta semana se país vai ao FMI
WILSON SILVEIRA
ENVIADO A GUAIAQUIL (EQUADOR)
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, no
Equador, que vai avaliar nesta semana a necessidade de buscar ou
não recursos adicionais no FMI
(Fundo Monetário Internacional). Ele disse que as conversas
com o Fundo são permanentes,
mas negou que esteja havendo
negociações formais.
"Não é que estejamos negociando, nós estamos sempre conversando. Não interessa a nenhum
setor sério do mundo que a economia brasileira sofra um desaguisado [desordem" pelo qual ela
não é responsável", afirmou.
O presidente reiterou que os
fundamentos da economia brasileira estão em ordem, que as reservas somam US$ 40 bilhões
("que dão de sobra") e a inflação
está baixa. "Não há nenhum sintoma de moléstia alguma. Não
obstante o médico, ou seja, o mercado, que agora se investiu da
qualidade de médico, vem e diz:
"Ah, não, mas pode ser que morra". Bom, aí, só Deus, né?"
FHC repetiu que o país buscará
recursos no FMI quando julgar
necessário. "Mas não marque
uma data porque senão o mercado, não sei baseado em quê, tem
uma decepção com ele próprio, e
quem paga é o povo, porque,
quando o mercado sofre as decepções das ilusões que ele mesmo criou, ele cobra é do povo."
Essa foi uma referência à reação
negativa do mercado a entrevista
dada anteontem pelo ministro da
Fazenda, Pedro Malan. Segundo
FHC, o mercado imaginou que
Malan fosse fazer algum anúncio
espetacular, como um acordo
com o FMI, e ele simplesmente ia
explicar algumas questões.
"Não se faz uma negociação
dessas assim de repente, sem
mais. Esperavam que o Malan
desse um aviso que é impossível.
No curso desta semana eu espero
que nós possamos ter mais calma
para ver realmente o que nós precisamos", afirmou.
Valores
Sobre a informação de que o
Brasil pode vir a pedir até US$ 10
bilhões para o FMI, divulgada ontem pela Folha, o presidente afirmou: "Se a imprensa divulgou, a
responsabilidade é da imprensa,
não é minha, porque eu não tenho
essa informação e não houve uma
negociação numérica. Não sei de
onde saiu esse número. Pode ser
que sim, pode ser que não, vamos
ver no decorrer do tempo".
Segundo FHC, o país não passa
por uma asfixia de pagamentos.
"Há uma espécie de falta de ar dos
que operam nos computadores
do mercado e dos analistas que
estão na loja e que fazem análise
de risco. Como eu já disse, hoje
não é uma questão de risco, é uma
questão de incerteza, e, na incerteza, apertam."
Almodóvar
Irônico, o presidente perguntou: "Como é que se chama aquele filme famoso?, O mercado está
à beira de um ataque de nervos",
referindo-se ao filme do espanhol
Pedro Almodóvar "Mulheres à
Beira de um Ataque de Nervos".
Segundo FHC, "tem que tomar
cuidado, tem que melhorar o ataque de nervos".
A solução, segundo o presidente
da República, é convencer pouco
a pouco o mercado de que o Brasil
tem um rumo e esse rumo não
acaba no fim do seu mandato.
"Esse rumo é o rumo do nosso
país. Qualquer que seja o candidato eleito, eu espero que seja o
do meu partido, vai prestar contas
ao Brasil. Ele não vai querer ver o
Brasil de pernas para o ar. Vai
querer estar com os pés bem plantados no nosso chão, olhando para o futuro, com projetos, com esperança."
FHC participou em Guaiaquil
do segundo encontro de presidentes da América do Sul e voltou
ontem à tarde para Brasília.
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