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PERFIL
Poli e política foram duas grandes paixões
A 1ª se relaciona ao império que Setubal criou; a 2ª trouxe frustrações
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A vida pública de Olavo Setubal foi marcada por duas grandes paixões: a Poli e a política. A
primeira, por estar na origem
do império econômico que
criou; a segunda, apesar das
frustrações que lhe trouxe.
Poli é como é mais conhecida
a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, onde Setubal se formou engenheiro, contrariando o conselho paterno.
Seu pai, o poeta parnasiano
Paulo Setubal, queria que ele
fosse advogado. "O Brasil é a
terra dos advogados", disse, numa última conversa com o filho, já ciente da morte próxima,
que lhe chegaria aos 44 anos.
O argumento, no entanto,
não sensibilizou o garoto que,
nascido em 1923, tinha 13 anos.
Pouco depois Olavo começou a
fazer o curso preparatório que
o lavaria à faculdade.
Formado em 1945, deu o primeiro passo como empresário
já dois anos depois. Junto com
um colega, fundou a Artefatos
de Metal Deca, uma fábrica de
fundo de quintal. Sem dinheiro,
eles tomaram um pequeno empréstimo, em que contribuíram
em partes iguais o pai de seu sócio e o industrial Aldo Mário de
Azevedo, seu sogro.
Embora o empreendimento
tenha vingado, não foi esse o
verdadeiro embrião do conglomerado que Setubal construiria. Esse papel coube à Duratex.
Fabricante de chapas de fibra
de madeira prensada, a Duratex era uma empresa de grande
porte, tecnologicamente sofisticada, mas estava ameaçada
por dívidas e vendas pequenas.
O negócio havia sido montado por Eudoro Villela, casado
com a filha de Alfredo de Souza
Aranha, seu tio materno. Foi
Souza Aranha quem chamou o
sobrinho, dando-lhe carta
branca para salvar a Duratex.
Setubal desincumbiu-se da
missão controlando custos,
reestruturando a contabilidade
e organizando um departamento de vendas. Na seqüência, recuperou o Moinho Santista, outra empresa do tio.
Aprovado por Souza Aranha,
Setubal assumiu, no final dos
anos 50, a direção do pequeno
Banco Federal de Crédito, o
150º num universo de 200.
Nos primeiros anos, houve
racionalização contábil, aprimoramento gerencial e avanços tecnológicos, inclusive com
a compra de primitivos computadores a válvula.
O banco estava preparado
para crescer quando, em 1965, a
legislação bancária do novo regime militar pavimentou o caminho para a consolidação de
grandes grupos financeiros por
meio de fusões.
No ano seguinte, o ainda pequeno mas já eficiente BFC
comprou o Itaú, de Jorge Oliva.
Setubal contava que, no primeiro encontro que tiveram,
ele quebrou o gelo ao descobrir
que eram ambos egressos da
mesma escola. "A minha formação de engenheiro e a conversa entre dois graduados pela
Poli permitiram a fusão entre o
BFC e o Itaú."
Essa foi a primeira de uma
série de fusões, incluindo a que
absorveu o Banco União Comercial, de Roberto Campos,
um dos artífices das reformas
econômicas do governo do general Castello Branco.
Estratégia para o topo
A estratégia de Olavo Setubal
empurraria o Itaú, dez anos
após a primeira aquisição, para
a posição de segundo colocado
no ranking dos bancos privados, atrás apenas do Bradesco.
Carro-chefe da Itaúsa, um
dos maiores conglomerados financeiro-industriais do país, o
Itaú registrou em 2007 lucro de
R$ 8,5 bilhões e patrimônio líquido de R$ 28,9 bilhões.
Depois de colocar o Itaú no
lugar que ele ocupa até hoje,
Olavo Setubal interessou-se
pela política.
Sem experiência em administração pública, assumiu a
Prefeitura de São Paulo em 16
de abril de 1975 -no dia em que
completou 52 anos.
Naquela altura, em plena ditadura militar, os prefeitos das
capitais eram escolhidos pelos
governadores. Setúbal foi nomeado por Paulo Egydio Martins.
Sem voto e sem trajetória política, fez um governo que, se
não foi popular, foi bem avaliado até por críticos do regime
que ele, no nível municipal, representava.
Não realizou grandes obras,
como Prestes Maia, Faria Lima
e Paulo Maluf. Preferiu investir
em serviços, dando prioridade
a educação, saúde e transporte.
Credenciado por uma administração aprovada, Setubal era
candidato à sucessão de Paulo
Egydio em São Paulo na eleição
indireta de 1978, mas acabou
sendo preterido pelo favorito
do presidente Ernesto Geisel, o
ex-governador Laudo Natel,
que, por sua vez, seria derrotado na convenção da Arena por
Paulo Maluf.
Política nacional
O revés acabou jogando-o na
política nacional. Convidado
por Tancredo Neves, Setubal
presidiu a seção paulista do
Partido Popular, uma das agremiações surgidas com o fim do
bipartidarismo.
Formado por arenistas dissidentes e emedebistas moderados, o PP era chamado de "oposição confiável". Ou de "partido
dos banqueiros", já que, além
de Setubal, contava com Magalhães Pinto, do Banco Nacional.
O partido durou pouco. No
início de 1982, foi incorporado
pelo PMDB, com o voto contrário de Setubal. Ainda assim, a
proximidade com Tancredo lhe
rendeu a indicação para o Ministério de Relações Exteriores, cargo que ocupou no início
do governo José Sarney.
Setubal ficou menos de um
ano no Itamaraty. Deu tempo
para pouca coisa além de iniciar o processo de retomada de
relações diplomáticas com Cuba e de enfrentar interesses
americanos defendendo a reserva de mercado para o setor
de informática.
A saída precoce do governo
federal foi motivada pela ambição política. Já filiado ao PFL
(Partido da Frente Liberal, o
atual DEM), planejava disputar
a eleição governamental de
1986 em São Paulo.
O projeto, porém, foi abortado na própria legenda, que lhe
negou o controle da máquina
partidária, que ele julgava necessário para enfrentar as urnas pela primeira vez.
Decepcionado, despediu-se
da política. "Descobri que banqueiro não serve para disputar
eleição direta", comentou na
época.
"Banco vende confiança, um
produto muito volátil e que, pelos ataques de uma campanha
política, pode ser ainda mais
volatizado."
Voltou ao Itaú. Faltava encaminhar sua própria sucessão, o
que faria nos anos 90, indicando dois de seus sete filhos com
Tide de Azevedo: Roberto assumiu a área financeira e Paulo, a
industrial.
Nos últimos anos, afastado
de funções executivas, acompanhava os rumos dos negócios
e do Brasil em almoços com diretores do grupo. Aprovava a
política econômica do presidente Lula, a quem achava "extremamente conservador",
opinião que verbalizava com a
voz de baixo profundo que lhe
valeu o apelido de Trovão.
Viúvo, casara-se novamente
em 1980 com Daisy. Apreciava
viagens, mas, por conselho médico, só ia cidades com estrutura hospitalar. A limitação, porém, não era um estorvo: Olavo
Setubal gostava de flanar pelas
ruas de Paris.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha).
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