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TAM não havia desistido da Varig
até a data da venda, afirma sócio
Marco Audi diz que poderia ter vendido a companhia aérea pelo dobro
EM SÃO PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia abaixo trechos da entrevista de Marco Antonio Audi à
Folha na última sexta-feira.
FOLHA - Por que a VarigLog decidiu
vender a Varig?
MARCO ANTONIO AUDI - A gente
estava muito apertado, com
uma perna no precipício. Uma
empresa dessas, se não tiver
mais dinheiro, pára. Chegamos
à conclusão de que não tínhamos dinheiro, tínhamos de
vender. Quatro empresas tinham interesse na Varig: Gol,
TAM, LAN Chile e Air Canada.
FOLHA - E por que a Varig foi vendida para a Gol?
AUDI - A gente tinha de vender
para a primeira que pagasse, senão as duas empresas [a Varig e
a VarigLog] iriam quebrar. A
TAM precisava de mais tempo
para estudar seu interesse real
ou não, e a Gol estava pronta
para pagar. Lap Chan negociou
com o Constantino Júnior e
disse: "Vamos fechar com a Gol
mesmo". Eu falei: "Não, vamos
esperar a TAM, a gente vai vender pelo dobro".
FOLHA - E por que não esperaram?
AUDI - Os caras [a TAM] tinham pedido uma semana. Falei com ele [Lap Chan]: "Me dá
R$ 10 milhões que eu sobrevivo
esta semana". E ele disse: "Não,
vocês se viram". Ainda tentamos conversar com o Júnior,
num encontro no hotel Caesar
[em São Paulo]. Queríamos
convencê-lo a esperar o fim de
semana. Ele disse: "Eu não
agüento mais essa situação. Ou
saio daqui dono da Varig ou vocês nunca mais vão me ver".
FOLHA - Não tinha outra saída?
AUDI - Faltavam R$ 4 milhões.
Era nada perto do faturamento
dessas empresas. Mas pegar
um empréstimo assim de uma
hora para outra não é fácil. A
Shell virou e disse: "Se vocês
não pagarem até as 3h, vou parar o abastecimento".
FOLHA - O que houve para que Lap
Chan optasse por um negócio desvantajoso?
AUDI - A gente não entende o
porquê. Há várias suposições.
FOLHA - A TAM alega ter desistido
do negócio...
AUDI - Até a data da venda, eles
[a TAM] não tinham desistido.
Antes de anunciar a venda para
a Gol, nós nunca tivemos uma
negativa da TAM. Os advogados deles participaram [das negociações] naquela semana.
FOLHA - Qual foi a posição do Roberto Teixeira?
AUDI - Ele teve uma virada súbita. Primeiro ele era contra e,
de repente, está abrindo as portas para o comprador da VRG
[Audi cita a fotografia de Teixeira ao lado dos donos da Gol
no elevador do Palácio do Planalto, no dia da compra da Varig]. Vou deixar para a sua imaginação. Só que ninguém muda
de opinião assim se não tiver
um grande interesse.
FOLHA - Quando vocês contrataram Teixeira, ele se "vendeu" como
alguém capaz de influir em decisões
do governo?
AUDI - A única coisa que ele
não me falou é que ele era compadre do Lula. As pessoas até
brincam que eu sou mal informado. Fiquei sabendo que ele
era parente do Lula três dias
depois, quando saiu no jornal.
FOLHA - E o que ele falou?
AUDI - Ele disse: "Deixa comigo, tenho muita entrada no [setor] regulatório, conheço tudo
na Infraero". Esse tipo de coisa
ele vendeu". Tanto vendeu que
a gente o contratou. Ele vendeu
muito bem. Assinei contrato
com ele e tinha uma taxa de sucesso. Mas tem uma coisa que
preciso falar. O presidente é
mais uma vítima do Teixeira,
não dá para acusá-lo.
FOLHA - Como assim?
AUDI - Ele chega num servidor
público de segundo escalão e
faz aquela pressão. É assim que
se faz um tráfico indireto de influência.
FOLHA - O que isso quer dizer?
AUDI - O tráfico direto é por
meio de quem trabalha no governo. A Valeska Teixeira [advogada filha de Roberto Teixeira, afilhada de Lula] age assim:
chega perto de um funcionário
público e comenta: "Vamos para Brasília e vamos ficar na casa
do dindo [Lula]". Imagina para
um funcionário público ouvir
isso. O cara já fica tremendo.
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