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Indústria e setor agrícola lamentam fracasso na OMC
Para a Fiesp, sucesso da Rodada Doha favoreceria as reformas estruturais no país
Representantes do agronegócio observam oportunidade de "melhorias internas" para avançar no comércio internacional
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Antes um acordo modesto do
que nenhum. Dessa forma, representantes da indústria e do
agronegócio lamentaram o fracasso da Rodada Doha. Ainda
que viesse a arcar com os maiores custos do acordo multilateral, a indústria viu o impasse na
OMC como uma oportunidade
perdida para que ela própria
-com ajuda do governo- fizesse a "lição de casa" para melhorar sua competitividade.
O corte nas tarifas de importação e a inclusão de acordos
setoriais que permitissem aos
países desenvolvidos ganhar
mercado no Brasil preocupavam o setor industrial.
Mesmo assim, as concessões
poderiam significar ganho de
produtividade nos próximos
anos, à medida que tornariam a
realização de reformas estruturais mais premente, diz Mário
Marconini, diretor de negociações internacionais da Fiesp.
Julio Gomes de Almeida,
consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial, diz que "haveria um
custo grande [para a indústria].
Mas precisamos olhar para a
economia como um todo. Nesse sentido, [o fracasso de Doha]
é uma péssima notícia".
Mais reticente, o presidente
da Abinee (indústria elétrica e
eletrônica), Humberto Barbato, diz que um acordo poderia
ser "danoso" para o segmento.
O novo impasse na OMC deixou lições importantes para a
diplomacia brasileira, que acertou ao ser flexível para tentar
concluir as negociações e não
aceitar "o retrocesso" defendido por China e Índia.
Aprendizado
Uma delas: não pôr todas as
fichas nas negociações multilaterais. Segundo o presidente da
Anfavea (associação das montadoras), Jackson Schneider, o
setor precisa trabalhar em novas negociações bilaterais.
Outra lição: conhecer a opinião dos chineses, que se aliaram aos indianos num confronto que impediu ganhos, mesmo
que tímidos, para emergentes
competitivos no mercado agrícola, caso do Mercosul.
A esperança de corte de subsídios e maior acesso de produtos brasileiros em uma série de
países entram agora "numa geladeira bem grande", diz Gilman Viana Rodrigues, secretário de Agricultura de Minas Gerais e presidente da Comissão
Nacional de Comércio Exterior
da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
"Agora é olhar para a frente",
diz Pedro de Camargo Neto,
presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e
Exportadora de Carne Suína.
"O país não deveria ter deixado as negociações bilaterais de
lado", diz Cesário Ramalho, da
Sociedade Rural Brasileira.
Para Marcos Matos, da gerência de mercados da Organização das Cooperativas Brasileiras, é essencial que, quando
se retomar a pauta da OMC, se
parta do ponto em que as negociações em Genebra travaram.
Segundo Camargo Neto, o
Brasil tem como avançar com
"melhorias internas". Ele cita a
sanidade como ponto a ser trabalhado. Se o Brasil erradicar a
febre aftosa, por exemplo, terá
como acessar os mercados de
EUA e Japão para a carne "in
natura" de suínos e de bovinos.
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