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Bovespa gira seu menor volume em quase um ano
Giro médio movimentado por pregão recuou 32% do pico de maio para agosto
Saída de capital externo e
retração de investidor local
esfriam mercado de ações;
volume mensal caiu para
R$ 4,79 bilhões por pregão
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda persistente da Bolsa
de Valores de São Paulo tem sido acompanhada por uma pesada redução no volume negociado em pregão. Tanto que o
mês de agosto registrou a mais
baixa movimentação diária
desde setembro de 2007, ao
computar uma média de R$
4,79 bilhões girados por pregão.
A movimentação na Bovespa
vinha se expandindo ano a ano,
para alcançar seu pico em maio
último, quando a média diária
de ações transacionadas superou os R$ 7 bilhões. Não por
acaso, maio foi também o mês
em que a Bolsa atingiu sua máxima histórica de pontuação, ao
registrar 73.516 pontos. E muito disso foi conseqüência da euforia -que perdeu fôlego em
meio ao arisco cenário externo- causada pela obtenção pelo Brasil do "investment grade"
(grau de investimento), selo de
bom pagador das agências de
avaliação internacionais.
Em comparação ao teto obtido em maio, houve uma retração de aproximadamente 32%
no volume girado no mercado
em agosto.
Dois pontos principais explicam a retração: a saída recorde
de capital externo, que tem
ocorrido desde junho, e as incertezas quanto ao futuro da
Bolsa no curto prazo, que fizeram com que o investidor brasileiro se retraísse, à espera de
dias melhores.
"A venda pesada dos estrangeiros derrubou fortemente
muitos papéis e afetou o desempenho da Bolsa, o que assustou muita gente. Quem já
aplica na Bolsa de Valores, está
com receio [de investir mais]. E
quem pensava em entrar no
mercado acionário está esperando o cenário melhorar",
afirma José Augusto Miranda,
chefe da mesa de operações da
HSBC Corretora.
Em relação ao número de
operações realizadas por pregão, houve um recuo de quase
20% em agosto na comparação
com o mês de maio.
Após cinco anos seguidos de
ganhos na Bolsa, o mau desempenho de 2008 acabou surpreendendo muita gente. Desde 2002, quando teve perdas de
17%, a Bovespa não ficava no
vermelho no acumulado do
ano. A queda da Bolsa registrada neste ano está em 12,84%.
O pior ano da Bovespa desde
o Plano Real (1994) foi 1998,
quando seu principal índice registrou recuo de 33,4%.
"O investidor brasileiro não
tem demonstrado disposição
para entrar na Bolsa neste momento. Muito gente perdeu dinheiro em fundos de ações e
não quer aplicar mais recursos
por enquanto", diz Fábio de
Araújo, estrategista de renda
variável da Itaú Corretora.
Devido à sua expressiva participação no mercado brasileiro -respondem por 35% do total movimentado-, o retorno
dos estrangeiros é apontado como fundamental para revitalizar a Bovespa. Nos últimos três
meses, a categoria mais vendeu
que comprou ações em um
montante que ronda os R$ 17
bilhões. Ao vender pesados volumes de ações, os estrangeiros
derrubaram os preços de muitos papéis, o que afetou a rentabilidade das aplicações dos investidores locais.
Como os problemas que têm
abalado o cenário internacional -crise de crédito imobiliário, bancos com perdas elevadas, ameaça inflacionária global etc- não demonstram que
irão ser solucionados tão cedo,
uma volta expressiva do capital
externo, com potencial para
impulsionar a Bovespa, pode
demorar mais que o desejado.
Para piorar esse cenário, os
juros brasileiros estão em meio
a um ciclo de elevações pelo BC.
Dessa forma, os estrangeiros
acabam preferindo aplicar em
títulos brasileiros que rendem
juros do que em ações.
O clima menos favorável tem
se refletido também no lançamento de novas ações na Bolsa.
Após o recorde de 64 IPOs
(oferta inicial de ações) de
2007, neste ano só quatro companhias estrearam. As empresas têm preferido engavetar
seus projetos a estrear na Bolsa, com medo de uma oferta
mal sucedida por baixa demanda.
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