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Crescimento nos gastos das empresas do país se concentra em setores que importam máquinas e contratam pouco, dizem analistas
Investimento sobe, mas não puxa emprego
DA REPORTAGEM LOCAL
Dados divulgados na última semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
mostraram recuperação do investimento no país. Sinal de grandes
projetos de expansão e contratações à vista? Não, dizem especialistas e empresários.
O dado mais positivo relacionado ao desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) -2,8% de
crescimento da taxa de investimento, medida pela chamada
"formação bruta de capital fixo",
entre julho e setembro em relação
ao trimestre anterior- deve-se
principalmente ao aumento de
importações de máquinas, segundo especialistas.
Dois fatores explicam esse crescimento das compras de equipamentos no exterior: câmbio mais
favorável e sufoco de setores que
estão com sua capacidade de produção no limite, como papel e celulose e siderurgia. O volume de
importação nesses dois setores
cresceu 2,3% e 13%, respectivamente, no terceiro trimestre deste
ano em relação ao período de
abril a junho, segundo dados da
Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
"Não há nada no cenário atual
que indique retomada de investimentos no país. Eles estão ocorrendo nos setores exportadores,
que estão com a capacidade de
produção tomada", diz Fernando
Sarti, economista da Unicamp.
Em setembro, por exemplo, a
importação de bens de capital,
que engloba máquinas e equipamentos, subiu 36% em relação a
agosto. Em outubro, o aumento
foi de 54,3%. No cálculo do PIB,
isso conta como investimento, o
que, para economistas, puxou a
formação bruta de capital fixo.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), diz que os projetos de
investimento de grandes grupos
industriais continuarão engavetados até que empresários tenham
confiança de que a retomada da
economia é para valer.
Emprego
O problema, para especialistas,
é que os investimentos que já estão deslanchados estão longe de
garantir a forte expansão no nível
de emprego prometida pelo governo Lula.
Isso não significa que a criação
de novos postos de trabalho nos
setores que vêm comprando máquinas vá ser nula. Mas que a capacidade de contratação dos mesmos é limitada, já que os grandes
setores industriais são mais dependentes de máquinas para produzir do que de mão-de-obra.
O subsetor da indústria com
maior capacidade de criar empregos, a construção civil, continua
mal. Nos três primeiros trimestres
deste ano, o PIB desse segmento
despencou 7,7% em relação ao
mesmo período de 2002.
"A criação de novos empregos
vai depender da construção civil.
Sozinhos, os outros setores industriais não vão impulsionar a recuperação do mercado de trabalho",
afirma Cláudio Frischtak, presidente da InterB Consultoria Internacional de Negócios.
Por isso, economistas dizem
que o país só voltará a investir para criar emprego quando o setor
de infra-estrutura deslanchar os
seus projetos e os juros caírem para patamares mais baixos.
A recuperação do setor de serviços e da indústria de bens de consumo (têxtil, alimentos, eletroeletrônica) é outro passo necessário
para o crescimento do emprego,
afirmam os economistas.
O problema é que a retomada
sustentável desses setores depende da melhoria no nível de renda
da população, que continua em
queda. Os próprios dados do PIB
revelaram que, no mesmo período em que a taxa de investimento
cresceu 2,8%, o consumo das famílias caiu 0,2%.
Segundo economistas, é difícil
falar de início de ciclo de recuperação para valer enquanto esse indicador não melhorar. Afinal, o
consumo das famílias é responsável por 60% do PIB, enquanto a
formação bruta de capital responde por apenas 18,7%.
(CLAUDIA ROLLI, ÉRICA FRAGA e FÁTIMA FERNANDES)
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