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Lula leva apoio e crédito do BNDES a Kirchner
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha uma agenda bilateral com a Argentina, mas
vai desembarcar em Buenos Aires no domingo com duas: além
de discutir medidas práticas
entre os dois países que possam
reforçar a posição da combalida
presidente Cristina Kirchner,
começará a sondar os vizinhos
sobre a retomada de negociações Mercosul-EUA depois do
fim da Rodada de Doha.
No discurso brasileiro, o fracasso em Genebra não se deveu
à Argentina, que apresentou
uma questão pontual e não
acompanhou os parceiros de
Mercosul -Brasil, Paraguai e
Uruguai- no apoio à proposta
final. O fim das negociações
ocorreu por causa de Índia e
China, e não haveria seqüelas
entre Brasília e Buenos Aires.
A hora é de "sondagens". O
Brasil quer apurar se há disposição dos EUA de reabrir negociações bilaterais com o bloco e
também dos parceiros, além de
viabilidade técnica. Nas questões mais práticas, Lula deverá
avançar os acertos para a criação de um fundo inicial de US$
50 milhões para apoio a pequenas e médias empresas.
Também discutirá tarifas aeroportuárias especiais para
vôos entre os dois países, regulamentos mais flexíveis para
vôos regionais e tratamento diferenciado para os passageiros
argentinos no Brasil, e vice-versa. A visita começa no domingo, com um jantar com o
casal Kirchner, e se estende pela segunda-feira, com a presença de ministros, assessores especiais e, possivelmente, observadores dos países vizinhos.
A visita de Lula está sendo
vista como uma espécie de missão de paz, para aliviar as tensões pós-Genebra. Traz também uma missão de empresários, que devem fazer investimentos no país e a possibilidade de ajuda para recuperar a
companhia aérea Aerolíneas
Argentinas, recém-estatizada.
A visita de Lula será a primeira de um chefe de Estado após
uma crise de quatro meses entre Kirchner e o setor agropecuário e a grave derrota no Senado de seu projeto de aumentos de impostos na exportação
de grãos. O clima amistoso foi
abalado pelas divergências em
Doha. Para o jornal "La Nación", "talvez não fosse o melhor momento" para a visita.
Mas Buenos Aires baixou o
tom. Se dias antes o secretário
de Comércio, Alfredo Chiaradía, principal negociador argentino na OMC, dissera que a
posição brasileira "gerava tensão" no Mercosul, após o fracasso o chanceler Jorge Taiana
disse que era preciso diálogo.
"Dois países como a Argentina
e o Brasil, que participam em
todas essas manifestações em
conjunto, sempre terão um diálogo. Temos que aceitar que, às
vezes, teremos diferenças."
Segundo o jornal "Ámbito Financiero", a Argentina estaria
negociando a compra de aviões
da Embraer para fortalecer a
frota da recém-estatizada Aerolíneas Argentinas, que deixou milhares de passageiros
presos em aeroportos nos últimos dias por overbooking e falta de aeronaves.
Como a empresa tem dívida
de US$ 890 milhões e o governo não teria fundos para renovar a frota, a aquisição seria feita com empréstimo do BNDES.
O banco não comentou a notícia. O secretário de Transporte
argentino, Ricardo Jaime, viaja
ao Brasil na próxima semana
para iniciar as negociações.
Após o desentendimento em
questões de comércio internacional, a Argentina quer resolver com o Brasil uma questão
bilateral: o déficit no comércio
entre os dois. Na terça, o secretário de Indústria argentino,
Fernando Fraguío, afirmou
que apresentará a Lula proposta para reduzir pela metade, em
três anos, esse déficit, que chegou a US$ 4 bilhões em 2007.
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