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CRÉDITO
Redução foi compensada por maior retorno com operações de financiamento ao governo, por meio da compra de títulos
Bancos têm receita menor com empréstimo
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A contribuição dos ganhos com
empréstimos à população e às
empresas para os altos lucros dos
bancos diminuiu no primeiro semestre de 2003 em relação ao
mesmo período de 2002, atingindo seu menor nível dos últimos
seis anos.
Essa queda, no entanto, foi
compensada porque aumentou o
peso das receitas dos bancos com
operações de financiamento ao
governo, por meio das compras
de títulos públicos.
O movimento é resultado de
uma retração real (descontada a
inflação medida pelo IGP-M) de
15% na oferta de crédito privado
no país, entre julho de 2002 e o
mesmo mês neste ano.
Soa contraditório, porém, com
o discurso do próprio governo
petista que adotou a defesa da necessidade de aumento dos empréstimos ao setor privado como
uma de suas principais bandeiras.
As conclusões são baseadas em
levantamento da consultoria
ABM Consulting com base nos
balanços do primeiro semestre de
2003 de 27 bancos. Os dados mostram que o percentual dos retornos das instituições com operações de crédito sobre a receita financeira total (descontados o retorno com serviços) caiu de 51%
em junho do ano passado para
46% no mesmo período de 2003.
Isso representa o menor patamar
para um primeiro semestre dos
últimos seis anos.
Por outro lado, os ganhos com
operações de títulos e valores mobiliários representaram 43% das
receitas financeiras no primeiro
semestre deste ano. Esse percentual cresceu em relação aos 39%
atingidos no mesmo período de
2002 e -empatado com o resultado registrado em 2001- é o
maior dos últimos seis anos também para um primeiro semestre.
Esse cenário é consequência,
principalmente, das altas taxas de
juros que se mantiveram em
26,5% entre fevereiro e junho deste ano, maior nível atingido no
Brasil desde maio de 1999.
O arrocho monetário fez com
que a oferta de crédito privado
despencasse. Em tempos de juros
elevados, bancos fogem de empréstimos ao setor privado, principalmente porque temem o aumento da inadimplência.
Por outro lado, os juros altos aumentaram os encargos do governo com o pagamento de sua volumosa dívida pós-fixada. Os grandes beneficiados por isso foram
justamente os bancos, principais
financiadores do governo federal.
"O primeiro semestre de 2003,
em que os juros foram elevados
para combater a alta inflação, acabou dando continuidade ao cenários dos últimos anos em que os
bancos lucraram alto com operações de tesouraria", afirma João
Augusto Salles, analista de bancos
da consultoria Lopes Filho.
Crítico mordaz do governo
FHC, cuja política econômica implicou quase sempre a manutenção de juros altos, o PT acabou seguindo o mesmo rumo nos seus
primeiros seis meses de administração. A expectativa agora é que
os juros continuem a recente trajetória de queda, o que tende a
forçar um aumento na oferta crédito privado pelos bancos.
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