São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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NA PRÁTICA

Proposta isenta empresas de encargos sociais

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Poupar as empresas dos encargos sociais da contratação de doutores em departamentos de pesquisa e desenvolvimento é a proposta da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para incentivar a inovação no setor privado.
Eduardo Campos, ministro da Ciência e Tecnologia, diz que irá defender a idéia no governo para que se torne um projeto de lei.
Leia trechos da entrevista concedida à Folha por José Fernando Perez, 59, diretor científico da instituição.

 

Folha - Como anda a entrada de doutores nas empresas no país?
José Fernando Perez -
Não há números que mostrem como estamos, mas uma meta é chegar ao patamar inglês, com 20% dos doutores de áreas de relevância tecnológica tendo na empresa o primeiro emprego, em atividades de pesquisa e desenvolvimento. No Brasil, mesmo quando eles são contratados, raramente o são para isso.

Folha - O que eles fazem?
Perez -
Não trabalham na atividade para a qual adquiriram competência. Viram executivos, funcionários comuns. Empresas de biotecnologia contratam o doutor para vender produtos.

Folha - E qual é a proposta?
Perez -
Os nossos doutores não estão onde deveriam. O que estamos propondo é desonerar as empresas dos encargos sociais, especificamente na contratação de pesquisadores doutores que vão participar de projetos de pesquisa. Isso significa reduzir o custo à metade. O governo abre mão de receita sem que haja perda de direitos para o trabalhador. Outro ponto, que já está previsto na Lei do Imposto de Renda, é a contratação ser contabilizada como despesa operacional. O custo para a empresa fica muito baixo. Não vejo esse profissional ganhando menos de R$ 7.000. Deixando de custar o dobro, o resto do pessoal da equipe é praticamente custeado pela metade economizada.

Folha - Historicamente o país trata a questão como tema de ciência. Isso é um problema?
Perez -
Esse é o ponto. É uma questão dos ministérios da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento e da Fazenda.

Folha - As pessoas dizem na academia que atuar em empresa é perder em autonomia.
Perez -
Esse discurso começa a ficar superado. Inovação é algo que precisa ter valor de mercado. Defendo a liberdade de pesquisa acadêmica, mas é preciso haver a fidelidade à empresa.

Folha - Não dá para ter um pé na academia e outro na empresa?
Perez -
É preciso ter os pés, a cabeça e a alma na empresa. O problema da pesquisa na iniciativa privada é que a fidelidade do pesquisador à empresa é o que paga seu salário. A empresa investe para descobrir e lucrar.


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