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SOCO NO ESTÔMAGO
Estresse provoca azia ou gastrite em quase 30% dos executivos, diz estudo
Trabalho vive "era dos distúrbios gástricos"
TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Trabalhar sentindo fortes dores
no estômago está se tornando rotina entre profissionais de diversos setores, alertam especialistas.
Desde a sensação de "friozinho
na barriga" às vésperas de eventos
importantes até o desenvolvimento de gastrite e câncer, passando por crises de vômito após
reuniões tensas, muitos são os
desconfortos vivenciados por
quem desenvolveu distúrbios
gástricos provocados por estresse.
Considerado o "segundo cérebro" do corpo pelo médico norte-americano Michael Gershon (autor do livro "The Second Brain",
ed. HarperCollins Publishers), o
estômago é um potencial somatizador dos problemas emocionais
vivenciados no trabalho.
"Todas as emoções são refletidas diretamente nesse órgão", diz
a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Brasil (International Stress Management Association). "O famoso "frio no estômago" é uma mensagem de ansiedade enviada do cérebro ao corpo", exemplifica a especialista.
Um estudo realizado pela associação, que monitorou 790 executivos de 2000 a 2002, constatou
que 28% tinham o estômago afetado pelo estresse, com sintomas
como azia ou gastrite. Problemas
estomacais ocupavam o segundo
lugar no ranking das manifestações somáticas do estresse, perdendo só para dores musculares.
De acordo com dados de pesquisa realizada pela Federação
Brasileira de Gastroenterologia, o
problema estomacal mais sentido
entre os brasileiros que procuraram ajuda médica (em uma
amostra de 2.500 pessoas) foi a
azia: presente em 66% dos casos.
Passando ao largo das estatísticas, um grande contingente de
profissionais submetidos a sobrecargas elevadas de trabalho não
encontra tempo para se dedicar a
tratamentos e vai empurrando o
problema com a barriga -ou
melhor, direto para o estômago.
A psicóloga Catarine dos Santos, 23, é um exemplo. Acometida
por fortes dores sempre que se depara com situações de pressão e
de prazo reduzido para o cumprimento de tarefas extensas, ela já
chegou a ter de parar de trabalhar.
"Havia dias em que eu não conseguia atender ninguém de tanta
dor. Ia para o banheiro e me agachava. A sensação é horrível",
descreve. Há dois meses ela vem
"tentando" tomar a medicação
recomendada pelos médicos e fazer terapia. "Trabalho muito, mas
estou tentando me reeducar."
A administradora Carla Simi,
28, diz que desistiu de procurar
terapia e outros métodos e adotou
os remédios como alívio imediato. "Não tenho tempo. Durmo
pouco, almoço em dez minutos e
sinto dores desesperadoras. Ando
sempre com o remédio para a
gastrite e chego a tomar direto no
gargalo do vidro", afirma.
Sem remédio
Mas, para salvar o aparelho digestivo, remediar apenas não interessa, ensina o neurologista, psiquiatra e especialista em distúrbios alimentares Sidney Chioro.
"Os problemas alimentares
sempre têm um fundo emocional.
São frutos de sensações reprimidas. No trabalho, o desejo vira ansiedade, e o medo vira preocupação. Sem tempo para trabalhar essas emoções, o indivíduo as transfere para o corpo", observa.
Chioro enfatiza que o único caminho para evitar que a azia se
transforme em gastrite ou outros
males é modificar padrões antigos de comportamento. "Enquanto a emoção original não for
resolvida, o sintoma permanece."
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